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projects ISSN 2595-4245


abstracts

português
O partido arquitetônico levou à busca por alternativas ambientais de forma a reduzir o consumo energético, como: uma adequada orientação solar para a implantação da edificação, melhor adaptabilidade ao solo, clima e demais elementos naturais.

english
The architectural concept aimed at finding green alternatives as means for reducing energy consumption, such as adequate solar orientation regarding the building positioning. Besides that, it was sought to better adapt the building to the soil, climate, a

español
El proyecto arquitectónico consideró alternativas ambientales para reducir el consumo de energía, tales como: orientación solar adecuada para la implementación del edificio, mejor adaptabilidad al suelo, clima y otros elementos naturales.

how to quote

LAVECCHIA, Lucas; PEQUI, Leonardo. Sede Administrativa do Parque Natural Fazenda do Carmo. Projetos, São Paulo, ano 19, n. 227.02, Vitruvius, nov. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/19.227/7539>.


Este trabalho é fruto de um longo processo de licenciamento ambiental para a instalação da linha 15-prata do monotrilho, que vai em direção à região leste do município de São Paulo. Considerando a magnitude da implantação da estrutura do monotrilho, foram determinadas diversas compensações ambientais, pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente – SVMA, entre as compensações ambientais exigidas, está a elaboração do projeto e execução da obra da Sede Administrativa do Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo – PNMFC (1).

O projeto apresentado a seguir é uma experiência pública e reflexão entre arquitetura e meio ambiente (2), porém antes de apresentar o projeto, vale ressaltar o histórico da região e suas características.

Breve histórico e local da sede administrativa do PNMFC

A ocupação da área que conhecemos como Parque do Carmo data de meados do século 16. Com o desenvolvimento do século 18 a região deixava de ser rural e aos poucos tornava-se urbana. No início do século 20 havia a antiga fazenda da Ordem Terceira do Carmo, conhecida como Fazenda do Carmo que produzia café. Em meados do século 20 a Fazenda do Carmo foi adquirida por Oscar Americano de Caldas Filho (3), que loteou e fez surgir alguns bairros e, após sua morte na década de 1970, as terras passaram para a Prefeitura de São Paulo.

Com o crescimento econômico, intensa urbanização e valorização imobiliária iniciada em meados do século 20, as pressões sobre as áreas verdes e periféricas foram resultado do desdobro econômico daquela época, que trouxe também a construção da Radial Leste e da linha vermelha do metrô, importantes eixos de mobilidade para a região.

Considerando o crescimento econômico, populacional e demandas de infraestruturas, a Prefeitura de São Paulo ainda na década de 1970, construiu o Parque do Carmo, inaugurado em 1976. Na década de 1980, a Companhia Metropolitana de Habitação – Cohab implantou a Gleba do Pêssego nas proximidades do PNMFC, e no final dos anos de 1980 surge a APA do Carmo ligada ao Governo Estadual. Em 2003 a Prefeitura de São Paulo cria a Unidade de Conservação, conhecida como Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo conforme dispõe o Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, lei Nº 9.985/2000 (4).

Como visto, neste breve histórico, a paisagem criada vem desde a ocupação em meados do século 16 com a transformação do rural em urbano, a atividade agrícola do café, o loteamento da década de 1970 e todas as posteriores transformações do território, vale dizer que este território continua em movimento.

Após contextualizar a região, já consolidada como Unidade de Conservação, e considerando as relevantes condições ambientais de uma importante parte da mata atlântica dentro do município de São Paulo, o desafio foi a construção de uma edificação que abordasse a questão ambiental do nosso tempo, com os conflitos deste século para uma experiência pioneira para a Prefeitura de São Paulo.

A forma da sede

Considerando a Conferência de Estocolmo em 1972 a questão ambiental entrou na pauta do desenvolvimento e planejamento das cidades juntamente com a Agenda-21, firmada na Conferência Rio-92 (5). Após estas conferências, as visões e ações não refletem de maneira pragmática a alteração necessária para a espacialização da ocupação humana sobre o território, de modo que o mesmo seja ocupado de maneira gradual, garantindo a qualidade ambiental do território.

A forma do edifício da Sede Administrativa do PNMFC buscou alternativas de caráter ambiental, como redução do consumo energético, redução de consumo de água e de produção de resíduos de obra. Além disso, buscou adequada orientação solar quanto à implantação da edificação, visando à maior eficiência energética, orientando as placas fotovoltaicas para o norte. Por fim, buscou-se melhor adaptabilidade ao solo, ao clima e aos demais elementos naturais.

O edifício foi concebido com o propósito de ser uma edificação de baixo impacto ambiental. Uma vez que a área de implantação é plana e baixa, acarretando em períodos alagadiços em épocas de chuvas, priorizou-se preservar a característica natural do solo: argiloso e enxarcado. Deste modo, não foi necessário executar troca de solo ou obra de drenagem de grande impacto. Foi desenhado um edifício elevado que chega ao solo apenas com suas estruturas, lembrando as características de uma palafita (6).

A implantação da edificação, em relação ao sol, foi devidamente avaliada para melhor desempenho e conforto ambiental no interior do edifício. A distribuição dos espaços interiores foi disposta criteriosamente para garantir uma correta ventilação transversal de todos os espaços, bem como, maior aproveitamento de luz natural feito por claraboias instaladas na cobertura.

Sede Administrativa do Parque Natural Fazenda do Carmo, eixo, São Paulo, Secretaria do Verde e Meio Ambiente – SVMA, 2018
Foto divulgação

O acesso é feito por calçadas que levam até o deck, com bancos, paraciclo e os painéis solares fotovoltaicos, este acesso é conectado com a passarela elevada, que possibilita caminhar no entorno da edificação e acessar o interior do edifício. Na concepção dos espaços internos, buscou-se a setorização dos núcleos de atividade: núcleo administrativo (ao sul) e núcleo de educação ambiental (ao norte).

No núcleo administrativo (ao sul) foram previstos usos voltados ao suporte de manutenção, manejo e fiscalização do Parque e atividades de estudos e monitoramento ambiental. Este núcleo conta com sala de administração e pesquisa, alojamento para pesquisadores, recepção, vestiários, sanitários, cozinha com refeitório para funcionários e área de apoio e suporte às atividades de limpeza e manejo.

O núcleo de educação ambiental (ao norte), por sua vez, é onde as atividades referentes ao tema serão realizadas. Trata-se de sala para aulas e palestras com sanitários públicos adaptado.

Considerando a proposta de inclusão social e cidadania, disposta na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, o projeto de arquitetura passou pela aprovação da Comissão Permanente de Acessibilidade – CPA, vinculada à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência – SMPED (7).

Quanto ao arranjo paisagístico, foi elaborado o projeto de plantio pela SVMA, onde foram utilizadas espécies que contribuem para a preservação da vegetação e dos ecossistemas locais. Neste sentido, com o objetivo de enriquecer a área e incorporar a vegetação à edificação, o projeto paisagístico utilizou vegetação nativa e espécies ameaçadas em extinção, potencializando a flora e fauna local. Além disso, a drenagem do local é feita com um laguinho artificial que direcionam as águas pluviais, e aos poucos estas águas evaporam e infiltram no solo, isto cria uma área úmida e convidativa a algumas espécies específicas de flora e fauna.

Ainda sobre a arquitetura paisagística, não se trata apenas de plantio de árvores, mas sua relação com o entorno e com a Unidade de Conservação no sentido histórico da área. Como foi dito no início do texto, a área que já foi uma fazenda de produção de café no passado, nos surpreendeu com uma joia arqueológica do início do século 20. Durante as obras, foi achada uma pedra com formato circular, com detalhes que nos permite à primeira vista, supor que se trata de uma peça antiga de macerar café com tração animal. Imediatamente a peça foi incorporada ao paisagismo e hoje se encontra inserida na entrada da edificação para lembrar a todos os visitantes o passado da área e sua importância quanto história e memória para as futuras gerações.

O desempenho da sede administrativa

O edifício foi desenvolvido com os princípios básicos para melhor desempenho ambiental em relação às edificações convencionais, para isto, incorporou preocupações com o meio ambiente desde a obra, passando pela questão energética até o tratamento de efluentes.

O esgoto é tratado por um sistema conhecido como fossa biodigestora, que consiste no tratamento por meio de mecanismos naturais com a utilização de macrófitas (vegetação aquática). Este método é construído para tratamento e controle de resíduos domésticos, sendo formado por um sistema úmido, no qual o solo é mantido suficientemente saturado para o estabelecimento de plantas macrófitas. É um procedimento com baixo custo, baixa manutenção e simplicidade de operação, sem adição complementar de produtos químicos ou biológicos e sem a necessidade de ligação na rede pública. No entanto, considerando o histórico da região e a possibilidade de uma emergência, foi decidido ligar com a rede pública de tratamento de esgoto, sendo possível acioná-lo quando necessário ou em casos de manutenção da fossa biodigestora.

Já a rede de esgotos das águas “cinzas”, provenientes dos bebedouros e pias, escoa para o “Círculo de Bananeiras”, que consiste em um sistema baseado na filtragem da água utilizando bananeiras. Estas águas, em contato com camadas de folhas secas depositadas no interior deste círculo, permitem uma combinação ideal para a compostagem dos resíduos. Este sistema permite filtragem de ótima qualidade e sua absorção direta no solo, proporcionando o restabelecimento do ciclo hidrológico local.

A Sede Administrativa também possui fonte de energia limpa por meio de painéis solares fotovoltaicos, que possuem a função de converter a energia solar em energia elétrica para o uso diário das atividades da edificação. Além disso, para evitar a necessidade constante de uso de lâmpadas e ar condicionado, pensou-se no máximo aproveitamento da luz natural. Assim, levando em conta também o seu controle e a menor incidência solar direta na edificação, usou-se das portas como soluções arquitetônicas que permitem grandes aberturas, possibilitando maior controle do conforto térmico.

No sentido de aproveitar ao máximo os recursos naturais, a edificação também possui sistema de captação das águas pluviais possibilitado por sua grande cobertura. As águas são captadas pelas calhas e direcionadas para dois tanques situados ao fundo da edificação, podendo ser utilizadas para irrigação, descargas de vasos sanitários, limpeza de ferramentas e outros fins similares, além de ser um equipamento com viés pedagógico. Há, também, um poço artesiano para utilização de água do lençol freático, para auxiliar nas atividades de manutenção da edificação.

A construção da sede

A ideia central foi evitar ou minimizar qualquer tipo de contaminação, degradação e poluição ao meio ambiente. Neste sentido, privilegiou-se o uso eficiente de materiais, com adoção de produtos duráveis não somente pelas suas características técnicas, mas também em função do seu desempenho e comportamento ao longo do tempo.

O projeto foi concebido usando metodologias que incentivassem a alta durabilidade e baixa manutenção, além da fácil utilização e disponibilidade no mercado, garantindo aspectos de solidez e beleza da edificação, bem como a racionalização da montagem da construção.

Todas as fundações da Sede Administrativa, bem como da caixa d’água e dos painéis solares fotovoltaicos foram construídas em estacas pré-moldadas de concreto. Já as estruturas foram concebidas em três tipos de materiais: concreto usinado para os pilaretes, vigas metálicas para apoio do piso da edificação e madeira para os pilares e vigas em arco que apoiam a cobertura.

Sede Administrativa do Parque Natural Fazenda do Carmo, detalhe das árvores solares, São Paulo, Secretaria do Verde e Meio Ambiente – SVMA, 2018
Foto divulgação

Cada material foi definido objetivando maior racionalização da construção, desde a fabricação, transporte e montagem, promovendo baixo impacto no solo e na produção de resíduos da obra. Dessa forma, todo o processo para construção da edificação considerou três aspetos importantes: 1) qualidade e conforto ambiental interno e externo, 2) o uso de técnicas e métodos que permitem uma construção mais racional e, por fim, 3) baixo impacto ambiental com desempenho energético eficiente.

Uma perspectiva para o futuro

Com esta experiência pioneira na Prefeitura de São Paulo, buscou-se cumprir o objetivo do projeto e da execução da obra, apresentando a edificação como modelo de construção de qualidade ambiental à cidade e ao Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo.

Esta experiência dialoga com duas vertentes conflitantes nos tempos atuais: o meio embiente e forma de ocupação do território, neste sentido, este processo busca evidenciar as possibilidades de implantação de novos equipamentos cuja intenção é conciliar o meio ambiente e arquitetura, ou seja, a preservação ambiental dos recursos naturais, fundamentais para a vida no futuro, e em seguida a construção de arquiteturas que usem os recursos naturais em potencialidades para novas construções.

No entanto, não se trata de uma busca por uma regra ou tratado, mas de observar cada parte do território, suas fragilidades, potencialidades e formas de ocupação para cada porção da cidade, para então desenvolvê-las com maior responsabilidade, apontando para novas formas de ocupação e uso racional dos elementos naturais.

Este trabalho busca uma reflexão ao modo de produção atual e propõe novas formas de equilíbrio entre natureza, legislação, projeto e construção, com premissas de desenho ambiental.

Além das tecnologias e equipamentos que transformam os recursos naturais em insumos para energia, há um elemento estruturador importantíssimo para a qualidade desta obra: o espaço público, pois é este elemento que transforma a teoria em ação prática para as populações do entorno, oferecendo um espaço público de qualidade às pesquisas, visitas, palestras e ações voltadas ao tema, bem como um espaço com gestão pública participativa, e novas formas de experimentar o lugar, com novas perspectivas que apontam para o futuro do lugar, para a responsabilidade com o meio ambiente, com o entorno, com o córrego, com o edifício etc.

Vale ressaltar também, a forma pedagógica evidente na diferença entre o modo convencional de construção e as novas possibilidades implantadas aqui. No futuro, um estudo mais aprofundado será capaz de mostrar a economicidade e resultados na comparação deste edifício com outro edifício do mesmo porte. Neste sentido é possível vislumbrar que esta arquitetura nos molda e nos ensina a viver de uma maneira mais harmônica com o meio ambiente, sobretudo no que diz respeito ao uso de recursos naturais e ocupação territorial.

Muitos desafios e muitas pressões ainda estão atuando sobre o território neste momento, em ambientes extremamente urbanizados, se faz necessária uma mudança na maneira de como estamos construindo, e perceber que o desenho ambiental traz algumas soluções que se aplicadas, podem melhorar muito nosso ambiente e meio ambiente.

notas

1
O Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo – PNMFC foi criado em 12 de julho de 2003 pelo Decreto Municipal Nº 43.329, se localiza no interior da APA Parque Fazenda do Carmo e é classificado como Unidade de Conservação de Proteção Integral, sob os termos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. A partir do Decreto Municipal nº 50.201 de 2008 a Secretaria do Verde e Meio Ambiente – SVMA efetiva a gestão da área. Ver: SÃO PAULO (MUNICÍPIO). Conflitos socioambientais do Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo. São Paulo, Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, 2011.

2
Sobre questões teóricas relacionadas ao tema, ver: PANZINI, Franco. Projetar a natureza – arquitetura da paisagem e dos jardins desde as origens até a época contemporânea. São Paulo, Editora Senac São Paulo, 2013; SCHUTZER, Guilherme José. Cidade e meio ambiente a apropriação do relevo no desenho ambiental urbano. São Paulo, Edusp, 2012.

3
Oscar Americano de Caldas Filho foi engenheiro brasileiro, instituiu a Fundação Maria Luísa e Oscar Americano.

4
Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC estabelece critérios e normas para a criação, implantação de gestão das unidades de conservação.

5
Conferência de Estocolmo em 1972 tratou de temas relacionados às melhorias e relações com o meio ambiente. Já a Conferência Rio-92 foi um encontro para discutir medidas para diminuir as medidas de degradação ambiental e garantir a existência das futuras gerações.

6
Construções sobre estacas de madeiras, comuns em áreas pantanosas, rios, região amazônica, mas também é encontrada em cidade como Santos no litoral de São Paulo.

7
Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida tem como missão Promover o protagonismo da pessoa com deficiência e sua efetiva participação na sociedade. Foi oficializada com a aprovação da Lei nº 14.659, de 26 de dezembro de 2007 e publicada no Diário Oficial da Cidade do dia 27 de dezembro de 2007. O Projeto de Lei nº 793/2007 do Executivo, que cria a Secretaria, foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo em sessão do dia 20 de dezembro de 2007.

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227.02 edifício e meio ambiente
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