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PORTAL VITRUVIUS. Concurso Internacional para Projeto Arquitetônico do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Projetos, São Paulo, ano 09, n. 106.02, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/09.106/2978>.


Memorial

A Ciência como instituição e razão deste projeto, torna possível revelar de maneira excepcional a relação do Homem com a Natureza. E se nessa relação, de um lado a Ciência se ocupa com a compreensão do existente, a Arquitetura lida exatamente com o que ainda não existe: apresenta-se como uma oportunidade de expressão do Homem e de sua criação, originando um fenômeno próprio. Diante disso, duas condições absolutas se apresentam: a situação geográfica singular onde será implantado o projeto e a instituição universal a ser manifestada.

Um museu como fenômeno, um fenômeno como paisagem.

Primeiro, o lugar nos mostra ser imprescindível que a relação entre o novo museu e a paisagem origine um acontecimento de escala territorial. O novo museu deve tornar-se um marco no horizonte como um fato geográfico. Um museu que observa e é observado. Um edifício que se revela e origina uma nova relação entre Homem e Natureza, Arquitetura e Paisagem.

Segundo, é determinante que o novo museu deva, acima de tudo, enaltecer o valor da instituição através de sua arquitetura, ser a ciência em si mesmo. O novo edifício deve revelar esse aspecto, ser único e não ser apenas uma construção comum.

Simultaneamente o novo edifício busca em seu desenho a metáfora primeira entre a dimensão infinita do universo e a propriedade humana de compreensão da realidade através da Ciência: intervenção e paisagem, verticalidade e horizontalidade, interior e exterior, luz e sombra, cosmos e indivíduo. A arquitetura como ato determinado da manifestação humana, um instrumento científico de aprendizado e identidade para divulgação da Ciência. Desse modo, revela-se incontestável e determinante a síntese da significação do Museu e sua atuação no território.

Partido / Implantação

O projeto para o Museu de Ciências tem em sua essência possibilitar uma infinidade de impressões e compreensões a partir de inúmeras escalas e distâncias. A relação dos usuários com o novo Museu acontece através de um processo de descobrimento e conhecimento progressivo. É esta experiência que gera uma relação contínua e inseparável entre exterior e interior. Desde o princípio as sensações e impressões provocadas devem ser capazes de conduzir um visitante estimulado ao interior do museu, buscando transformar sua intuição em compreensão. A experiência do exterior do edifício deve conduzir a uma seqüencia do que foi apreendido fora e levar a um interior que o inspire ainda mais, mantendo-o sempre conectado à experiência que o trouxe até lá.

A estratégia de implantação busca a predominância da paisagem a qual o museu se soma, contemplando três escalas diferentes: o entorno, o campus e o usuário. O projeto se insere no terreno através de um volume horizontal no eixo Norte-Sul que se acomoda na topografia e cujo ponto mais alto coincide com cota da praça existente, mantendo intacta e potencializando a apreensão do visual panorâmico em toda sua extensão; este mesmo volume se verticaliza e acaba por pontuar o lugar, inaugurando um novo acontecimento no contexto atual do Campus da UNICAMP e da Região Metropolitana de Campinas, sendo visível em um extenso raio formado por cidades, rodovias e equipamentos. No entanto, somente no conhecimento de seu espaço interno é que essa relação entre elemento horizontal e vertical é plenamente conhecida e entendida.

O novo museu está contido numa única faixa onde o programa se distribui em espaços e momentos espaciais distintos. A chegada dá-se através de um grande balanço estrutural que leva o visitante à praça/rampa descoberta de acolhimento e acomodação de grupos antes do acesso ao interior do museu: um espaço que, por sua configuração e dimensões, caracteriza-se pela multiplicidade de usos que pode abrigar e uma grande quantidade de usuários.

A partir das áreas de acolhimento, externa e interna, se acessa os espaços públicos em dois níveis distintos. Pelo nível principal, que mantém o usuário sempre visualmente em contato com o exterior, todos os usos de acesso livre (Loja, Biblioteca, Café do Por do Sol e Observatório) e, após o controle de área paga, os espaços de Exposição Temporária e Permanente. A partir desse nível o novo museu também se conecta com as edificações antigas que fazem parte do programa solicitado. Pelo nível inferior se chega à Exposição Multimídia, Auditório e Ateliers de Ciências. Na parte sul do terreno localiza-se o acesso técnico ligado diretamente às docas de Recepção e Armazenamento, bem como acessos técnicos controlados às salas de exposições.

Cada um dos espaços e atividades do programa é dotado de características que os identificam. A Exposição Multimídia, preparada para abrigar a NanoAventura, se configura como um volume que perfura o museu e faz com que seja presente ao longo do percurso interno. Além disso, é acessado por um caminho que remete à ligação do museu com a terra, enquanto o Observatório, localizado no topo do volume vertical, remete diretamente à dimensão espacial. As construções existentes (Praça Tempo-Espaço e Oficina Desafio) são incorporadas através de seus usos e de conexões com a área de acolhimento e cobertura da nova construção, formando uma cota superior de museologia a céu aberto. As expansões previstas se localizarão em volumes na porção oeste do terreno, em cota inferior, não interferindo na volumetria principal, possíveis de serem acessadas separadamente. O agenciamento dos espaços livres se faz por controles que delimitam áreas de atividades que podem ser abertas autonomamente: nível superior e nível inferior no Museu, Oficina Desafio e Áreas Exteriores, sempre assegurando a total segurança do edifício.

Museologia / Circulação

O edifício do museu se oferece como potente experiência didática da instituição, buscando a imprescindível interação entre arquitetura e a museologia do conteúdo abrigado: uma síntese entre ambos, o museu é uma construção e deve expor-se como tal, assim como a ciência se dá ao conhecimento através da experiência do real. A liberdade dos diversos deslocamentos possíveis vislumbra espacialidades e sensações variadas, configurando um processo de construção do conhecimento através das emoções que o visitante vai vivenciando ao logo de seu movimento pelo espaço. Ensinar através da arquitetura do Museu e, tendo-o como instrumento didático, torná-lo um estímulo fundamental para o visitante perguntar-se sobre o mundo.

Uma concepção de percurso “científico” inicia-se mesmo antes da chegada ao Museu quando, a partir do primeiro contato visual com o edifício, uma leitura (a priori) ocorre através das sensações provocadas por suas características externas, estimulando perguntas e indagações sobre sua natureza e se transformando num entendimento parcial à medida que se aproxima da construção. Num segundo momento, o percurso pelo interior do Museu (conhecimento) se revela como elucidação e compreensão do que havia sido observado antes. Um trajeto de emoções singulares e progressivas capaz de estimular a percepção do usuário enquanto este interage com o interior do Museu. Desvendando a natureza e a forma do edifício pela transição entre espaço interno e externo da praça de chegada, o acesso ao volume horizontal do museu é envolvido pela luminosidade controlada e dinâmica dos fechamentos, o espaço imersivo da exposição temporária e culminando na monumentalidade do espaço vertical dedicado à exposição permanente, o visitante acaba por ter um aprendizado total do Museu. Por fim, o momento de partida define a última observação sobre a instituição (a posteriori): uma visão outra do exterior segundo um repertório distinto e cognitivo, agora dotado de um conhecimento real sobre o objeto e capaz de proporcionar uma visão definitiva de sua visita, considerando que esta será diferente a cada nova ocasião. Um percurso que, como a ciência, se define por momentos de buscas e instantes de intensa descoberta.

Sustentabilidade / Conforto Ambiental

Eficiência Energética: as condições de conforto para o usuário são garantidas através da climatização natural durante a maior parte do tempo pelo fato de que o edifício, em sua totalidade, pode ser controlado manualmente, gerando economia de energia tanto para ventilação (ar-condicionado usado somente quando necessário para compensar condições externas excepcionais ou para exposições específicas), bem como para iluminação. A implantação do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a ocupação de todo o resto da área com vegetação de pequeno ou grande porte. A implantação pontual do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a ocupação de todo o resto da área com vegetação de pequeno ou grande porte.

Fachadas: as placas de alumínio que revestem o edifício funcionando como brises, desempenham uma proteção térmica indispensável nas condições climáticas às quais está exposto o museu. As superfícies são os principais elementos que garantem as condições adequadas de conforto no interior do edifício além da flexibilidade de controle no inverno e verão. A predominância da cor de branca em quase todos os fechamentos exteriores colabora para o desempenho térmico ao refletir o máximo de incidência de radiação e consequentemente, da transmissão de calor para o interior do edifício.

Linguagem / Matéria

Através de sua implantação e forma, além da matéria da qual se constitui, o museu une a Ciência a uma expressividade espacial e sensitiva. Utilizando materiais predominantemente reflexivos (aço, alumínio e vidro) o edifício se torna, primeiramente, um ponto de luz, um reflexo não muito definido à distância, mas que se revela ao aproximar-se. Um brilho difuso que remete a um evento em eterno movimento conforme a luz do dia e da noite. A potencialização de um fenômeno e um estímulo para que qualquer cidadão se pergunte sobre o mundo que o envolve.

A superfície da fachada é criada a partir da idéia de infinito: uma referência à essência de sua forma, reconhecível desde sua escala cosmológica até sua parte mais ínfima. Encontramos semelhanças em tudo que constitui o universo que nos cerca, e o edifício busca transmiti-las. Do mesmo modo, sendo um Museu de Ciências, a apreensão dessa informação também acontece de maneira progressiva, desde sua concepção até sua compreensão.

Partimos de um conhecimento científico do homem sobre a natureza: o infinito presente na natureza é reconhecido e, posteriormente, parametrizado pelo homem através de conceitos matemáticos e geométricos. Esse conhecimento científico origina um segundo tipo de infinito, sintetizado no conceito de fractal: razão infinitesimal criada pelo homem a partir de sua interpretação das características do meio que o envolve, novas noções de auto-semelhança e complexidade infinita, capazes de entender a natureza em suas ilimitadas escalas. Nosso desenho é uma terceira visão sobre esse conceito. Através da materialidade e da textura do edifício cria-se uma interpretação humana sobre um evento natural. 

A partir de um modulo inicial matemático desenha-se um “código” de perfurações que será aplicado às superfícies. Depois, uma padronização de 10 peças é criada, seguindo dimensões industrializadas e variando seu desenho de abertura/transparência de acordo com a quantidade/tamanho das perfurações adotadas. A paginação destas peças nas fachadas do edifício corresponde aos usos internos, sendo mais densa ou difusa de acordo com a luminosidade necessária para as atividades. A repetição e mistura destas peças é capaz de gerar um desenho infinito e parametrizado que será reconhecido na medida em que o usuário observar o edifício, dos pontos mais distantes até o seu interior, descobrindo-o a cada instante.

Concurso Internacional para Projeto Arquitetônico do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, diagramas da concepção da superfície da fachada, 1º lugar. Arquitetos Reinaldo Nishimura, Daniel Corsi e Dani Hirano, 2009
Desenhos equipe

Fazer com que a matéria da qual se constitui o Museu revele a totalidade de sua existência e venha ter um significado próprio através da linguagem humana. Um acontecimento que sintetiza em si função e forma: símbolo, desenho, protetor climático, fenômeno, elemento didático, parâmetro do infinito. Um Museu capaz de estimular o imaginário e o conhecimento do indivíduo, possibilitando que cada um crie sua história a partir de sua experiência, guardando em sua consciência a magnífica relação existente entre Homem, Ciência e Natureza.

ficha técnica

Autores
Arq. Daniel Corsi
Arq. Dani Hirano
Arq. Reinaldo Nishimura

Colaboradores
Arq. André Biselli Sauaia
Arq. Laura Paes Barreto Pardo

Equipe
Arq. Andrea Key Abe
Arq. Jenniffer A. dos Reis
Estag. Lidia Neves Martello
Estag. Amanda Nascimento Higuti
Estag. Tatiana Hummel

Consultores
Ar Condicionado: eng. Raul José de Almeida
Astronomia: astr. Bruno Sinopoli
Conforto Ambiental: arq. Mônica Marcondes, arq. Boris Villen
Estrutura: eng. Eduardo Knothe
Fundações: eng. Ilan Gotlieb
Museografia: mus. Inês Coutinho
Orçamento: eng. Ricardo Zulques

Maquete
Leon Richard Benkler

source
CHN Arquitetos / Reinaldo Sigueta Nishimura, Daniel Corsi da Silva e Dani Hirano
São Paulo SP Brasil

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106.02 Concurso
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original: português

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Organização do concurso
Campinas SP Brasil

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106

106.01

Concurso Público Nacional Complexo Hotel Paineiras - Parque Nacional da Tijuca

106.03

Praça Victor Civita - Museu Aberto da Sustentabilidade

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