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Concurso internacional de ideias para o pavilhão da arquitetura em terra para o Museu Nacional Boubou Hama foi vencido pela dupla Abiola Akandé Yayi e Robert Soares

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PORTAL VITRUVIUS. Pavilhão da arquitetura em terra. Com os pés no chão. Projetos, São Paulo, ano 13, n. 155.04, Vitruvius, nov. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.155/4974>.


O Pavilhão da Arquitetura em Terra, devido à proposta do concurso, deve refletir em seu projeto arquitetônico a utilização do material terra desde os primeiros croquis. A relação entre o sítio e o pavilhão também deve ser explícita, pois o território africano possui particularidades que tornam necessário um olhar mais atento à suas questões locais. Esse território é muito vasto e nele existem muitas nuanças, o que tornam impossível pensar uma arquitetura única que se repetisse indefinidamente por todo o continente.

Observando a cidade onde será executado o projeto, Niamey, capital de Níger, possui um clima semiárido, segundo Köppen, com poucas chuvas durante o ano, e mesmo alguns meses sem chuva. Respondendo a essas condições climáticas, a terra crua como construção oferece excelente conforto térmico, mantendo no seu interior uma temperatura amena durante todas as estações do ano, devido às propriedades naturais da argila, mantidas em seu modo in natura. (ABCP, 1987 apud SATO).

Vencidos os preconceitos, a terra crua como material de construção ainda se ajusta melhor à realidade socioeconômica africana, de modo geral. Terra pode ser encontrada em praticamente qualquer lugar e se bem trabalhado, este material oferece condições de habitabilidade superiores à grande maioria dos materiais atualmente empregados na construção civil. A terra ainda possui um valor simbólico que desde sempre esteve associado à noção de cultura africana. Agora que a terra ainda pode contar com a possibilidade de algumas melhorias tecnológicas, nada mais natural que esse material possa voltar a ter o seu lugar de importância na construção.

O Concours d’Idées international – Pavillon de l’Architecture em Terre pretende, entre outros aspectos, transmitir a mensagem de que a terra, na construção, não precisa ser substituída por outros materiais “nobres” e que nessa questão, a realidade da África possui necessidades que se diferenciam em muito daquelas de outros regiões do globo, especialmente da Europa. Portanto, simplesmente “importar” a arquitetura de outras regiões já não é suficiente [na realidade, nunca foi].

Nossa proposta consiste de uma análise minuciosa do sítio em que será construído o pavilhão. Nessa análise, observamos a insolação que o atinge, atentando à sua orientação; buscamos informações que pudessem nos indicar os ventos predominantes na cidade de Niamey levando em conta, também, dados sobre pluviosidade; observamos as edificações existentes e a vegetação do entorno; consideramos os fluxos principais existentes e outros que poderiam ser potencializados; observamos ainda os tipos de atividades desenvolvidas no entorno imediato do terreno, entre outras questões.

Utilizamos da técnica conhecida na França e em países francófonos como terre pisé. No Brasil essa técnica é conhecida como taipa de pilão e foi amplamente utilizada durante o período colonial. Em palavras gerais, nessa técnica a terra crua é compactada entre formas, denominadas taipais, que são colocadas lado a lado e que darão forma à parede. Demos preferência à utilização de terra crua devido ao baixo impacto ambiental de sua extração (quando comparado com o de outros materiais comumente utilizados na construção civil) e seu posterior processamento quando comparada à terra cozida. Na mistura da terra, ainda propomos a adição de fibras vegetais como folhas de palmeiras, cortadas em faixas de 10-15cm para evitar o aparecimento de fissuras, algo comum durante o processo de secagem da terra.

Pavilhão da arquitetura em terra
Modelo Abiola Akandé Yayi e Robert Soares

Breve descrição do projeto arquitetônico

Dois volumes compõe o pavilhão. Sua implantação se dá basicamente em um único nível, com exceção do interior do bloco inferior que possui um desnível de 50cm para baixo.

O volume superior concentra as exposições de maquetes, banners e LCD. Em seu piso estão enterrados cilindros metálicos vazados que podem comportar paredes móveis de bambu para que os expositores possam controlar a espacialidade interior, retirando ou adicionando paredes da forma que desejarem.

Esse volume possui uma altura de até 1,6m maior que o volume inferior para lhe conferir um aspecto mais monumental, refletindo o uso atribuído ao seu interior. Porém, o pé-direito continua com uma escala mais confortável de cerca de 3,0m, controlado por um forro de bambu.

O volume inferior conta com uma ludoteca que pode também comportar exposições, e com uma biblioteca que se encontra 50cm abaixo, acessada por três degraus ou por uma rampa acessível. A biblioteca conta com um espaço que comporta uma mesa para leitura ou mesmo uma futura expansão, suportando uma nova estante de livros.

Esse volume possui estantes para livros espalhadas por quase todas paredes em seu interior.

Da biblioteca é possível ainda acessar um espaço de descanso e leitura semicoberto que tem relação direta com acessos do hangar dos artesãos.

Entre os dois volumes existe uma circulação pensada para que o pavilhão não se fechasse para o hangar dos artesãos. Essa circulação, por ser ampla, pode também ser utilizada como uma recepção. Nessa área, as coberturas dos dois volumes se sobrepõem criando uma entrada dinâmica de luz.

O pavilhão conta ainda com um pequeno cinema/teatro ao ar livre, que pode acomodar pequenas mostras de filmes e documentários. O desenho de sua arquibancada foi pensado para que o usuário, ao se sentar, possa admirar, além do filme, a paisagem natural e urbana que conta com um fundo de vale por onde passa o Rio Níger.

Os jardins fazem alusão às piscinas de sal encontradas em Níger. Essa é uma atividade econômica que está bastante enraizada à cultura do país. 

Pavilhão da arquitetura em terra
Modelo Abiola Akandé Yayi e Robert Soares

ficha técnica

Concurso internacional de ideias para o pavilhão da arquitetura em terra para o Museu Nacional Boubou Hama

Projeto vencedor
Les pieds sur terre (Com os pés no chão)

Autores do projeto
Abiola Akandé Yayi e Robert Soares

Localização
Niamey, Níger

Área interior
114,39m²

Área construída total
aproximadamente 147,32m²

Ano do projeto
2013

Ano de construção
2013-2014

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