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PORTAL VITRUVIUS. Concurso Cultural Morar na Metrópole. Projetos, São Paulo, ano 05, n. 053.02, Vitruvius, maio 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.053/2484>.


O homem da natureza + a natureza do homem

O conceito

A idéia de se expressar uma necessidade e um desejo que deu origem a esse projeto. A primeira representada pela idéia elementar de abrigo, do homem que vive e habita um espaço, precisando da proteção e acolhimento que este deve lhe proporcionar. A segunda, traz o homem contemporâneo que, mais no do que nunca, tem um universo próprio, criado à sua maneira e, que busca satisfazer todas suas vontades e desejos num mundo frenético e inconstante de que hoje fazemos parte.

Representando esse anseio, adotamos para a concepção do projeto, uma apropriação do espaço que acontece através da pixelização deste. Através de uma malha e de um módulo, o píxel, todo o projeto se desdobra, criando uma interface dinâmica entre o todo e cada uma das partes.

O píxel representa, metaforicamente, essa natureza do homem, definida pela tecnologia digital, pela comunicação e pela informação, assim como pela imagem e o conteúdo iconográfico que esta pode produzir. Um módulo mutante, que possibilita a criação de um espaço que pode assumir uma infinidade de naturezas.

O projeto é dividido em três escalas:

Escala A – a metrópole

Estudando a localização do terreno e levando em consideração sua inserção na malha urbana, torna-se indispensável uma leitura mais ampla, fazendo-o com que se envolva se interaja com toda a metrópole da qual faz parte.

A metrópole da qual falamos é aquela que possui uma poética urbana, intensamente presente nesse local através da linha férrea. Esta traz uma série de referências para se pensar o lugar. A história está presente neste projeto através da referência à natureza que um dia ali existiu quando a várzea do rio Tietê ocupava seu espaço natural, assim como a presença de uma espécie de “galpão” (pórtico de acesso ao subsolo) que retoma o aspecto das indústrias que tanto definiu a imagem da cidade. Junto a isso está a idéia de se representar os movimentos e as velocidades que caracterizam a cidades hoje. Através da barra de lazer e serviços se traduz uma estética urbana, feita para ser vista pela rápida velocidade dos meios de transporte. O marco vertical resume toda essa leitura urbana, trazendo para um local de pouca identidade, assim como para as pessoas que ali transitam, um símbolo que a noite torna-se um farol urbano, referenciando a história, a velocidade e o lugar.

Escala B – o local

O espaço que o arquiteto pensa, na verdade, não é exatamente o construído, o material, mas sim o que fica entre esses elementos, o vazio. É desse modo que acontece a implantação deste projeto. Utilizando-se de uma topografia operativa, ou seja, aquela criada para servir as funções do homem, cria-se um espaço natural, um micro-ambiente na cidade repleto de verde, tornando-se até mesmo um lugar bucólico. Uma paisagem constituída pelo vazio, pelo espaço existente entre as árvores, assim como pelas casas, que se implantam do mesmo modo que a vegetação. As unidades tornam-se árvores, dado origem um espaço “entre”, onde tudo acontece.

Através de um eixo principal de circulação, definido pela imensa árvore hoje lá existente e único elemento significativo do terreno, uma alameda é criada percorrendo toda a área de habitar até chegar na barra que margeia a linha de trem que protege todas as residências do ruído e movimento que ali acontecem.

Acima de tudo isso está uma grande cobertura metálica, totalmente elaborada como uma tela de pixels, dividida em módulos de 1, 3 e 6 metros. Esta unifica todo o conjunto de 33 unidades habitacionais (12 de 60 m², 9 de 90 m² e 12 de 150 m²), gerando uma série de diferentes espaços, dos fechados aos totalmente abertos, dependendo da função a ser abrigada. Seu aspecto pixelizado gera um cenário inusitado através do acontecimento de luzes e sobras inesperadas e diferentes a cada hora do dia.

Escala C – as unidades

A idéia do “habitar“ sofreu muitas modificações nos últimos tempos. A funções elementares (social, íntimo e serviço) continuam presente, porém, sua essência hoje se encontra na fusão do abrigo e do desejo.  Desse modo,  interpreta-se as unidades através de três objetivos principais. O primeiro é o da tecnologia, seja a da construção ou da informação.  Da casa acessa-se o mundo, tornando-se um pleno meio de comunicação, principalmente pela Internet. Para isso as unidades criadas são definidas por uma parte material, e outra desmaterializada, sendo esta constituída por uma membrana digital de cristal líquido que pode assumir as mais diversas características, desde texturas e imagens ou de transparência e opacidade total.

Temos também a preocupação com o meio ambiente, tendo em suas coberturas a possibilidade de captação de luz solar e sua transformação em energia. Por fim, temos a grande qualidade das unidades aqui pensadas: a multiplicidade de espaços e de formas de ocupação. Funcionando como um mecanismo que se abre ou se fecha, podemos ter uma casa onde os espaços são claramente definidos, assim como podemos ter um único espaço, dependendo do desejo do homem que ali habita. A não compartimentização do espaço é plena, possibilitando uma infinidade de formas de ocupação, que o homem pode resumir num simples abrigo, onde dorme, trabalha, se diverte ou num espaço onde a busca de todos os seus desejos e vontades, torna-se totalmente possível pela espacialização de suas duas naturezas: a da qual faz parte e daquela que ele mesmo criou.

Situação urbana

A segunda etapa do Concurso Morar na Metrópole – São Paulo 450 anos apresentou-se como mais um grande desafio: demonstrar que um projeto de intensa vanguarda arquitetônica é possível de ser executado em sua plenitude, tanto do que diz respeito à sua relação com cidade e seu funcionamento, assim como à tecnologia da qual se apodera para sua realização.

O projeto consolida-se como um conjunto de residências, um condomínio, mas que se distingue completamente do que hoje se presencia na cidade. A proposta em si assume uma postura definitivamente urbana, se comunicando e se interagindo com a cidade, diferentemente do aspecto “carcerário” que tanto caracteriza o lugar de morar hoje na metrópole.

As distinções de espaços públicos e privados acontecem de maneiras muito mais fluidas e não tão arredias como na maioria dos casos. A fusão entre cidade e propriedade é presenciada através de elementos arquitetônicos – guarda corpos, balanços do deck de circulação, projeção da cobertura – e principalmente através dos elementos paisagísticos como o porte da vegetação e a topografia criada exatamente para essa função, a de separar os espaços interiores do exterior, chamada assim de “operativa”, atuando como um elemento que insinua a natureza dos espaços, hierarquizando as funções e atuando principalmente através da percepção do indivíduo, dispensando o caráter de um obstáculo puramente visual e físico, acabando por não separar os lugares e sim de isolá-los.

Por essa busca de integração com a cidade que o projeto configura-se com as diferentes paisagens lindeiras, desde o pequeno gabarito de suas unidades dialogando com as tipologias do local em que está inserido, assim como com a escala metropolitana através da expressiva fachada voltada para a linha férrea, elemento que cruza toda a metrópole.

Do mesmo modo, a relação com o entorno não ocorre apenas no que se refere à paisagem urbana. Suas funções também são atadas. É o caso do aproveitamento máximo do terreno onde o projeto se desenvolve, visando uma preocupação com o mercado que viabilizaria tal execução, aproximando-se o quanto possível de seu potencial construtivo. Para tal, as áreas livres, ainda que generosas, não são caracterizadas como um parque, mas sim como um espaço privado de lazer e atividades que se destina a seus moradores. Isso se justifica pela existência de uma possível conexão com a enorme praça ao lado do terreno, constituindo-se quase como um parque, que deveria servir a toda a vizinhança, mas que se encontra atualmente descuidada e subutilizada.

Assim, é de essencial importância a preocupação de apresentar-se novas alternativas para o “morar” na metrópole, a fim de despertar novos rumos ajudariam a reconstituir a tão difamada paisagem urbana paulista.

Técnicas construtivas

Visando sempre o desenvolvimento das técnicas e a utilização de seus mais recentes avanços, simultaneamente, essa proposta une elementos de extrema vanguarda, alguns ainda em experimentação, e outros que há muito já fazem parte do cotidiano da construção civil contemporânea.

O maior exemplo dessas tecnologias experimentais é membrana digital de cristal líquido proposta como um dos fechamentos das unidades de habitação. Já há alguns anos esse recurso encontra-se em intensa pesquisa no exterior, tanto por escritórios de arquitetura quanto por técnicos e cientistas, tendo-se exemplos já construídos, mas ainda não atingindo o mercado de maneira plena.  No entanto esse é um recurso totalmente simulável através de projetores de vídeo, que possibilitam a projeção de imagens em grandes superfícies.

 

No que se refere às técnicas comuns existentes, o projeto adapta-se ao maxímo à produção industrializada, principalmente devido à utilização em grande escala do aço, cultura que atualmente busca firmar-se em nosso país, estando presente em quase todos os elementos do projeto, desde os caixilhos até o sistema estrutural.

Isso possibilita uma simplicidade, rapidez e economicidade na execução dessa proposta, tornando-a cada vez mais viável pela sua identificação com da produção industrial civil.

Sustentabilidade

Sustentabilidade é um fator aqui tratado da forma que se espera em qualquer projeto, de maneira natural e em conjunto com todas as demais áreas de intervenção do projeto, como arquitetura, estrutura, hidráulica, elétrica e etc.

Quanto a coleta e ao reaproveitamento de água pluvial, seu reuso para atividades específicas como rega de plantas e limpeza de áreas comuns é possível devido a existência de um tanque de coleta na cobertura da barra de serviços e lazer e a uma rede interna que direciona a água para reservatórios subterrâneos.

A luz solar também é utilizada como fonte de energia elétrica através de placas fotovoltaicas, posicionadas ao longo de todo o eixo principal da cobertura, onde também desempenham o papel de brises horizontais voltados para a fachada norte, de maior incidência de radiação solar, assim como na cobertura das casas de dois pavimentos (unidades de 150 m²). Toda essa energia é utilizada em todo o conjunto e não apenas nessas unidades habitacionais.

O lixo já previamente separado nas residências é depositado em diferentes receptáculos, para que seja feita a coleta pela prefeitura, facilitando assim o processo de reciclagem.

Além destes aspectos técnicos a questão da sustentabilidade se encontra  também no partido do projeto, desde a unidade habitacional, passando pelo conjunto, até sua relação com a cidade, pois muito mais que habitações, o projeto possui detalhes que juntos cumprem seu papel urbano e humano. Detalhes como o eixo de circulação adotado a partir de um marco natural que é a monumental árvore situada na rua Garibaldi; como a questão do uso à margem da linha do trem, onde a barra de serviços e lazer serve tanto como barreira sonora  como marco visual para os passageiros dos trens que por ali passam; e por fim a dicotomia entre uma área livre e verde que é a praça Nicolau de Moraes Filho e uma adensada, mas verde também área de habitação que é nossa proposta.

Tudo isso ajuda a transformar o projeto em um espaço sustentável das mais diversas maneiras, atuando não somente de maneira a utilizar técnicas e elementos tecnológicos, mas também qualidade na permeação do projeto com o seu entorno imediato e com a cidade.

Execução

O processo de execução da obra subdivide-se basicamente em duas partes. A primeira, trata-se da preparação do terreno para que este esteja adequado a iniciação da segunda fase, a execução das unidades.

A partir do terreno analisado e implantado conforme normas municipais, inicia-se a demarcação uma “malha” de 3X3 metros, que estruturará toda a execução do projeto. Analisado o tipo de solo, loca-se a fundação, iniciando também o deslocamento de terra para a construção do estacionamento a meio nível. Concluído a construção das paredes estruturais em concreto no subsolo, bem como os pilares (malha 6x6m) e as vigas de concreto que apoiarão as respectivas lajes, impermeabilizando-as com fiber e posteriormente recobrindo com a terra deslocada.

Inicia–se assim a segunda fase do processo de execução da obra. Paralelamente a construção da barra de serviços. Prepara-se uma base em concreto sobre os apoios da estrutura subterrânea para o processo de implantação das unidades habitacionais. Concluída a cura desta, chumbam-se perfis metálicos(.08X.10) em aço e conectores que apoiarão os quatro perfis ”H” (.20x.20), constituindo a estrutura principal. Nestas serão apoiadas externamente, terças metálicas (.08X05) que fixarão as telhas termoacústicas e, internamente, as placas de gesso e sarrafos metálicos laterais e do forro da cobertura. Concluindo o fechamento das unidades, as duas peles são apoiadas nos montantes estruturais, a membrana diretamente no montante e os vidros da caixilharia nas presilhas, restando assim os acabamentos, mobiliário e instalações técnicas (elétrica, hidráulica e específicas) no interior da unidade.

Toda a proposta de execução deste projeto, foi baseada nos melhores parâmetro possíveis, seguindo diretrizes do próprio edital do concurso. No entanto seus custos e valores são facilmente variáveis e adaptáveis perante as distintas possibilidades de execução construtiva, exatamente por sua simplicidade e exeqüibilidade técnica.

ficha técnica

Autores
Dani Hirano, Daniel Corsi, Danilo Terra (São Paulo SP)

Orientador (2ª. Fase)
Mario Biselli

Consultoria Estrutural
Eng. Chingo Yamamoto

Maquetes Físicas
Leon Richard Benkler

Orçamentos
Quantum Consultoria

source
Equipe premiada
São Paulo SP Brasil

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053.02 Concurso
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original: português

source
Lívia Pedreira
São Paulo SP Brasil

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053.01 Concurso

Concurso de Idéias de Arquitetura na Rede

053.03 Profissional

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