Intenções
Todo o centro de Valparaíso já é um enorme Parque Cultural e deveria funcionar como tal. Por esta razão, era necessário definir uma idéia forte para evidenciar e acentuar esta apropriação do PCV, estabelecendo conexões extra-muros com a cidade e domesticando suas fronteiras para ampliar o uso do espaço ao público e, desta forma, unir as ações que já se desenvolviam com novas possibilidades por surgir.
O que propomos é um PCV como epicentro: um concentrado de Valparaíso, de suas próprias dinâmicas básicas, mas também um movimento de sinergia com o lugar, capaz de se relacionar, ao seu modo, com a escala dos espaços internos e gerar diferentes cenários com os espaços externos. Assim, uma consideração importante para o projeto foi o acoplamento à topografia para dar continuidade ao espaço urbano da cidade.
Estratégia
Construímos prioritariamente na borda “negativa”, em baixo relevo, da topografia do terreno. A intenção foi dar sentido (forma e conteúdo) às bordas para qualificar os patamares propostos como espaços potenciais para distintos eventos. Este esforço permite abrir e controlar novos acessos ao Parque.
Pretendemos um lugar que não trate somente do que contém, mas, que se tratando dele, proponha o resumo intencionado do que ocorre fora de seus limites: o PCV como ressonância de Valparaíso.
Não projetamos um novo edifício, no sentido tradicional – objeto arquitetônico isolado e estático – mas espaço que abra passagem, que resista, que se mimetize. Não queremos um Parque com espaço de representações da cidade, mas um Parque Cultural de apresentações, de manifestações, de movimento e de resistência cultural urbana, assim como de produção, que consiga gerar arte, artesanato, cultura e vida.
Patrimônio
Trabalhar com o patrimônio incita ao cuidado das exigências e critérios necessários. Não o entendemos somente como algo que se vá restaurar, mas habilitar-se a novas funções que estabelecerão conexões entre passado e presente, e que transformem os edifícios em participativos ativos nas novas relações que ali se estabelecerão.
O volume da Galería de Reos se impõe à paisagem como referência da cidade. Além de sua volumetria, esta forte relação deve ser preservada e evidenciada. Desta forma, mantivemos sua integridade. Internamente, a expressividade das relações espaciais do antigo presídio é preservada como um testemunho.
O Paiol, elemento histórico chave do conjunto, será preservado como tal e valorizado ao ser o único elemento construído sobre o grande Patio Central.
Com relação a esse Patio, cremos que é parte importante do patrimônio, pois é o espaço que guarda os passos de cada um dos agentes que passaram por ali. Desde os soldados espanhóis, presos e guardas, até artistas e cidadãos que tiveram suas vidas vinculadas a este lugar, todos deixaram uma marca neste acumulado de camadas históricas superpostas. Por esta razão, decidimos conservá-lo tal e como está para que funcione como testemunho vivo e siga guardando os passos dos futuros usuários do PCV.
Programa: Em torno do Patio Central (matriz geométrica primordial), se organizam as principais atividades e seus lugares. Ele é o grande ambiente de recepção do PCV, onde se direcionam aos múltiplos equipamentos. Por ele passam os fluxos de usuários do centro, e os encaminham para os ambientes de produção e manifestação artística.
O Patio constitui um grande receptáculo de manifestações artísticas. O circo, a música, a dança, o cinema e as instalações de artes visuais podem se apresentar aí. Acessa-o por uma antiga entrada do presídio que abrigará a administração e, simbolicamente, a biblioteca. Ambas as áreas desembocam no Patio de transição. Sobre elas um terraço ajardinado conecta o estacionamento, espaço igualmente apto para feiras e cuidadosamente arborizado, até outro terraço junto à esquina de pedra do antigo presídio, lugar de vista privilegiada da cidade e do mar.
Do Patio Central se tem acesso à Galería de Reos que se reorganiza pela implementação de três cavidades, três vazios. A primeira que recebe e transpõe a Galería ao lado do contêiner de Artes Visuais, a segunda que serve como apoio para o contêiner climatizado e com iluminação controlada e a terceira que é uma extensão da oficina de Artes Circenses. Mantivemos as atividades circenses no pavilhão devido à sua forma de ocupação do espaço existente e por seu caráter lúdico. Para isso, criou-se uma grande caixa para os exercícios, que pode se abrir para a parte histórica do edifício.
Formando a nova cara do Patio Central, e funcionando como uma extensão do pavilhão, se organizam as oficinas elevadas, que se abrem à praça e à cidade e permitem tanto atividades isoladas como integradas. Sua larga circulação foi pensada de tal forma que permita encontros entre as diferentes atividades. As oficinas estão posicionadas sobre uma segunda entrada do conjunto, que poderá ser aberta em dias de grandes eventos, abrindo o parque para a cidade. No prolongamento desta ala estão o teatro e os espaços de convenções que completam o conjunto e se conectam ao Patio Central através do Foyer. Aproveitando o grande desnível do terreno original e sua cobertura, em uma extensão da topografia do lugar, origina uma nova praça-mirante pública e aberta, onde a cobertura do palco se transforma em um nova praça de apresentações ao ar livre, e de onde se admira todo o conjunto, a cidade e o mar, estabelecendo-se assim, mais que uma conclusão, a total integração do parque com a paisagem de Valparaíso.
O PCV se converte, deste modo, em um grande parque público que se define como uma sucessão de praças e pátios direcionados à arte e à comunidade, onde todo tipo de atividade pode ocorrer.
ficha técnica
Projeto
Estudio América / Arquitetos Lucas Fehr, Mario Figueroa Rosales, Guilherme Motta, Roberto Ibieta, Carlos Garcia e Marcus Vinicius Damon
Colaboradores
Arquiteta Ana Vazquez e Flavia Tenan; Rodrigo Kim; Estagiários Amanda Renz e Mario Do Val