Memorial
A Universidade como lugar de formação, conhecimento e difusão cultural deve se conformar em espaços que favoreçam o encontro e a convivência – educação é uma atividade social.
O novo campus da UFABC, inserido no perímetro do macro “Projeto Eixo Tamanduatehy”, se configura como instituição social e urbana que, pela sua propositura, é também pública.
A prerrogativa de ser qualificador de um território fragmentado pelo rio e pela estrada de ferro conduz a um projeto que estabeleça com o tecido da cidade e suas infra-estruturas de transporte, comunicação e serviços, relação direta, fluída e conseqüente.
Partido
O partido arquitetônico se define por quatro linhas de edifícios que, escalonados sobre duas lajes e o chão (níveis naturais), se sucedem frontais à Avenida dos Estados. Conformados ao entorno de uma Praça Congregadora e de duas Ruas Internas de circulação, abrigam as diversas atividades do campus e recebem, como parte do “Projeto Eixo Tamanduatehy”, as áreas verdes do parque linear.
Duas lajes e o chão
Uma laje elevada, à cota 752.00, respeita o nível médio da Rua da Abolição e estabelece com essa parte da cidade uma relação visual direta. Solta dos limites do terreno, permite a manutenção e o reforço da vegetação existente nos taludes que acompanham toda a linha da rua.
Um eixo de circulação, marcado na continuidade da Rua Frei Caneca (perpendicular à Rua da Abolição), transpassa a Praça Congregadora e se transforma em generosa passarela que conecta as duas margens do Rio Tamanduateí. Ao potencializar os acessos pela Avenida dos Estados e receber os percursos de pedestres a partir da estação ferroviária e terminal de ônibus, rompe com a intransponibilidade do rio e fortalece a relação biunívoca entre o campus e a cidade.
Dessa laje receptora dos fluxos urbanos partem as duas ruas internas de circulação que conduzem, por escadarias intercaladas por nichos de bancos, a uma segunda laje, à cota 748.00 e, na continuidade, aos níveis naturais do terreno (cota base 744.00). Esses percursos seqüenciais permitem os acessos, por níveis variados, aos edifícios que conformam o campus.
Os estacionamentos, sob essas duas lajes, têm comunicação setorial e direta com edifícios. Sem causar impacto visual ao conjunto edificado, respondem às necessidades de vagas requeridas.
Nesse contexto, os espaços vazios, tratados como não intersticiais ou residuais, definem, juntamente com os edifícios, um espaço urbano variado, diversificado e denso de potencialidade para captar e fluir os mais diversos acontecimentos.
Quatro linhas de edifícios
Linha 1 - Biblioteca/auditórios
Frontal à Avenida dos Estados um corpo semi-enterrado abriga o Núcleo de Informação/Biblioteca e os Auditórios. Sua cobertura em laje-jardim permite que o Parque Linear prolongue suas áreas verdes.
A biblioteca e os auditórios se abrem para a placidez de um espelho d’água que define, como barreira sutil, os limites entre os espaços da Universidade e aqueles do parque público.
Aflorando da laje-jardim, uma sequência de lanternas envidraçadas reforçam a iluminação natural interna. A noite, como corpos lúdicos luminosos, se destacam na paisagem do parque.
Com seu acesso pelos ambientes da Universidade, o Núcleo de Informação/Biblioteca também se abre, convidativo, para o Parque Linear, enfatizando a dimensão pública do conhecimento.
Linha 2 - Docentes/discentes
Faceando o espelho d’água, uma sequência de quatro edifícios abriga os espaços para docentes e as atividades de ensino, pesquisa e extensão. À cota de nível 752.00 localizam-se os acessos principais para o Centro de Matemática, Cognição e Computação e áreas do Corpo Docente e Núcleos de Apoio.
Na continuidade de uma rua interna, à cota 748.00 estão os acessos para o Centro de Ciências Naturais e Humanas, e à cota do chão (744.00), para o Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas.
Os edifícios, com lajes livres intercaladas por módulos de sanitários e circulações verticais, se oferecem flexíveis às diversas conformações de espaços. Mesmo que resguardados em suas atividades autônomas, esses espaços se interpolam e se sucedem, favorecendo a integração das partes. Seus anfiteatros e salas de aula para 60 pessoas, nos pavimentos inferiores, podem ser utilizados indistintamente por todas as unidades.
Um conjunto contínuo de caixilhos sobrepostos por brises em malha de aço filtra a luz e protege seus ambientes internos.
Como que compondo um único corpo conectado por pontes entre seus vazios, uma cobertura contínua unifica esses edifícios de marcada horizontalidade.
Linha 3 – Administração/cultura/convivência/esportes
Na sequência paralela dos edifícios acadêmicos, entre as duas ruas internas e definindo os espaços da Praça Congregadora, se conformam dois edifícios:
1. Edifício do Teatro, Convivência e Administração
2. Edifício dos Cinemas e Esportes
O Teatro Universitário, com capacidade superior a 600 lugares, tem seu foyer à cota 757.00. Dotado de boa infra-estrutura de bastidores, acessos e serviços, sua conformação conveniente de teatro italiano permite que receba todo tipo de espetáculos e manifestações artísticas.
Sob o foyer do teatro e aberto aos acontecimentos da Praça Congregadora, uma área de convivência coberta abriga lojas, bar e café.
Na face oposta à Praça Congregadora, junto à caixa cênica do teatro, o corpo administrativo se desenvolve em três pavimentos.
Dando unidade compositiva ao edifício, seus panos envidraçados, são protegidos pelo sistema de brises metálicos.
As salas de cinema, desenhando o envoltório da Praça Congregadora, se perfilam entre os desníveis das duas lajes alçadas.
Na seqüência das salas de cinema (frontais à praça e, consequentemente, à área de convivência), se assentam no terreno natural duas quadras poliesportivas e uma piscina semi-olímpica. Sobre os vestiários, dois pavimentos abrigam uma academia de ginástica e o espaço para atividades esportivas diversas (judô, dança, etc.). Um sistema de “sheds” na cobertura dessas áreas oferece boa iluminação com controlada incidência direta do sol.
A piscina externa de recreação e as quadras descobertas, envolvidas por arborização de sombreamento, concluem o centro esportivo da universidade.
Linha 4 - Alojamentos/refeitórios
Frontais à Rua da Abolição, os refeitórios e os alojamentos para estudantes concluem a sequência de edifícios do campus.
Composto por um corpo único, o edifício de alojamentos se subdivide em três alas. Seus acessos independentes possibilitam, se necessário, sua ocupação setorial ou segregada (homens, mulheres e casais).
Os alojamentos, escalonados ao longo de uma rua interna, possuem unidades para duas pessoas. Cozinhas coletivas em todos os pavimentos, assim como áreas comuns de convivência, jogos e serviços, complementam as necessidades de quem habita.
ficha técnica
Autores
Lilian Dal Pian e Renato Dal Pian
Colaboradores
Pablo Chakur, Gabriel Arruda Bicudo, Filomena Piscoletta e Eleutério Mamoré