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A Praça das Artes é o principal projeto cultural construído pela Prefeitura de São Paulo na última década. Cortando o interior de uma quadra paulistana, o projeto converge uma série de distintos programas em um só lugar.

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PORTAL VITRUVIUS. Praça das Artes. Projetos, São Paulo, ano 13, n. 151.03, Vitruvius, jul. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.151/4820>.


“uma coisa é o lugar físico, outra coisa é o lugar para o projeto. E o lugar não é nenhum ponto de partida, mas é um ponto de chegada. Perceber o que é o lugar é já fazer o projeto”
Álvaro Siza

Há projetos de arquitetura que se impõem soberanos em grandes espaços livres, situações aprazíveis e visíveis à distância. Há outros projetos que precisam se acomodar a situações adversas, espaços mínimos, nesgas de terrenos comprimidos por construções existentes, em que os parâmetros para seu desenvolvimento são ditados por tais singularidades. O caso da Praça das Artes se enquadra entre estes últimos.

E não é por decisão voluntária ou por opção entre esse ou aquele aproach, por essa ou aquela direção a tomar o que nos leva a uma escolha e decisão conceitual. É, precisamente, a natureza do lugar. É sua compreensão enquanto espaço resultante de fatores sociopolíticos ao longo de muitos anos – ou séculos – de formação da cidade. Compreender o lugar não somente como objeto físico, como diz Siza, mas como espaço de tensão, de conflitos de interesses, de subutilização ou mesmo abandono, tudo importa.

Se, por um lado, o projeto da Praça das Artes deve responder à demanda de um programa de diversos novos usos, ligados às artes musicais e do corpo, deve, também, responder de maneira clara e transformadora a uma situação física e espacial preexistente, com vida intensa e com uma vizinhança fortemente presente. Mais ainda, deve criar novos espaços de convivência a partir da geografia urbana, da história local e dos valores contemporâneos da vida pública.

Podemos dizer que, neste caso, projetar é captar e inventar o lugar a um só tempo, em uma mesma ação.

Praça das Artes
Foto Nelson Kon

O lugar

O espaço físico é composto por uma série de lotes que se interligam no miolo da quadra, voltados para três frentes de ruas, no coração da cidade.

O lugar contém marcas e memórias de diferentes épocas, retratadas nas arquiteturas do Conservatório Dramático e Musical, na fachada do Cine Cairo e, também, nos edifícios que o cercam. Resultado dos desacertos de um urbanismo que sempre se submeteu à ideia do lote, à lógica da propriedade privada da terra, contém um ‘estoque’ de espaços vazios, subutilizados ou ociosos, abandonados, esquecidos, esperando que a cidade volte a ter interesse por eles.

Assim como em quase toda a região central da cidade, tal lugar tem uma vizinhança predial caótica do ponto de vista volumétrico, das normas de insolação e ventilação saudáveis. Entretanto, possui uma situação privilegiada de humanidade ao seu redor, pleno de diversidade, vitalidade, mistura de classes sociais, de usos, de conflitos e tensões característicos da grande cidade – espaço da convivência e da busca de tolerância.

Enfim, o lugar é rico em urbanidade.

Praça das Artes
Foto Nelson Kon

O programa

O rico e complexo programa de uso da Praça das Artes está focado no estudo e na prática ligados à musica e à dança, com um intenso caráter público de convivência, que permeia todo o conjunto.

As atividades musicais são representadas pelas orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, pelos corais Lírico e Paulistano, pelo Quarteto Municipal de Cordas, pela Escola Municipal de Música e pela Sala de Concertos do antigo Conservatório Dramático e Musical. As atividades de dança são representadas pelo Balé da Cidade e pela Escola de Bailado. Além destes organismos, o conjunto abriga um Centro de Documentação, a Discoteca Oneyda Alvarenga, galeria de exposições, áreas administrativas, de convivência, restaurantes, cafés e estacionamento em dois níveis de subsolo.

Praça das Artes
Foto Nelson Kon

O projeto

A partir do centro do terreno, o conjunto se desenvolve em três direções - Vale do Anhangabaú (Rua Formosa), Avenida São João e Rua Conselheiro Crispiniano – ocupando espaços e criando vazios.

Um grande edifício em concreto aparente, pigmentado na cor ocre, é o elemento principal a estabelecer um novo diálogo com a vizinhança e, também, com os edifícios históricos existentes que, reformados, permanecem como parte integrante do conjunto. São eles o Conservatório Dramático e Musical e a fachada do Cine Cairo. A intervenção busca ser, a um só tempo, cuidadosa, delicada e incisiva.

Este edifício possui um pé-direito livre, de modo a liberar o pavimento térreo aos pedestres, que podem cruzar o quarteirão de lado a lado e em três direções, a céu aberto ou protegidos por marquises. Essa é a “travessa das artes”, ou galeria aberta, onde serão instalados pontos comerciais e de serviços, atraindo para o novo espaço o movimento das ruas do entorno. Dessa maneira, o projeto propõe um reordenamento urbanístico para a região.

O antigo edifício, anexo ao Conservatório Dramático e Musical, dá lugar a uma torre, que funciona como centro articulador de todos os departamentos e setores instalados no conjunto. Todos os escritórios administrativos, a circulação vertical (escadas e elevadores), os halls de chegada e distribuição, os sanitários e vestiários e os shafts de instalações estão concentrados neste edifício. Essa nova torre, também em concreto aparente, porém pigmentado na cor vermelha, destaca-se como o centro geográfico de todo o conjunto, entrada e saída de público.

Do extinto Cine Cairo, na Rua Formosa, permanece a fachada, agora amalgamada ao novo edifício, destinado aos Corpos Artísticos. O antigo Conservatório Dramático e Musical foi restaurado e readequado para novos usos: galeria de exposições do acervo do Teatro Municipal e Sala de Concertos. Este velho edifício da Avenida São João nasceu como hotel para, em seguida, transformar-se em conservatório musical, antes mesmo da criação do Teatro Municipal, do qual, de certa maneira, foi precursor e formador dos músicos que vieram a compor sua orquestra.

Esses edifícios históricos são registros físicos e simbólicos remanescentes da cidade do século passado. Como raízes dos novos usos sustentarão, com sua cor branca que contrasta com o ocre e o vermelho do concreto, uma vida por ser inventada.

Com eles, não estamos partindo da estaca zero.

Praça das Artes
Foto Nelson Kon

Praça das Artes no Vitruvius

GUERRA, Abilio. Prêmio APCA 2012 – Categoria “Obra de arquitetura”. Premiado: Praça das Artes / Brasil Arquitetura e Marcos Cartum. Drops, São Paulo, n. 13.063.08, Vitruvius, dez. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.063/4629>.

ficha técnica

projeto
Praça das Artes

data do inicio do projeto
dezembro de 2006

data da conclusão da obra
dezembro de 2012

custo da obra
136 milhões

programa
Conjunto de edifícios que abriga os anexos do Teatro Municipal: Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, Corais Lírico e Paulistano, Balé da Cidade, Escolas de Música e de Dança, Centro de Documentação Artística, Museu do Teatro Municipal, Administração, Salas de Recitais, áreas de convivência e estacionamento.

área
28.500 m²

local
Rua Conselheiro Crispiniano, Rua Formosa, Avenida São João, São Paulo SP

autoria
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Luciana Dornellas / Brasil Arquitetura
Marcos Cartum / Secretaria Municipal de Cultura

colaboradores
Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Anselmo Turazzi, Carol Silva Moreira

equipe
Anne Dieterich, Beatriz Marques de Oliveira, Felipe Zene, Fred Meyer, Gabriel Grispum, Gabriel Mendonça, Victor Gurgel, Pedro Del Guerra,Thomas Kelley, Vinícius Spira

estagiários
André Carvalho, Júlio Tarragó, Laura Ferraz

equipe desenvolvimento de projeto executivo
Apiacás Arquitetos e Yuri Faustinoni, Elcio Yokoyama, Ingrid Taets

projetos complementares
Projeto Estrutural: FTOyamada
Projeto Fundações: Infraestrutura
Projeto Instalações Elétricas e Hidráulicas: PHE Engenharia
Projeto de Acústica e Cenotecnia: Acústica & Sônica
Projeto Luminotécnico: Ricardo Heder
Projeto Ar Condicionado e Exaustão: TRThermica
Paisagismo: Raul Pereira Paisagismo
Consultoria Impermeabilização: Proassp
Consultoria de Caixilhos: Aluparts
Consultoria Cozinha: Gisela Porto
Painéis de tapeçaria mineira (forro restaurante): Edmar de Almeida
Luminária “Urucum” (sala de concertos): Rodrigo Moreira e Madeeeeira Marcenaria e Serralheria

obra
Construtora: Consórcio Construcap/Triunfo

restauro
Kruchin Arquitetura

forcecedores
Lanxess, InterCemet, Thyssen Krupp, Agtel, Pisossul, Tecvision, Permetal, Forbo, Reka Iluminação, Lustres Projeto, Isar, Deca, Docol, Ar Conditioning, Doka, Neo Rex, Vibtech, Knauf, Isover, Tecelagem Lady, Owa

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