1. Introdução
Nossa proposta para a UFABC apóia-se nos seguintes pontos, que consideramos fundamentais:
- Integrar o Campus ao entorno imediato, revertendo a situação de enclave urbano na qual a área se encontra atualmente;
- Organizar os grandes fluxos de usuários que transitarão diariamente pelo Campus, dando privilégio ao pedestre sobre o automóvel;
- Criar uma paisagem rica, composta por diversos espaços de encontro e de animação;
- Mitigar o impacto físico da implantação do Campus, criando áreas de amenização nas suas interfaces com a malha urbana;
- Empregar tecnologias de construção de ótimos desempenho e relação custo-benefício;
- Empregar soluções de projeto que permitam a acessibilidade universal dos usuários.
2. Concepção geral
Partindo do pressuposto da necessidade de reintegração da área à malha urbana face às complexidades adjacentes (Rodovia dos Estados, Rio Tamanduateí), e da opção pela preservação e reciclagem da construção principal do antigo Matadouro Municipal, propomos a criação de dois grandes eixos organizadores do projeto: norte-sul e leste-oeste. O primeiro conecta as porções da malha urbana imediatamente ao norte e ao sul da área, criando para o cidadão uma alternativa de circulação peatonal pública completamente livre de obstáculos; materializa-se pela proposição de uma passarela suspensa que atravessa todo o Campus. O segundo eixo é definido pela análise da posição do Matadouro e da sua desejável integração com um grande espaço de convívio no núcleo do Campus. Dessa maneira, o eixo setoriza a área em duas porções: os Setores de Ensino/Institucional (ao norte) e de Convívio/Apoio (ao sul), e toma corpo através de uma grande marquise que interliga o Campus de leste a oeste.
Os edifícios que compõem o Campus voltam-se para a Praça Central, formando um espaço de convívio e encontro. Através deste os usuários da universidade poderão circular entre as edificações sem cruzar fluxos de veículos. Toda circulação veicular ocorre na periferia da área, alcançando os bolsões de estacionamento posicionados na superfície ou construídos em lajes, aproveitando a topografia íngreme da porção noroeste do terreno, sob os Blocos Didáticos, a Residência Estudantil e o Centro Cultural.
As áreas de interface com os principais elementos urbanos (Rua da Abolição ao norte e Avenida dos Estados ao sul) abrigam parques lineares ou áreas de preservação permanente. No primeiro caso, propõe-se a manutenção das espécies de porte aliada à adição de novas concedendo à Rua da Abolição um eixo de animação arborizado dotado de equipamentos urbanos. Ao sul, a faixa de APP ao longo do Rio Tamanduateí é privada de construções e transformada em outro parque linear interno ao Campus.
3. Zoneamento e permeabilidade espacial
Os eixos propostos organizam a implantação em dois grandes compartimentos: Setor de Ensino/Institucional e Setor de Convívio/Apoio.
Ao Setor de Ensino/Institucional correspondem os Blocos Didáticos, que congregam os Centros de Ensino e Pesquisa, a Reitoria e a residência estudantil.
No Setor de Convívio/Apoio localizam-se áreas de extensão (Núcleos de Apoio), de apoio didático (Biblioteca), e de suporte da vida acadêmica: Centro Cultural, Centro Esportivo e Refeitórios.
A estas áreas atribui-se distintos graus de permeabilidade espacial:
– Centro Cultural (cinemas, teatro): uso público, acesso irrestrito
– Praça central, Centro Esportivo, Refeitório: uso privativo, acesso controlado, domínio visual público
– Blocos Didáticos, Reitoria: uso privativo, acesso controlado
4. Circulações
Como mencionado, a circulação veicular restringe-se à periferia do Campus. Criamos uma via perimetral que serve a todos os edifícios, dando acesso aos estacionamentos, e elimina cruzamentos indesejados com pedestres.
O acesso veicular principal dá-se pela Avenida dos Estados, onde também se efetua a principal saída de veículos. Propomos uma saída secundária para automóveis junto da Rua Oratório e, ainda, um acesso de veículos de serviço através da Rua Santa Adélia.
Os acessos peatonais prioritários são através da Rua da Abolição e da própria Avenida dos Estados. Ambos formam as extremidades da passarela elevada que constitui um dos eixos estruturantes do projeto, área de circulação completamente livre, permitindo que a população do entorno cruze o que seria de outra forma um grande enclave urbano. Na extremidade sul deste eixo a passarela avança sobre o Rio Tamanduateí, permitindo uma importante conexão dos pedestres a ambas as margens do mesmo – e ao compartimento urbano oposto ao da UFABC.
5. Fases de implantação
Face ao limite da dotação orçamentária federal estabelecida no Termo de Referência, propomos que as obras da UFABC sejam implantadas em duas etapas. Este faseamento prevê a implantação inicial de cerca de metade das áreas didáticas de cada um dos Centros atrelada à execução da parcela de estacionamentos cobertos e habitação estudantil correspondentes, além da Biblioteca, da Reitoria e do Refeitórios e Centro Esportivo.
Na segunda fase será implantado o restante das áreas didáticas e os correspondentes estacionamentos, assim como o Centro Cultural e os Núcleos de Apoio e Auditórios.
6. Metodologia construtiva
Propõe-se, via de regra, que os edifícios sejam executados empregando-se lajes de concreto protendido nervuradas, sistema que conjuga boa relação custo-benefício, permitindo atingir vãos significativos, boa velocidade de execução e controle de qualidade.
No caso dos Blocos Didáticos, os fechamentos externos serão compostos por painéis pré-fabricados, que congregarão, à sua vez, a vedação externa, a esquadria e o elemento de proteção solar adequado. A velocidade de execução é incrementada significativamente, assim como a racionalização da obra e o seu controle de qualidade.
Todas as edificações propostas têm como medida base o módulo de 125 centímetros, o que permite a coordenação do lançamento das estruturas, das paredes e dos montantes de esquadrias com elementos como divisórias, forros e equipamentos de iluminação. A ordenação destes elementos também é fator que contribui para a racionalização da construção.
Propomos que a reciclagem do edifício que fora o Matadouro Municipal abrigue a função dupla de sede do Centro Esportivo e do Refeitório. O caráter da intervenção tem como diretriz a preservação da edificação principal com a adição de elementos modernos que abrigam as funções de infra-estrutura necessárias aos usos propostos (cozinha e instalações sanitárias para o Refeitório e vestiários para o Centro Esportivo). Estas construções têm o caráter de autonomia estrutural em relação ao edifício existente Desse modo, as características espaciais originais da edificação são amplamente preservadas, sendo que, quando necessária a divisão entre compartimentos, esta se dá através de painéis leves com altura limitada à linha inferior das tesouras da estrutura de cobertura. Aberturas efetuadas nas paredes cegas remanescentes da exclusão das construções anexadas ao longo dos anos permitem maior integração do edifício ao seu novo entorno. Do mesmo modo, aberturas zenitais trazem luz para os ambientes dos novos usos propostos para o edifício.
ficha técnica
Autores
Arquitetos Ricardo Alberti/Boris Madsen Cunha
Empresa
AC Arquitetos
Colaboradores
Alvaro Luque, André Prevedello, Dario Durce, Marcos Oliveira