Os estudos para o novo museu foram motivados pela crescente atividade e ampliação do acervo da municipalidade que geravam exposições em espaços deslocados. O processo para a concretização do projeto do novo museu teve um percurso longo.
Assim, entre os anos 2000 e 2003, foi realizado o “Estudo de viabilidade para o novo museu da Ciência em Trentino” e, em 2005, o Plano Cultural para o novo museu. Participaram destes estudos especialistas nacionais e internacionais, bem como vários cidadãos da província de Trento, que contribuiram para a definição do escopo final do que deveria ser o museu.
Após a aprovação do plano cultural, em 2006, o projeto foi confiado ao arquiteto Renzo Piano. A inauguração do conjunto ocorreu em 27 de julho de 2013, sendo que este se insere em área definida para requalificação urbana com outros equipamentos contíguos ao mesmo, a saber o Quartiere Le Albere, na localidade de Trento.
A solução adotada para o MUSE envolve os visitantes de maneira dinâmica através de percursos interativos e sensoriais, como um convite para a imersão nos diversos temas ligados às ciências. Ar, terra, fogo e àgua, conjugados com a vida animal em ambientes e ambientações apropriadas, imersos em luz... dada a opção pela transparência total no partido adotado. Instalações específicas e tematizadas, com sons, aromas, texturas, dentre outros, ampliam as possibilidades de interação com os temas.
Estruturas mistas (madeira, concreto armado, aço e ferro), com vidro em abundância definem a poética de Renzo Piano. O diálogo em termos de contrastes estabelecidos com o entorno guarda semelhanças com o Beaubourg, em Paris. Este último, inaugurado em 1977, se colocava como concorrência difícil vencida por equipe quase desconhecida, tendo dois italianos e um inglês, além do próprio Renzo Piano, Gianfranco Franchini e Richard Rogers.
No caso do MUSE, a encomenda ao estúdio de Renzo Piano mostrou-se coerente e, certamente, como iniciativa que reconhece o trabalho deste, nos dias atuais, nomeado como Senador da República. A concepção do MUSE teve por princípio a flexibilidade e a adequação aos conteúdos científicos definidos pelo projeto cultural. O partido simula a movimentação das montanhas no entorno, tendo sido utilizados materiais disponíveis na região e bambú (de origem italiana) nas áreas esportivas.
O programa do museu envolve áreas públicas, áreas administrativas e de serviços distribuídas por meio de dois subsolos e cinco pavimentos incluindo térreo e terraço. Assim, a proposta definida, em níveis diferenciados com cores e materialidade expostas, envolve crianças, jovens, velhos e idosos em itinerários diversos, com temas e conteúdos ligados às ciências. O acesso a estes níveis pode ser feito através de escada ou de elevador, transparente e folgado, o que permite visão privilegiada dos vários ambientes. No terraço, um mirante permite a fruição das montanhas no entorno, bem como dos novos edifícios que compõem o conjunto, além de trechos pré-existentes, incluindo arena de jogos.
Suspensos por tirantes, expostos como maquetes, ou mesmo em termos de espaços sensoriais e interativos, os ambientes e conteúdos deste museu “novinho em folha” convidam ao mergulho no conhecimento, com apelo tecnológico e inovador, sem deixar de lado os vários tempos da história da humanidade e da natureza que emoldura tudo. Nada se mostra estático ou mesmo congelado. Pelo contrário, a sensação é de movimento.
Outro ponto importante a ser destacado refere-se ao primor no detalhamento que pode ser percebido, tanto no exterior quanto no interior. Espelhos d’água e cascatas também merecem ser ressaltados como elementos fundamentais na composição de Renzo Piano. Além disso, a questão da conservação de energia que aparece de maneira explícita nos itinerários percorridos, com painéis fotovoltáicos, sondas geotérmicas, dentre outros, tem o sentido de proporcionar a renovação da energia. O sistema geral é centralizado e mecanizado com sistema energético adequado para alcançar a maior eficiência energética possível. Sensores de temperatura automatizados permitem conforto térmico nos dias quentes e nos dias frios. A iluminação e a ventilação naturais reduzem o consumo e ampliam a sensação de conforto ambiental. Acrescente-se a estes pontos, o aproveitamento das águas de chuva em reservatório apropriado, estas aproveitadas para os serviços higiênicos, para irrigação, ou mesmo para alimentar os aquários e os espelhos d’água que circundam o conjunto.
Do lado de fora e contíguo ao MUSE, há um conjunto edificado, também projetado por Renzo Piano, com salas, apartamentos, pontos comerciais e estacionamento no subsolo. O acesso ao MUSE pode ser feito de diversas maneiras, a começar pela bicicleta, o meio mais sustentável, por assim dizer, e também o trem, o ônibus ou o carro individual e as motocicletas. A visita vale a pena ... voltamos a ser crianças um pouco.
O projeto pode ser consultado no site do estúdio do arquiteto Renzo Piano. Vale ressaltar que esta visita teve o sentido da busca de referenciais para repensar a realidade atual das nossas cidades. E urge que busquemos outros referenciais, por amor às cidades… Além disso, a visita com os arquitetos Silvio Caoduro, Andria Medina e Maribella Mazzillo se insere na continuidade de pesquisas e interlocuções desenvolvidas com a Italia e soma-se às interlocuções internacionais desencadeadas, particularmente no âmbito da Università IUAV di Venezia, e da Università degli Studi di Padova. Tais incursões permitem vislumbrar outros horizontes para as cidades brasileiras, na perspectiva da análise comparada, seja em termos de pensamentos e práticas, seja em termos da própria experiência cotidiana propiciada por centros urbanos distintos.
sobre o autor
Fabio Jose Martins de Lima nasceu em Belo Horizonte, em 02 de setembro de 1961 e fotografa desde 1983. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, a partir de 1999 é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (1989) com Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1994) e Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2003). No periodo de 2011 a 2012, desenvolveu Estágio Pós-Doutoral na Università IUAV di Venezia, com o apoio da CAPES, sob a orientaçao dos Professores Donatella Calabi e Guido Zucconi. Em Juiz de Fora coordena o grupo Urbanismomg que desenvolve atividades de pesquisa e extensao com o apoio do CNPQ, FAPEMIG, Min Cidades e Min Cultura.