Projeto originalmente desenvolvido para a edição 17 da revista s/nº, com o tema "Grande", baseado em fotografias do Cássio Vasconcellos, e posteriormente exposto na X Bienal de Arquitetura – Cidade: modos de fazer, modos de usar
Cidade grande
Se pudéssemos descrevê-la como uma coisa, não haveria no mundo nada criado pelo homem maior do que a cidade. Não apenas no sentido de seu tamanho físico, mas também pela enorme capacidade de gerar diversidade, complexidade e sentido. Uma das consequências dessas dimensões e da velocidade de suas transformações é a impossibilidade de apreendê-la ou defini-la e, portanto, a impossibilidade de pensar em desenhar ou projetar a cidade. A arquitetura tem se dedicado ao desenho de espaços particulares e pontuais − edifícios, praças, estações − em que se condensam pensamentos sobre a cidade, mas que não atuam sobre sua totalidade.
Nas metrópoles as poucas intervenções que pensam a totalidade da cidade são as redes e sistemas de serviços técnicos − como transportes, distribuição de água, de dados. Espalham-se pelo território articulando todos os seus pontos e estão em constante transformação. Nossa proposta é um ensaio que junta um desenho da forma da cidade com a lógica das redes, dando visibilidade material ao território sem reduzir o potencial de transformação e flexibilidade próprias da cidade contemporânea. Apesar de especulativo, este ensaio não é impossível de ser realizado técnica ou comercialmente.
Proposta
Uma malha regular ortogonal de 4,25 km x 4,25 km sobreposta à cidade de S. Paulo definirá, no cruzamento de seus eixos, pontos de concentração de atividades. Nesses pontos serão construídas grandes torres, com uso e forma flexíveis, adaptadas aos desejos, história ou vocação da região em que se inserem.
Forma
Além da malha de distribuição dos edifícios, a outra componente fixa da constituição dessa rede será a altura das torres. Todas elas terão 1.135 m em relação ao nível do mar, cota do topo do Pico do Jaraguá, ponto mais alto e uma das referências geográficas mais marcantes da paisagem de São Paulo. No topo de cada torre haverá um mirante, todos alinhados na mesma cota, de onde será possível perceber a grelha regular formada por esses pontos e a relação desse plano virtual com as ondulações da topografia da cidade.
Fixado o nível do topo, cada torre terá uma altura diferente conforme o lugar em que pousa. Uma torre em uma região como a Avenida Paulista, elevada em relação às várzeas dos rios, 720 metros acima do nível do mar, terá menos andares que uma torre em Pinheiros ou no Parque Dom Pedro. Assim, além da articulação entre todos os bairros pela visibilidade a longa distância, cada lugar terá uma torre diferente. O plano horizontal formado pela conexão visual entre os topos das torres reforça e revela a percepção da posição de cada lugar em relação à conformação topográfica do terreno e em relação aos outros lugares da cidade, criando uma referência física que São Paulo tem tão pouco.
Usos
Os nós dessa rede poderão ser torres comerciais, universidades, torres de telecomunicações, de habitação, multifuncionais, estações multimodais de transportes − conjugando helipontos, hidroportos, metrô, estacionamentos – etc. Podem tanto consolidar usos já existentes como incentivar novos desenvolvimentos.
O aparente paradoxo do estabelecimento de uma rede sem uso definido – apenas sua organização é fixa − é o que torna a ideia interessante: o padrão permite legibilidade para além do que o olho permite alcançar e pode se expandir indefinidamente. Ou seja, permite a apreensão de uma totalidade sem ser totalitária. E é uma rede de elementos físicos com uso determinado por negociações locais − uma inversão da lógica das redes infraestruturais, que têm seu uso determinado, mas a distribuição desses pontos na cidade não é visível.
ficha técnica
data do projeto
2013
projeto de arquitetura
Gustavo Cedroni e Martin Corullon
fotógrafo
Cassio Vasconcelos