O interior do sobrado tombado do antigo cinema da cidade de Paraty encontrava-se em ruínas, porém livre de divisórias, tal qual uma casca vazia, inacabada e aberta à livre ocupação. As marcas do tempo, das sucessivas reformas e modificações, todas à mostra revelando parte da história do lugar. Como uma obra aberta, tratava-se de um convite às novas possibilidades, mas também de uma forte memória e identidade à preservar. O projeto de arquitetura se orienta, portanto, a partir da percepção de que a história deste prédio tombado não está congelada no tempo, mas aberta à sua continuidade como espaço vivo de cultura e memória em permanente construção.
Com efeito, as decisões de projeto norteiam-se pela mínima intervenção necessária para a adequada realização das atividades propostas, e valorização/proteção do patrimônio histórico e afetivo existente. Busca-se a distinção intencional entre elementos novos dos existentes, evitando confusão entre o antigo e o novo, sem prejuízo do conjunto arquitetônico. Didaticamente, o funcionamento construtivo, elétrico e hidráulico é mantido aparente tanto quanto possível. Espaços de serviço, apoio e infraestrutura são concentrados de modo a potencializar a continuidade do espaço livre e sua flexibilidade de uso.
O programa de atividades principal é constituído pela sala multiuso de cinema-teatro, que pode ser francamente aberta para o espaço de foyer e exposições através de portas pivotantes. É por este espaço que é feita a entrada e recepção do público da rua, definindo-se um eixo de continuidade espacial que almeja integrar o máximo possível as atividades culturais do edifício à praça pública em sua frente. Em paralelo a este eixo constitui-se outro, complementar: um eixo de circulação, serviços, apoio e infraestrutura. É organizado por critério de uso público a partir da entrada, abrigando balcão de recepção/copa, escada para o segundo pavimento, rota acessível à sala multiuso de cinema-teatro, lavatórios e sanitários, acesso de serviços, depósito, camarim e, aos fundos, acesso à coxia.
O segundo andar existente era composto em grande parte por uma estrutura e laje de concreto armado em péssimas condições, interditado ao uso. Propôs-se a substituição destes elementos comprometidos e o estabelecimento de uma nova estrutura, independente do arcabouço antigo. Uma estrutura metálica, ligeiramente solta da alvenaria original, apoia uma nova laje para os usos do segundo pavimento, sem comprometer estruturalmente as paredes existentes. Trata-se de uma sala multiuso principal e outra de leitura, além da cabine de projeção, administração, banheiro e copa para funcionários, depósito e acesso para plataforma e terraço técnico. A plataforma atravessa por cima do palco e tela de projeção, potencializando o controle luminotécnico e de dispositivos de cenário. O terraço com suas claraboias, em conjunto com o pátio descoberto, possibilitam a iluminação e ventilação naturais de todos os ambientes de serviço, no primeiro e segundo pavimentos. Além disso, permite adequado acesso de manutenção ao telhado e abriga discretamente os condensadores de ar condicionado que atendem a sala principal. A cobertura original foi conservada como está na medida do possível, com exceção do ligeiro deslocamento do pátio descoberto existente para melhor atender os novos usos e do mencionado terraço técnico.
Filme <i>Cinema da Praça, Paraty</i>
ficha técnica
projeto
Cinema da Praça
local
Paraty RJ
ano
2018
área
475m²
arquitetura
arquitetos Luís Tavares e Marinho Velloso (autores) / Arquipélago Arquitetos
cliente
Secretaria Municipal de Cultura de Paraty
construção
Santa Rosa Construtora
luminotécnica
Ricardo Heder / LUX Projetos
ar condicionado
Itaclima
cenotecnia
Telem
complementares
BAA Arquitetura
sinalização
Patrícia Gibrail
coordenadora executiva
Andrea Maseda
foto
Pedro Napolitano Prata
vídeo
Ocupação 16