Fiz 70 anos no domingo, 8 de junho de 2014. Na quinta seguinte, dia da abertura da Copa, feriado nacional, depois na sexta “emendada”, no sábado e no domingo, deu para fazer uma festa especial na Casa Acayaba. Vieram amigos todos os dias, e duas estudantes portuguesas, do Porto, em intercâmbio na FAU, estiveram por três dias e duas noites (porque uma delas estava a pesquisar minhas obras de madeira). No sábado veio uma turma de velhos amigos colaboradores do meu escritório. No domingo, turmas de alunos, ex-alunos, e colegas professores. Lá pelo meio dia chegaram o Milton Braga, e o casal Marta Bogéa e Fernando Mello Franco com filho o Lucas, então com 10 anos. Ele foi logo perguntando se podia ver toda a casa. "Mas é claro! Vá onde quiser". Cinco minutos depois eu ainda enchia os copos dos que tinham acabado de chegar, quando o Lucas voltou para a sala e perguntou “quem fez esta casa?” “Foi o Acayaba, aqui...”, disse a Marta. E então o Lucas me olhando de frente: “você vai fazer a minha casa!” E a Marta: “mas Lucas, seu pai, seu padrinho, o Milton aqui, são arquitetos...” E o Lucas: “não! é ele que vai fazer minha casa”, me apontando. E todos caímos num riso gostoso com a determinação do menino...
Quase dois anos depois, em abril deste ano, recebi um e-mail da Lúcia Koch, que conheci pessoalmente em 2014 no Rio através do Pedro Rivera.
Queria te convidar pra vir ao meu estúdio tomar um chá, te mostrar alguns trabalhos em processo e te convidar pra uma colaboração.
Te explico tudo aqui, se vc puder vir (tomara!) Convidei a Marta (Bogéa) pra vir também, e pensamos em sexta agora, às 15 horas… Muito em cima da hora pra vc?
Ela pensava no Sin-Fin (um fundo infinito com degradês sucessivos de várias cores) com uma “maquete do Acayaba”. Foi o que me propôs. “O que é uma maquete do Acayaba?”, perguntei. E, tendo ela posto estas duas palavras no Google, apareceram diversas imagens de maquetes feita por estudantes de arquitetura a partir de meus projetos. “Podia ser qualquer uma destas”, disse a Lúcia. “Mas... tem de ser um projeto novo...”, disse eu, e ao olhar a Marta, ali do lado, veio a ideia de fazer a maquete da Casa do Lucas, para o Sin Fin da Lucia. Contei para a Lúcia a história do meu aniversário, e logo disse à Marta que esperava o “programa de necessidades” do Lucas, para fazer o seu projeto. O programa do Lucas, agora com 12 anos, veio cinco dias depois:
Oi Acayaba, adorei a ideia! Estão abaixo as “necessidades” da casa, quanto às sugestões não necessariamente precisa seguir, você que é o arquiteto e são apenas ideias (:
Bjs, Lucas
Andares:
Primeiro: 1 laboratório/biblioteca (lugar de estudo e experiências), jardim
Segundo: 2 quartos com banheiro compartilhado (que entre pelos quartos e não tenha que pegar corredor), 1 sala, 1 varanda
Terceiro: 1 terraço, 1 varanda
Sugestões: Laboratorio-biblioteca do mesmo tamanho da sala e um em cima do outro. O jardim seria um vão livre embaixo dos quartos e do banheiro.
Passei mais de um mês pensando, e só no começo de junho decidi fazer a terceira versão do Protótipo apresentado na Bienal de São Paulo em 1993, e os riscos finais terminei meia hora antes do jantar do meu aniversário de 72 anos, dia 8 de junho de 2016, e enviei para eles por email:
Marta, Lucas e Lucia,
Até que enfim: a casa do Lucas!
É a terceira versão do Protótipo, que podem ver no meu site.
A segunda versão e primeira execução completa dele é a minha casa de que o Lucas gostou tanto.
Depois de pensar muito e dar muitas voltas, retorno ao protótipo, na versão palafita, bom para implantar no sin fin da Lucia, e com o programa de necessidades do Lucas.
Os croquis estão em 1:100.
Espero que o Lucas aprove. E aceito sugestões, claro!
nota
1
Exposição “Fundos”, de Lucia Koch. Studio-X, Rio de Janeiro, de 03 de dezembro de 2016 a 31 de março de 2017.
sobre o autor
Marcos Acayaba é arquiteto e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP.