Sendo possível uma divisão entre o esforço intelectual, para a descrição e o estudo de uma determinada problemática social, e a formulação de soluções ou alternativas, para o seu enfrentamento, o livro do arquiteto e professor Alberto Sousa, sobre a Habitação Popular no Recife, poderia figurar na linha dos trabalhos que se preocupam em fornecer os fundamentos incentivadores de novas propostas.
Assim é que o livro Do mocambo à favela: Recife, 1920-1990 apresenta aos seus leitores, com uma linguagem simples e direta, para iniciados ou não em sua temática, uma avaliação dos principais estudos já realizados, um método de abordagem e apêndices igualmente propositivos, instigantes e controversos.
Os estudos apontados visam iluminar o caminho de estudantes e pesquisadores, no sentido de facilitar o seu trabalho, partindo de conteúdos que interessam pela riqueza de informações. O método proposto, que pode ser percebido, tem um valor científico pelo fato de ser facilmente apreensível e aplicável a outras realidades urbanas e metropolitanas brasileiras, incluindo em sua estrutura: evolução histórica, localização na estrutura urbana e no processo de estruturação urbana, padrões de ocupação, face a aspectos morfológicos e paisagísticos, aspectos construtivos, disponibilidade de serviços urbanos, regime de ocupação da terra, o fator aluguel e o inventário das intervenções públicas são os vetores estruturantes propostos. A identificação do aluguel, como fator interno de motivação à proliferação da habitação popular, e a crítica à diretriz de política habitacional, fundada nos lotes urbanizados, são os conteúdos dos apêndices do livro, de grande valia ao campo dos debates e proposições.
O livro do professor Alberto Sousa torna-se, pelo seu conteúdo e estruturação de abordagem, uma leitura indispensável para estudantes e professores do meio universitário, arquitetos, planejadores urbanos e demais técnicos que se dedicam à questão da habitação, e a empresários da construção civil e corpos técnicos do poder público, porque encontrarão em seu texto novas formas de olhar, pensar e agir sobre uma das realidades mais constrangedoras de nosso quadro social urbano.
Talvez a aurora das soluções da Habitação Popular no Brasil esteja no sentido de integrar e redirecionar energias sociais existentes em seu processo espontâneo de sustentação, em integrar tecnologias, deixando de encará-las como mágicas ou mutuamente excludentes, em colocar em prática, não de maneira episódica, políticas e recursos para a requalificação de espaços ocupados e abertura de novas áreas, em dar sentido aos esforços de pesquisa da universidade brasileira e finalmente esteja em “fazer” nossa Sociedade se desenvolver... Muito disso tudo é o que nos sugere a leitura do texto do professor Alberto Sousa.
sobre o autor
Mário Sérgio Pini é arquiteto e editor (PINI), estabelecido em São Paulo