Homem que teve a vida e a obra tão extensa quanto fundamental para a construção do Brasil no século 20, Lúcio Costa, na maturidade, dedicou-se a produzir este opúsculo de bolso, intitulado Arquitetura. Ao idealizador de Brasília e da Barra da Tijuca, foi delegada a tarefa de escrever sobre o seu ofício – a arquitetura – tendo como público-alvo estudantes secundaristas.
Patrocinado pelo Ministério da Educação – cujo edifício-sede no Rio Lúcio Costa projetou em 1936, juntamente com uma equipe de jovens promissores arquitetos brasileiros e mais a consultoria de Le Corbusier – este Arquitetura passou, infelizmente, mais de 20 anos escondido do público. Era, portanto, uma obra praticamente desconhecida, até por alguns estudiosos renomados da obra desse homem que, pode-se assim dizer, foi um dos principais mentores e construtores do Brasil moderno novecentista.
A despeito da visível singeleza da obra em questão, Lúcio Costa empenhou-se de tal maneira que nos fez lembrar o célebre ensinamento, dedicado aos jovens estudantes de arquitetura, do arquiteto norte americano Frank Lloyd Wright, seu contemporâneo: ''Considere tão desejável construir um galinheiro ou uma catedral; o caráter pode ser grande no pequeno ou pequeno no grande".
Pois a leitura de Arquitetura nos revela, numa edição simples e sem ornamentos, a grandeza do pensamento de Lúcio Costa. Já nos preâmbulos do livro, a partir das palavras da arquiteta Maria Elisa Costa, sua filha e colaboradora, temos a exata medida do significado e da importância que Lúcio dedicou a esta tarefa que lhe fora delegada: ''Como se tratava de contribuir para a formação de gente moça, Lúcio se empenhou e conseguiu concentrar, num só volume compacto, aquilo que a seu ver era o mais relevante, não apenas para formar um eventual futuro arquiteto, mas no sentido de mostrar a todos um caminho para chegar mais perto da qualidade brasileira.'.
Arquitetura é, originalmente, parte integrante de uma coleção composta por dez títulos, na qual Lúcio Costa tinha como colegas escritores figuras importantes como Gilberto Freyre (Realidade brasileira), Josué Montello (Literatura) e Maria Clara Machado (Teatro). O livro é estruturado em 12 capítulos, mais a apresentação escrita pelo arquiteto Jorge Hue, um glossário e, pedagogicamente, um capítulo de ''orientação para o professor'', onde o autor fornece os objetivos gerais e específicos de sua obra, como também sugere uma série de atividades didáticas que os professores poderão desenvolver em sala de aula. Trata-se, portanto, de uma leitura essencial não apenas aos estudantes secundaristas mas para todo aquele interessado em aspectos fundadores da nossa arte e arquitetura.
[resenha publicada originalmente no Jornal do Brasil, Caderno Idéias, seção Livros, 08 mar. 2003]
sobre o autor
Antônio Agenor de Melo Barbosa é professor de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, da Universidade Gama Filho e do Centro Universitário Plínio Leite.