Centro de Cidadania Campeche
Relação entre arquitetura e sistema construtivo
A relação entre arquitetura e sistema construtivo foi norteadora do projeto. Buscou-se a máxima expressão e variabilidade de soluções a partir de um número determinado de elementos pré-fabricados em concreto.
Optou-se pelo repertório existente no mercado, ao invés de projetar peças novas, como forma de exigir uma proposição que partisse realmente da relação arquitetura /sistema construtivo, uma vez que não seria permitida a flexibilidade de adaptações.
Entendendo-se a pré-fabricação como de suma importância para arquiteturas de caráter passível de repetição – como no caso de edifícios estruturados em rede, definiu-se como tema um Centro de Cidadania.
Esta infra-estrutura deveria ser implantada nos principais bairros de Florianópolis. O uso de um mesmo conjunto de elementos pré-fabricados e de uma mesma lógica compositiva nesta rede - além de baratear e tornar mais rápida a execução – assumiria o papel de elemento identificador entre estas edificações, percebidas como pertencentes a um todo.
Se por um lado o uso do pré-fabricado permite esta relação entre edifícios implantados em locais distintos, a lógica de composição deste adotada permite uma flexibilidade necessária à integração com o local de implantação, à incorporação das características de cada lugar.
Para tanto se trabalha com um módulo tridimensional, que composto da maneira proposta é capaz de criar diversos ambientes, sendo suficientemente adaptável às diferentes situações em que a infra-estrutura espacializada em rede estaria exposta.
O terreno
O terreno escolhido faz frente à av. Pequeno Príncipe - situado num antigo Campo de Pouso da Base Aérea que hoje é apropriado como um parque seco (onde moradores vão jogar futebol e soltar pipas).
O ensejo de que este terreno permaneça como um parque está tanto nas propostas da prefeitura quanto da comunidade, necessitando apenas de um desenho condizente com seu uso.
O local de implantação do projeto é uma porção deste terreno original que foi desmembrada. Este é compreendido como um espaço de transição entre o bairro e o parque, criando, através da mistura de usos e dos espaços públicos que conforma, uma centralidade para o Campeche.
Além desta peculiaridade quanto a relação com o parque, o terreno está próximo à única escola do bairro e o único morro do Campeche – o morro do Lampião - fecha sua visual noroeste.
O partido
O partido adotado busca responder a realidade do bairro tanto em termos de usos quanto em termos morfológicos.
O edifício é implantado conformando a av. Pequeno Príncipe e a servidão Dionízio Raphael Ignácio, contribuindo para a configuração morfológica do tecido ainda em construção.
Este edifício delimita também duas praças de caráter distintos. A primeira é de recepção, apropria-se da esquina entre a Pequeno Príncipe e a Dionízio Raphael Ignácio para a qual se abrem lanchonetes e cafés sobre a sombra de um Flamboyant. Esta praça estende-se para uma área em frente a escola que serve como local de espera antes e depois das aulas tanto para os pais quanto para os alunos. A outra praça assume caráter cultural. Em seu anfiteatro a céu aberto são possíveis as manifestações e reuniões da comunidade. O mirante nela implantado assume valor simbólico, pois além de ser a construção mais alta do bairro (caracterizando um marco visual), também materializa o desejo de visual à Ilha do Campeche percebido nas edificações do entorno.
Estas duas praças alinham-se a um eixo visual que conduz ao parque e tem como fechamento visual o morro do Lampião. A porção do terreno lindeira à comunidade é destinada à atividade esportiva e próximo à Av. Pequeno príncipe está o estacionamento. Braços de vegetação entram no terreno como extensão do parque.
A edificação proposta divide-se em duas alas com ruas internas e usos voltados tanto para esta quanto para as fachadas externas. Na ala noroeste concentram-se as atividades de mercado e comércio. Já na nordeste, estão os setores de apoio à população (como centro de saúde e usos que permitem acesso direto da comunidade à serviços administrativos e de empresas de infra-estrutura urbana) e culturais (salas para oficinas de artes, salão de festas para a comunidade e sala de jogos).
O edifício conforma o entorno com sua massa, sem perder a relação com o grão das residências do entorno. O módulo de variação escolhido (7,7m X 7,9) recupera esta escala, reforçada na variação dos telhados.
Diferentes situações são propostas como forma de possibilitar apropriações diversas: ruas internas, escadas externas passarelas que serpenteiam o projeto ora estão voltadas para a Pequeno Príncipe, ora aos espaços internos. Árvores integram-se à arquitetura procurando uma resposta fluida à realidade praiana.
Sistema construtivo
O projeto foi abordado a partir de um módulo básico de 7,9 X 7,7m inserido em malha de 3,95X7,7m.
As soluções construtivas adotadas foram no sentido de viabilizar ao máximo a execução a seco da edificação, explorando assim a possibilidade de canteiro de obra limpo permitido pela pré-fabricação.
Utilizou-se tanto a tecnologia de elementos pré-fabricados leves (nas vigas e nos pilares), quanto pré-fabricados pesados (lajes alveolares, escada paralela, pilares do mirante). Os fechamentos verticais são em GFRC e os verticais com lajes alveolares que são protegidas com cobertura metálica (evitando, assim, a necessidade de impermeabilização).
ficha técnica
Autores
Beatriz Francalacci da Silva, Elizângela Martins de Almeida, Gisela Barcellos de Souza
Orientador
Enrique Hugo BrenaCo-orientador
Eduardo CastellsConsultor
Rommel GirãoUniversidade Federal de Santa Catarina