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GHIZZI, Eluiza Bortolotto. Arquitetos e a ferramenta. Vida digital: duas tendências? Resenhas Online, São Paulo, ano 03, n. 030.02, Vitruvius, jun. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/03.030/3186>.


Natural born CAADesigners é o sexto título da série IT Revolution (The Information Technology Revolution in Architecture), que inclui os seguintes títulos: HyperArchitecture, Digital Eisenman, Information Architecture, Virtual Terragni e Digital Stories. As publicações da coleção trazem dados e reflexões sobre os modos como a dimensão virtual afeta os arquitetos e a arquitetura em geral. Natural Born CAADesigners conta com um texto introdutório escrito por Antonino Saggio (Università La Sapienza, Facoltà di Architettura – Italia) que, a par de apresentar a obra, inclui análises próprias acerca do tema geral das pesquisas contemporâneas em arquitetura, que são de uma riqueza particular.

Christian Pongratz e Maria Rita Perbellini selecionam neste livro alguns nomes da nova geração de arquitetos que desenvolvem suas pesquisas arquitetônicas com o uso das tecnologias digitais e sobre as relações dessas tecnologias com a arquitetura. Os arquitetos selecionados são pertencentes a 10 estúdios. Trata-se de jovens-arquitetos (aproximadamente 40 anos) que foram introduzidos na profissão quando o computador já era utilizado como ferramenta de trabalho; portanto, “nasceram” arquitetos com o computador. Como toda a sua geração, têm essa tecnologia incluída na formação da sua visão das coisas e do mundo. Esses arquitetos atuam nos Estados Unidos, embora nem sempre sejam nascidos ou formados na profissão dentro desse país.

Segundo Antonino Saggio, Pongratz e Perbellini trabalham como que sobre uma “nebulosa de idéias” que não podem nem pretendem clarear. Isso é compreensível se considerarmos a natureza ainda emergente e inacabada do terreno ao qual se dedicam e a diversidade de conceitos e experimentos. Os conceitos são procedentes de diferentes campos da ciência como a física, a biologia ou a matemática, bem como da filosofia, entre outros. Os experimentos envolvem a pesquisa de formas fluidas, antropomórficas, anfíbias e animadas, estados modais e comportamentais, possíveis dimensões virtuais e os processos que compõem a complexidade da vida contemporânea. Saggio compara esses experimentos com os que tinham lugar nos ateliês florentinos, de artistas e arquitetos, no início do século XV (Quattocento). Tal como aqueles eram “nascidos com a perspectiva”, estes novos arquitetos de nosso tempo são “nascidos com o computador” e, tal como aqueles, são tomados por um “espírito” de revisão e transformação, que é estimulado tanto pelas críticas a certas teorias e práticas arquitetônicas do nosso passado recente quanto pelo conhecimento e pelos modos de vida próprios da nossa época.

O conteúdo do livro é composto de artigos que analisam duas tendências principais: a da arquitetura da De-formation e a da arquitetura da In-formation. Em linhas gerais o texto indica que os novos designers estão considerando, de um lado (De-formation), a primazia da forma e as possibilidades de manipulação e deformação, especialmente aquelas disponibilizadas pelo computador e não mais circunscritas pelas limitações da geometria euclidiana; não se trata, como bem enfatiza Saggio, de manipulação da forma por mero prazer, mas de fazer isso com a consciência de que a forma está imbuída de idéias e modos de pensar. De outro lado, temos a tendência (In-formation) que antepõe à forma o conhecimento de nossa época e aquilo que nos caracteriza como cultura de consumo em meio a constantes e acelerados fluxos de informação e de transformação. Esta segunda tendência está atenta à valorização das imagens na nossa cultura, ao mundo da arte, do design e das mídias no ambiente fluido do ciberespaço e às relações híbridas na cultura (como entre ciberespaço e ambiente físico). Está preocupada com o papel da arquitetura nesse novo meio-ambiente cultural e certa da ineficácia dos “ícones” do Modernismo para tratar dessas questões. Diante disso, se auto-incumbiu de traçar novas referências para a arquitetura, livres da abstração formal de cunho modernista e de referências figurativas de outras épocas; por outro lado, está mais ligada à abundância figurativa da sua própria época, ao modo como a tecnologia afeta a cultura e à idéia de ambientes gerativos “não planejados”; em síntese: às relações interativas entre arquitetura, tecnologia, usuário e ambiente.

O primeiro capítulo, intitulado Scene of the Crime, analisa, primeiramente, o fato de que o computador, enquanto ferramenta de projeto, dá início a mudanças no modo de conceber modalidades espaciais e permite à arquitetura vencer certas limitações nesse campo; analisa, ainda, o fato de que isso tem relação com o tipo de lógica implicada na linguagem da máquina. Posteriormente, volta-se para a progressão dos usos do computador, desde aqueles usos que enfatizavam mais o aumento da produtividade e o mero impacto visual das imagens digitais no trabalho arquitetônico até a real exploração do “uso imaginativo” das técnicas digitais. Em seguida, trata da necessidade de um olhar para a arquitetura que “atravesse” as diferentes disciplinas que têm contribuído para a construção do conhecimento contemporâneo e cujas idéias tendem a modificar nosso pensamento e nossa percepção. Por fim, dá ênfase ao fato de que chamado estado “líqüido” associado à arquitetura e ao ambiente urbano já permeia, de certo modo, nosso ambiente físico ligado à evolução tecnológica, às experiências de “comunicação global”, à lógica do “digital” e à da “interconexão”.

No segundo capítulo, intitulado The Young American Architects são expostas considerações gerais sobre os arquitetos selecionados. Primeiramente, do quanto esses arquitetos são fundamentalmente diferentes dos modernistas; enquanto outros, a exemplo de Gehry, Eisenman ou Koolhaas podem ser ditos como grandemente influenciados por arquitetos como Mies van der Rohe, Le Corbusier ou Aalto este grupo de que trata o livro pode ser considerado “sem pai”; trata, ainda, dos variados tipos de software envolvidos nos seus trabalhos, além das diferenças entre esses arquitetos, no que se refere aos países onde nasceram e/ou se formaram na profissão e/ou aturam profissionalmente, enfatizando que, apesar de procederem de diferentes culturas, isso não é um fator importante no seu trabalho, dado que a “nova cultura transnacional” parece neutralizar diferenças culturais locais. O capítulo também vai tratar de experiências no ensino da arquitetura envolvendo pesquisas inovadoras encaminhadas por esses arquitetos.

O terceiro capítulo, intitulado Premeditation, dá atenção às relações complementares entre diferentes paradigmas na formação do conhecimento hoje, fazendo referência a uma corrente de idéias que se volta para organizações e estruturas “intermediárias” ou o ‘híbridas”. Além disso, esse capítulo trata das pesquisas envolvendo modelos de “flexibilidade”, ligada a superfícies topológicas e à geração de espaços, mais especificamente, se refere à tendência da de-formation. Por fim, vai abordar a relação dos arquitetos e da arquitetura com a cultura contemporânea, ou seja, da tendência da in-formation.

O capítulo quarto, intitulado Differences, é onde são inseridas as referências diretas ao tipo de pesquisa desenvolvido por cada um dos 10 estúdios selecionados. Aqui que eles são divididos segundo a abordagem da de-formation ou da in-formation. Todavia, o critério de divisão não pretende deixar de lado, como enfatizam Pongratz e Perbellini, a expressão singular dos designers, diferenciadora dos seus trabalhos.

A primeira seção do quarto capítulo, intitulada De-formation Architecture, inclui: Karl Chu (X Kavya), suas pesquisas em geometrias não euclidianas e sua noção de modal space; Greg Lynn (Form), autor do projeto da Embriological House, e seus estudos em morfologia, geometria e formas em geral, fazendo referência à influência da animação na sua obra; Jesse Reiser + Nanako Umemoto (RUR Architecture) e seu empenho no desenvolvimento de algo que pode ser continuamente modificável e cambiável, voltado para a concepção de sistemas complexos sem perda da flexibilidade; e Nonchi Wang (Anphibian Arc) que desde meados de 1993 tem estado focando a idéia de “Arquitetura Líqüida” (que foi cunhada por Nonchi Wang em 1993 independentemente de Marcos Novak), uma resposta arquitetônica para as constantes mudanças da consciência humana através do domínio digital na era do computador.

A segunda seção do quarto capítulo, intitulada In-formation Architecture, inclui: Neil M Denari (Neil M. Denari Architects) e suas preocupações com os processos de significação na cultura de consumo e com as respostas apropriadas da arquitetura; Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio (Diller + Scofidio), que são referenciados por suas abordagens transdisciplinares explorando as intersecções da arquitetura e das artes visuais e performáticas; Wink Dubledam (Architectonics), cuja arquitetura é apresentada como um verdadeiro campo de experimentações, no qual explora conceitos fundados por Gilles Deleuze, Paul Virilio ou Michel Serres; Marcos Novak e suas noções de transarchitectures e liqüid architectures, bem como suas pesquisas que combinam arquitetura, realidade virtual, ciberespaço, interatividade e conceitos de rede, entre outros; Hani Rashid e Lise-Anne Couture (Asymptote Architecture), que estão interessadas em geração da forma através do uso de computadores, todavia, incorporando a leitura e interpretação de “estratos contextuais, fenomênicos e culturais que rodeiam o lugar, programa e significado” de cada edifício que estão projetando; e, por fim, Thomas Lesses (Lesses Architecture) que levanta a questão dos valores e significados associados às formas como aquilo que de fato importa na arquitetura como uma linguagem que pode ser utilizada tanto para fins críticos quanto conservadores; não sendo tão claro que formas que meramente usam o computador sejam necessariamente críticas e ofereçam resistência a qualquer sistema de normas já estabelecido.

O livro inclui um Glossário por meio do qual o leitor poderá se familiarizar com conceitos que vêm sendo incluídos no repertório arquitetônico. O Glossário, por si só, constrói um diagrama dos campos de estudo dessa arquitetura. Além dele, a obra traça um breve perfil dos autores, incluindo dados sobre onde o leitor poderá encontrar mais informações sobre os estúdios ou sobre como fazer contato diretamente com os arquitetos. O texto sobre o trabalho dos arquitetos é acompanhado de muitas imagens que permitem um acesso do leitor a aspectos da linguagem arquitetônica com que cada um vem se apresentando, funcionando complementarmente em relação ao texto.

Natural Born CAADesigners está entre os textos que vêm registrando os primeiros passos de um dos mais importantes debates da arquitetura hoje. Esse debate implica, necessariamente, que nos voltemos para os fatos arquitetônicos que compõem o vasto cenário atual. Além disso, envolve iniciativas em reconhecer nos fatos e transformar em conhecimento manipulável e criticável tanto a nossa herança histórica quanto sua inserção na cultura contemporânea e o feixe de possibilidades que se abre para o futuro na arquitetura. Para o desenvolvimento da arquitetura são igualmente importantes tanto os fatos arquitetônicos quanto as análises. Assim como os fatos são diversos entre si, diversas são as possibilidades de análise que se apresentam. Natural Born CAADesigners, como Pongratz e Perbellini esclareceram, se referem a arquitetos que participam hoje de um cenário específico. Além disso, suas idéias e projetos foram alvo nesse livro de um ponto de vista particular. A obra apresenta-se, portanto, àqueles interessados no debate contemporâneo da arquitetura, como um recorte possível, associado a uma das perspectivas possíveis, sobre a arquitetura da chamada “Era Digital”. Um recorte e uma abordagem muito bem organizados e que têm, ainda, o mérito de oferecer ao leitor dados que podem abrir portas a novas investigações.

sobre o autorEluiza Bortolotto Ghizzi é arquiteta, professora do Departamento de Arte e Comunicação da UFMS, mestre e doutoranda em Comunicação e Semiótica na PUC/SP

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