Alemanha. Estado de Baden Wurttenberg. Cidade: Stuttgart, a capital, situada a 632 km de Berlim. População: 604.297 de habitantes (1). Não muito longe da estação central, na praça Mailänder, avista-se o prédio da nova Biblioteca Municipal, a Stadtbibliothek, que impressiona pela extrema simplicidade de seu volume cúbico, marcado apenas pelo rigoroso ritmo das aberturas, pequenos balcões emoldurados por tijolos de vidro. As aparentes simplicidade e dureza da fachada, teria sido esta inclusive comparada a um complexo prisional, escondem uma espacialidade interna surpreendente e, à noite, iluminado, o conjunto revela uma nova dimensão.
Já na entrada se pode aprender a experiência a que o espaço da biblioteca se propõe. A aparente frieza dos materiais, com paredes e piso brancos, o mobiliário e estantes de linhas retas especialmente projetado, pretende ser o pano de fundo para os verdadeiros protagonistas, os livros, os únicos elementos que proporcionam as intensas notas de cor ao espaço.
Um eixo central define a distribuição espacial dos oito pavimentos de acesso do público. No térreo, um prisma central monumental com pequenas aberturas e uma pequena fonte, um ponto de água de 60 por 60 centímetros no piso, articula os espaços de acesso inicial do público, onde estão localizados os serviços de informações gerais, áreas para a leitura dos jornais diários oferecidos e os pontos automáticos de devolução de empréstimos de livros e cds, além das circulações verticais. Apesar de sua altura, que abrange os primeiros quatro pavimentos, o prisma não revela o espaço central interno localizado logo acima.
O grande espaço central interno articula os quatro pavimentos superiores ao prisma ou Herz (coração), que em torno deste e se desenvolvem. Os espaços de leitura se mesclam com as estantes e as circulações. Em todos os andares existem também salas de estudo individuais e coletivas. Todos os espaços se abrem para os balcões, de onde se pode apreciar diversas vistas da cidade. É quando se pode então apreender a experiência espacial, que inversamente induz o movimento de dentro para fora do edifício.
As escadas desempenham especial papel na circulação vertical, facilitando o acesso às coleções que foram distribuídas por temas elos andares: 1º, música; 2º, infantil; 3º, vida; 4º, conhecimento; 5º, mundo; 6º, literatura; e 8º, arte. No 7º andar foram instaladas a administração e a direção. A áreas dos pavimentos em torno do espaço central diminui à medida que se sobe, proporcionando a percepção simultânea de todos pavimentos. A visão das escadas lembra as gravuras do holandês Escher (1898-1972), com o sobe e desce intercalado ligando os diversos planos. Esta distribuição facilita o escape. Três elevadores dão ainda suporte ao transporte vertical. Entretanto, percebe-se que foram subdimensionados para o intenso fluxo de público. Ainda existem dois pavimentos de subsolo.
A acessibilidade é total em todas as áreas públicas. Existe um acesso em cada um dos quatro lados do edifício de 44 X 44 m, sem controle específico de entrada e saída de pessoas. O sistema de empréstimo possui pontos automatizados de devolução diretamente ligados a um sistema de esteiras rolantes, que transporta os volumes até os pavimentos.
No programa também funciona a Bibliothek für Schlaflose (biblioteca para insones), totalmente automatizada, que funciona 24 horas por dia para empréstimo de livros e cds.
Fundada em 1901, a biblioteca ocupava desde 1965 o Palácio Wilhelm, construído no século 19 e antiga residência do monarca de Wurttemberg, Wilhelm II. Em 1999 foi realizado o concurso para o novo edifício, vencido pelo coreano Eun Young Yi. As obras foram iniciadas em 2008, sendo inaugurada a biblioteca em outubro de 2011 ao custo de 79 milhões de Euros. O área total construída é de 20.225 m2, tendo o prédio capacidade para 500 mil volumes (2).
notas
1
Fonte: Statistisches Bundesamt – Gemeinden in Deutschland mit Bevölkerung em 31 de Dezembro de 2013.
2
Fonte: http://www1.stuttgart.de/stadtbibliothek/druck/nb/ZahlenundDaten.pdf.
sobre o autor
Luiz Antonio Lopes de Souza (1963) possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986) e mestrado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). É arquiteto chefe do Núcleo de Arquitetura da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.