O espaço é um vazio, uma bolha de ar contida para definir o limite. Essa precisão coincide com a existência indispensável do seu perímetro que lhe confere identidade. O espaço é definido pela forma, textura, cor, temperatura, cheiro e luz. Além do vazio, um processo mental na construção, onde o espaço está no centro: somando subtração, construindo escavação.
Um grande vazio atravessa os três andares do apartamento, marcando fortemente sua espacialidade ao banhar o interior com a iluminação zenital vinda do terraço, na cobertura.
Sua geometria irregular responde à estrutura preexistente para reorganizar tridimensionalmente o programa – composto por sala, duas suítes, louge, terraço e churrasqueira – propondo, de um lado, novos olhares por meio de inusitadas aberturas, e de outro, sutis nuances de luz e sombra cambiantes ao longo do dia e das estações. As paredes anguladas que rebatem a luz difusa até o piso inferior criam o rico jogo de brancos que se dissolvem no espaço central, fazendo surgir e desaparecer as arestas conforme a hora do dia. Suas faces internas encerram cômodos dando-lhes amplitude e assumindo diferentes funções, como cabeceira da cama ou encosto de um banco. É a construção do vazio que dá sentido ao espaço em torno do qual a vida se desenrola.
Bruno Zeni, no texto “O espaço, protagonista da arquitetura”, diz que o desenho do espaço apenas acontece pela quarta dimensão, única da arquitetura. Na pintura temos duas dimensões, próprias do plano, enquanto na escultura são três, características do volume, e em ambas o homem atua apenas como observador externo. A arquitetura, por sua vez, gera uma quarta dimensão, o interior, o vazio “é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha” (1).
Este projeto quer materializar essa quarta dimensão própria da arquitetura, desenhando no centro do projeto um vazio prismático puro, que garante um caráter escultórico ao espaço e proporciona uma experiência sui generis para quem habita o local.
Buscamos com este vazio prismático criar um espaço simples e potente, capaz de deixar gravado nas pessoas a experiência do espaço, uma arquitetura de forma nua, em qual tudo se manifesta pela proporção dos espaços recortados e pela luz nele inserido.
nota
1
Zevi, Bruno. Saber ver a arquitutetura, p. 19.
ficha técnica
projeto
Apartamento Vazio
autores
Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg / AR arquitetos
equipe
Andrea Helou
localização
Bairro Paraíso, São Paulo, Brasil
área
172m²
ano
2015
fotos
Maíra Acayaba
premiação
Finalista do 4º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel