Desenho urbano
A reurbanização do Sapé é uma iniciativa da Secretaria da Habitação Municipal de São Paulo. Atende 2500 famílias em condições precárias de moradia no Bairro do Rio Pequeno. O conceito que estrutura o partido geral da urbanização da favela do Sapé é a costura urbana entre as duas margens do córrego a partir do desenho de espaços públicos. A leitura das condições físicas e sociais da comunidade denota uma descontinuidade urbana em vários níveis de precariedade.
Assim o projeto constitui-se como ferramenta de inclusão na medida em que suas ações desenham oportunidades de conexão, encontro social, vivência e troca no espaço público urbanizado. Ao unir em desenho urbano, infra-estrutura e habitação, o projeto cria espaços para melhorar a mobilidade urbana, a qualidade ambiental, a moradia, o lazer, o trabalho, possibilitando uma consciência de pertencimento que colabora para a manutenção e a melhoria da vida na cidade.
Os principais objetivos da urbanização são a remoção das famílias em situação de risco; a implantação de infra estrutura urbana para todas as moradias, e a construção de novas residências na própria área. Desta forma, foi a partir das áreas remanescentes das remoções obrigatórias que estudou-se as possíveis áreas de assentamento vinculadas ao caminho verde junto ao córrego do Sapé. A reurbanização criou três áreas para novos edifícios estruturando também os pontos de conexão da comunidade com o bairro, como junto às escolas potencializando o espaço público.
O projeto do sistema de drenagem do córrego do Sapé adotou como referência o projeto implantado pela SVMA a montante do córrego. Ao desenvolver a geometria das seções do canal procuramos respeitar a topografia original do leito sem alterar substancialmente cotas de fundo e suas larguras, realizando um desenho com várias seções hidráulicas (em T, mista e reta). Esta estratégia aproxima visualmente o nível de água do passeio. Em ambas as margens a área non aedificandi foi utilizada para rearborizar o caminho, criar praças de encontro e atividades de lazer. Em função da baixa declividade de todo o caminho foi proposto uma ciclovia ao longo da margem esquerda que conecta-se à ciclovia projetada para a Av. Politécnica e ao C.E.U. Butantã permitindo uma integração longitudinal urbana aos 1800 metros de passeio.
No sentido transversal, o projeto estabeleceu duas novas conexões viárias, melhorou as vielas de pedestre e o acesso as casas remanescentes, e construiu sucessivas pontes para facilitar a transposição do córrego. Todas as ruas internas serão compartilhadas com pavimento intertravado, com guia rebaixada, como nos Woonerf ingleses priorizando o pedestre, e o carro circula controlado por elementos de desenho urbano e paisagismo.
O projeto proporciona uma relação de permeabilidade entre as áreas públicas, coletivas e privadas. Frente a altas declividades e a necessidade de contenções construiu-se um elemento físico que articulou estes lugares, deu unidade ao passeio sem ser uma segregação e resolveu o sistema de contenções: uma mureta em concreto de até 120cm.
Ele conteve, em arrimo, as bases das construções junto ao córrego e ao caminho verde, acomodou jardins, escadas e rampas no desenho urbano, e ao mesmo tempo estabeleceu o limite dos condomínios de novas edificações. Com esta estratégia de desenho e construção o projeto urbano procurou transpor as diferentes escalas da intervenção levando os conceitos do espaço público de mobilidade e lazer para a borda das construções, para dentro das vielas e das pequenas praças internas conformadas com as obras de infraestrutura.
O diagnóstico social revelou a precariedade econômica da população e as ações urbanísticas voltaram-se também para levantar vocações e oportunidades. Nesta direção, o projeto urbano considerou a diversidade de usos e criou espaços ao longo do caminho verde para que usos relacionados aos serviços e comércios existentes e ainda aos novos de lazer e a ciclovia, possam constituir oportunidades de renda e ferramentas urbanas de integração física e social. Mesmo durante as obras já foi possível perceber que o alargamento dos passeios oferece esta oportunidade.
A escala do edifício
O projeto de arquitetura para a favela do Sapé está amparado por duas premissas assim definidas:
Da unidade para o edifício: O projeto contempla sete tipologias de unidade habitacional: dois dormitórios, três dormitórios, duplex e unidade de acessibilidade integral, entre 50 e 46m2, além das unidades de comércio e serviços. A quantidade de cada tipo foi definida com o levantamento das famílias ao longo do trabalho. O sistema construtivo adotado foi otimizado com a padronização dos vãos para portas e janelas, das paredes hidráulicas com prumadas fixas e proporcionou a ventilação cruzada. A circulação horizontal avarandada coletiva transpôs para o pavimento um espaço de convivência existente nas vielas da favela, criando a oportunidade de troca entre as famílias de um mesmo andar.
Da cidade para o edifício: A separação estrutural dos volumes da circulação horizontal, da vertical, e do volume das unidades nos permitiu criar uma flexibilidade para implantar os edifícios. Resultou das diversas articulações entre estes três elementos uma implantação que acomodou-se a cada particularidade de cada terreno, da relação com o entorno, da situação do lote na paisagem. Ao incorporarmos a paisagem do caminho verde com sua vegetação nos vazios entre os volumes integramos estes espaços modulando a passagem das áreas públicas para as privadas, neste sentido procuramos sempre proporcionar uma entrada pela rua e outra pelo caminho verde para todos os condomínios. Neste exercício de acomodação topográfica, o edifício pousa no terreno originando unidades no subsolo mais ligadas espacialmente ao caminho verde.
ficha técnica
projeto
Reurbanização do sapé
área de projeto
82.000m2
população
6.700 habitantes
total de famílias beneficiadas
2.500
data de projeto
2010 a 2014
coordenação geral
Prefeitura do Município de São Paulo / Secretaria Municipal de Habitação
colaboração
Secretaria Municipal de Habitação, Secretaria de Obras Públicas, Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, Sub Prefeitura do Butantâ, Sabesp, Caixa Econômica Federal
projeto urbano e arquitetônico
Base 3 Arquitetos – Marina Grinover, Catherine Otondo e Jorge Pessoa
projeto paisagismo
Base 3 Arquitetos e Oscar Bressane
fotografias
Pedro Vannucchi
execução de obra
Consórcio Engelux Galvão e Etemp Croma
gerenciamento projetos
Consórcio Domus
gerenciamento social
Cobrape