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PORTAL VITRUVIUS. SESC Guarulhos. Concurso de propostas arquitetônicas. Projetos, São Paulo, ano 10, n. 109.03, Vitruvius, jan. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/10.109/3558>.


Partido e sustentabilidade

O partido arquitetônico surgiu em conjunto com as configurações do terreno após extensa investigação de programa e massas. A organização de um edifício principal, alinhado com a rua tem como objetivo “entregar” o SESC para a cidade de Guarulhos, enquanto configura uma grande praça pública que permite o acesso as atividades específicas ligadas diretamente à comunidade.

Concurso de Propostas Arquitetônicas para o futuro SESC Guarulhos, 3º lugar, esquema de agenciamento programático do ginásio. Escritório Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz
Desenho do escritóio

O edifício realiza a conexão dessa praça pública com a praça de esportes, cinco metros acima, um pouco mais reservada e abrigada pela própria construção, de forma que as atividades de lazer e esportivas transcorram com grande comodidade. Imaginou-se um edifício translúcido através de brises que filtrassem a luz e a ventilação criando interessantes visuais internas e externas de luz e sombra. A noite o efeito se inverteria e o SESC seria uma grande lanterna a convidar os cidadãos a freqüentá-lo. Grandes varandas verdes se projetam para fora do edifício, e a partir delas é possível realizar apresentações públicas para os transeuntes que estejam ou passem pela praça pública. Um edifício democrático, convidativo, que desperte o interesse dos moradores e dos passantes, simbolizando a união do SESC com a comunidade local é o resultado almejado, enquanto questões de sustentabilidade estejam em seu coração, transfigurando seus espaços.Sustentabilidade tem se tornado, ultimamente, uma palavra da ‘moda’. Tanto que, em muitos casos, privilegiam-se questões ‘bioclimáticas’ e de ‘eficiência energética’ em detrimento da arquitetura, do espaço, do uso. Acreditamos que essa é uma forma equivocada de enfrentar o assunto, pois não considera que, no final das contas, o grande objetivo da nossa profissão é possibilitar melhores condições de moradia, trabalho e lazer. Enfim, uma vida melhor.Assim sendo, nossa proposta busca não confundir o instrumento com a finalidade. Sustentabilidade é mera ferramenta de projeto, que deve permear e alimentar todas as etapas da concepção arquitetônica, mas os protagonistas da história devem ser sempre o espaço e o usuário.Desta forma, buscamos soluções ao mesmo tempo simples e inteligentes, que respondam por uma melhor qualidade do edifício. Levando em consideração as premissas da certificação AQUA, desenvolvemos um projeto que respondesse a questões ambientais, sociais e econômicas. Em primeiro lugar, há de se considerar o aspecto público de uma unidade do SESC. A entidade tem como um de seus principais fundamentos a inclusão social e a criação de espaços verdadeiramente democráticos. E o edifício deve falar esta língua – comunicar sua generosidade, acolher o cidadão e servi-lo sem reservas. Uma das preocupações primordiais da nossa proposta é a relação do edifício com a cidade: uma grande praça pública e aberta antecede o edifício, presenteando a cidade com uma qualidade espacial incomum no tecido urbano convencional.Ainda quanto à relação do edifício com a cidade, sua escala também foi contemplada. Já que o programa solicitado implica um edifício de grande porte, pensamos que seria importante cuidar para que não se tornasse um objeto agressivo à paisagem, nem prejudicasse os edifícios vizinhos. Recuado, visualmente permeável, com altura reduzida, o SESC Guarulhos busca uma relação de escala amigável com o entorno, não bloqueia o sol nem obstrui a ventilação. Sua implantação também busca uma relação direta e clara com a mata ao fundo, promovendo sua integração aos espaços e usos do complexo do SESC. A topologia do lote também foi aproveitada, buscando-se reduzir impacto no subsolo e custos de implantação. Assim, o terreno tem uma relação direta com o edifício em vários níveis, permite a criação de uma grande esplanada frontal, aberta para a cidade e os taludes formados são incorporados como áreas verdes e como ‘vitrine’ para as plantas do viveiro, que ocupa toda a sua área.A escolha de sistemas construtivos e materiais também foi contemplada na proposta: materiais certificados, recicláveis ou reciclados (como o concreto de baixa queima e com 25% de entulho moído, por exemplo), preocupação com materiais adequados ao nosso clima e passíveis de produção nacional (como as placas cerâmicas da fachada), absorção de mão-de-obra local etc. Tudo levando em conta, também, a viabilidade técnica e econômica da construção. O próprio formato do edifício principal partiu da preocupação com a ventilação e iluminação eficientes.Além disso, prestou-se particular atenção a questões de conforto higrotérmico, acústico, visual e olfativo. Estratégias simples como localização de plantas e espelhos d’água em locais estratégicos permitem controle de temperatura e umidade. Nos dias mais quentes, aspersores de água ao longo da fachada são capazes de reduzir em até 3 graus a temperatura do ar. Painéis permeáveis de placas cerâmicas favorecem a ventilação cruzada e iluminação natural ao mesmo tempo em que bloqueiam os ventos fortes e o sol intenso. A lâmina representada pelo edifício principal segrega as atividades esportivas e de lazer do barulho da rua, mas a permeabilidade visual de dentro e de fora do edifício permitem irrestrita integração visual. A lâmina comporta-se como uma somatória de pequenos edifícios, ‘vazios’ e canteiros envoltos por uma pele permeável e conectado por acessos e passarelas que interligam o edifício ao terreno. Isso facilita a identificação das funções, cria espaços interessantes e integrados, promove transição entre o exterior e o interior e facilita a ventilação e a iluminação de cada função individual. Espaços livres e o uso de alturas variáveis no interior do edifício auxiliam a circulação de ar.O painel que envolve a lâmina é composta de placas cerâmicas pivotantes, que podem ser abertas e fechadas para um melhor controle de iluminação, temperatura e ventilação. Os espaços ficam mais convidativos pela generosa iluminação natural fracionada, filtrada pelo painel e refletida de forma dinâmica e mutável nos espaços internos. A manipulação das lâminas altera também a circulação de ar, tornando o prédio ajustável conforme a estação. Nos locais onde o programa impede a ventilação cruzada, criou-se uma parede dupla para convecção natural do ar, possibilitada pelas aberturas na cobertura e pela disposição de aceleradores de vento que ‘sugam’ o ar interno dos ambientes mais fechados.Espelhos d’água são utilizados para fins de paisagismo, mas também para refletir luz natural para dentro do edifício e para auxiliar no controle térmico e de umidade com sua evaporação. Duas funções adicionais ainda são creditadas aos espelhos d’água: retardar o lançamento de águas pluviais na rede urbana, e reter água pluvial para irrigação e limpeza. Na cobertura, uma terceira função: aumentar a inércia térmica do edifício, evitando o aquecimento exagerado e refletindo o calor. Desse espelho superior são alimentados os aspersores da fachada e irrigados os jardins internos.Cisternas semi-subterrâneas armazenam água cinza tratada para reuso, e estão previstos sistemas subterrâneos de tratamento de efluentes. A absorção de água prevista pelas generosas áreas verdes e pelos pavimentos drenantes realimenta o lençol freático e evita sobrecarga na rede.Em resumo, poderíamos resumir e organizar as estratégias de sustentabilidade de acordo com os quatro critérios do sistema de certificação AQUA:Eco-construção

Levou-se em consideração a relação do edifício com seu entorno, seja pela criação de espaços públicos generosos e abertos, seja pela concepção de um edifício que mitigasse o grande porte através de sua permeabilidade visual, altura reduzida e fragmentação do programa. Além disso, a escolha de produtos, sistemas e processos construtivos levou em consideração baixa interferência no terreno e no entorno, materiais locais, com forte conexão cultural e disponibilidade de mão-de-obra, como concreto armado e painéis de placas cerâmicas.Eco-Gestão

O edifício foi imaginado com fácil manutenção e de consumo reduzido de energia e água, notadamente pela preocupação com o controle térmico através de soluções simples. Generosas ventilação e iluminação naturais, sombreamento das fachadas, inércia térmica, reuso de água de chuva acumulada nos espelhos d’água, tratamento de águas servidas, alta permeabilidade do solo, retardamento de lançamento de água pluvial na rede pelos espelhos d’água etc. As soluções utilizadas pretendem-se reguláveis conforme as condições climáticas, permitindo equilíbrio da qualidade do edifício entre as estações do ano.

Conforto

Especial atenção foi dada ao papel de auto-regulação térmica do edifício. Graças às estratégias adotadas, especialmente o ‘envelope’ representado pelo painel de placas cerâmicas, criam-se espaços com boa iluminação natural, controle de insolação e ventilação cruzada contínua, mas reduzindo velocidade dos ventos e permeabilidade visual. Aspersores de água ao longo deste envelope são uma estratégia barata e eficiente para o controle de temperatura nos dias mais quentes. A relação do objeto construído com o terreno se dá de forma fluida, estimulando o contato entre as funções e os espaços internos e externos através de passarelas, vazios e aberturas. Abrigada do barulho externo pelo volume do edifício principal, a praça suspensa goza de tranqüilidade para a prática de esportes e atividades de lazer. Ademais, os espelhos d’água e a vegetação foram utilizados não somente como paisagismo, mas também como elementos de controle de temperatura do ar, seja pela evapotranspiração das plantas dos jardins e das fachadas, seja pela evaporação da água que ajuda a resfriar e umedecer o ar. O espelho d’água na cobertura ajuda, ainda, a aumentar a inércia térmica do edifício.

Saúde

Ambientes adequados à prática de esportes, ao lazer e ao convívio – ventilados, iluminados e de temperatura amena estimulam o uso do edifício e cumpre sua função programática essencial.

ficha técnica

Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz

Equipe: Ana Paula Barbosa, Dante Furlan, Juliana Nohara, Marina Almeida, Mônica Harumi, Renata DaviConsultoria Paisagismo: Sidney Linhares (CAP Paisagismo)Perspectivas: Ana Paula Vasconcelos (ARQ 3D)

source
Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos
São Paulo SP Brasil

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109.03 Concurso
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original: português

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Organização do Concurso
São Paulo SP Brasil

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