Desenhar uma casa pressupõe assumir o compromisso de abrigar as relações de uma família. Ambientar a infância, a jornada da vida e estabelecer escalas de medida do mundo. Ao mesmo tempo, entendemos o projeto como ensaio, uma possibilidade de muitas outras construções. Esse, em particular, procura reforçar o caminhar, o passeio, como forma de percepção do lugar. Tempos que convivem. O desejo de uma casa na qual "aquela travessia durou só um instantezinho enorme” (Guimarães Rosa).
O lote amplo, de esquina, já possuía arborização densa, oposta à alameda de acesso, onde havia uma clareira. A implantação aproveita essa área livre, busca resguardar os moradores dos ruídos da rua e se abre para a pequena mata. O desafio é construir o chão, ampliando suas qualidades.
A construção, em corte, se acomoda à geografia, território paulista de pequenos morros. O desenvolvimento, em planta, permite integração entre os espaços interiores e exteriores, que se alternam, se dobram e se completam com água, fogo, vegetação. Quatro patamares construídos a partir de três muros de arrimo paralelos organizam a paisagem.
A cobertura plana é um jardim que quase toca a parte alta do sítio, facilitando o acesso a sua extensão de 45 metros. A estrutura de concreto abriga todo o programa, enquanto o terreno se movimenta, criando planos com ambientes de alturas distintas.
A entrada se realiza pela parte baixa, à sombra criada pelo volume dos dormitórios, uma estrutura metálica pendurada na de concreto. Uma casa em rampas, como as de Artigas, que permite a continuidade dos passeios. O primeiro lance, em ponte sobre a água, conduz à sala de estar e cozinha, com pé direito maior. No segundo lance, a rampa, agora metálica, estabelece a conexão com quartos e biblioteca. Uma leve inflexão no volume garante melhor insolação e proteção para esses cômodos.
Em contraponto à face cega para a rua, uma varanda garante sombra à tarde. Desta forma, se completa um caminho, como desenho contínuo, interligando todos os espaços, subindo e descendo a encosta, sem determinar se estamos nos enterrando ou submergindo.
ficha técnica
local
Cotia SP Brasil
datas
Projeto: 2012
Obra: 2016
arquitetura
Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas (autores); Carlos Faccio, Eduardo Martorelli, Henrique Te Winkel, Hugo Bellini, Julia Jabur Zemella, Marie Lartigue, Marta Onofre, Naiara Hirota, Rodrigo Carvalho (colaboradores).
áreas
Terreno: 2.600 m²
Interna construída: 400 m²
Construída: 730 m²
levantamento topográfico
Projecto
sondagem de solo
Ação Engenharia
estrutura
Companhia de Projetos
instalações
Zamaro
luminotecnia
Lux Projetos
impermeabilização
PROASSP
paisagismo
Soma
irrigação
Irrigar
acústica
Acústica Design
esquadrias
JMar
jardins
Doering paisagismo
construção
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