Foi uma surpresa a publicação na Itália do livro de Leonardo Benevolo L´architettura nel novo millenio (Gius. Laterza & Figli, Roma/Bari, 2006) e a sua quase imediata tradução no Brasil pela editora Estação Liberdade de São Paulo (2007). Fato surpreendente, que demonstra as velozes articulações do sistema editorial internacional, já que o livro Space,Time and Architecture de Sigfried Giedion, um bestseller mundial, teve que aguardar meio século para ser traduzido no Brasil. Na realidade, a pesar que é mais de uma década que não se conhece a produção teórica de Benévolo, ele continua hoje com uma forte presença no nosso sistema acadêmico já que os seus antológicos tratados sobre a arquitetura moderna e a história da cidade são referências quase obrigatórias nas disciplinas teóricas das escolas de arquitetura. E surpreendentemente, sendo a sua obra datada nas décadas de sessenta e setenta, não foi esquecida com o surgimento dos livros de textos posteriores tais como os de Kenneth Frampton, Manfredo Tafuri, Francesco dal Co, e William Curtis.
Desde 1960, quando se publicou a História da arquitetura moderna sou um fã de Benevolo. Conheci-o em 1962 quando palestrava na Faculdade de Arquitetura de Florença e manifestei naquele encontro minha admiração pelo monumental e inovador estudo sobre a evolução da arquitetura nos séculos XIX e XX. Como assistente na cadeira de História da Arquitetura Moderna na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Buenos Aires, difundi o livro – ainda na versão italiana – entre os alunos do meu grupo de trabalhos práticos. Quando em 1963, fui convidado em Cuba para assumir a cadeira de História da Arquitetura na Faculdade de Havana, assim que apareceu à tradução em espanhol da Gustavo Gili, passei a utilizá-lo como texto básico nas palestras sobre arquitetura moderna. Por conta das dificuldades econômicas existentes na ilha que não permitiam a importação de livros, consegui que nos anos setenta os dois volumes fossem reproduzidos “revolucionariamente” – sem o pagamento dos direitos autorais – e entregues gratuitamente a todos os alunos que assistiam às aulas de história nas Faculdades de Arquitetura espalhadas no país.
Por que os seus livros obtiveram essa douradura popularidade entre estudantes e professores das escolas de arquitetura na segunda metade do século vinte? Benevolo foi o primeiro a elaborar uma história linear e universal da arquitetura moderna, que começava no final do século XVIII – com a Revolução Francesa – e chegava até hoje – no início do século XXI –, com as sucessivas atualizações inseridas nas oito edições publicadas. Assim conseguiu organizar um estudo equilibrado e abrangente do panorama universal, com um relacionamento dialético entre sociedade, cultura, arquitetura e urbanismo, o que não havia sido feito nos livros precedentes. A sua equanimidade e o seu cuidado em não cair em extremismos ideológicos e políticos, mantendo uma visão que privilegiava a democracia e o liberalismo burguês baseada na esperança otimista do Iluminismo e associada à visão italiana do partido da Democracia Cristã, contribuíram para a sua aceitação e permanência no meio acadêmico. Postura ideológica que não foi compreendida por Josep Maria Montaner no seu recente livro de crítica publicado no Brasil. Ele o identificou com as teses marxistas do predomínio das estruturas sociais e econômicas sobre a superestrutura artística e cultural, condicionamento ausente na visão de Benevolo.
Na tessitura da complexa história evolutiva do Movimento Moderno canônico, que se identificava com a procura da melhoria e o bem-estar da sociedade do século XX, obteve um equilíbrio, tanto entre o desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo, quanto na articulação entre a abordagem estética individual dos mestres e as forças coletivas que definiam a configuração dos conjuntos urbanos. Sempre defendeu os fundamentos racionais e sociais da arquitetura moderna em contraposição às tendências individualistas irracionais e subjetivas que surgiram nos anos sessenta e se fortaleceram com o Pós-modernismo, movimento formalista que ele persistentemente combateu. Em seus posteriores livros como Le origini dell´urbanistica moderna (1963) e a difundida e popular Storia della Cittá (1975) – publicados no Brasil pela Editora Perspectiva –, privilegiou a escala urbanística sobre a arquitetônica, direcionada aos conteúdos sociais que definiam o desenvolvimento da cidade moderna. Com relação à transposição da leitura “moderna” da arquitetura – na articulação entre espaço, forma e sociedade – no seu estudo monumental sobre a arquitetura da Renascença (1968), estabeleceu uma visão inovadora no processo evolutivo estilístico entre o Renascimento, o Maneirismo e o Barroco. Entretanto, uma das maiores qualidades, aquela que talvez tivesse garantido o sucesso entre os jovens estudantes, foi o caráter didático e discursivo dos seus textos, de fácil e apaixonante leitura.
Na realidade, Benevolo preencheu um vazio na história da arquitetura que perdurou na primeira metade do século vinte. Para nós, formados neste período, tínhamos que estudar nos textos acadêmicos de Banister Fletcher, History of architecture on the comparative method for the student, Craftsman and amateur (1896) – considerado o livro mais vendido do século vinte – e a Histoire de l´architecture (1899) de Auguste Choisy. Com a difusão dos livros de Nikolaus Pevsner – Pioneers of the Modern Movement from William Morris to Walter Gropius (1936) e da An outline of european architecture (1942) –, a interpretação do surgimento da modernidade no design e uma leitura com novas categorias da arquitetura clássica, apareceram com uma aragem renovadora nas nossas leituras. Sem dúvida a revolução aconteceria com o livro publicado nos Estados Unidos do historiador da arte suíço Sigfried Giedion, Space, time and architecture: the growth of a new tradition (1941), que tomei contato em Buenos Aires com a tradução italiana de 1951; que na Associação de Estudantes foi difundido entre os alunos da Faculdade de Arquitetura através de capítulos mimeografados. Nele, o Movimento Moderno aparecia na sua plenitude com a identificação dos seus principais protagonistas: Le Corbusier, Walter Gropius, Mies van der Rohe, Alvar Aalto, entre outros. Ao mesmo tempo tentava estabelecer a conexão com o passado, tanto na arquitetura como nas estruturas urbanas, assumindo a evolução do “espaço” desde o Barroco até as inovações do movimento cubista. O livro contemporâneo do arquiteto inglês J. M. Richards, An introduction to Modern Architecture (1940), também foi traduzido ao português e ao espanhol, mas teve menor difusão. A renovação crítica que nos impactou chegou com a paixão combativa de Bruno Zevi, quem demonstrou as limitações do racionalismo europeu e a maior significação de Frank Lloyd Wright e do regionalismo norte-americano, em Saper vedere l´architettura: saggio sull´intepretazione spaziale dell´architettura (1948), e na tendenciosa Storia dell´Architettura Moderna (1950) editadas por Einaudi, que minimizava a obra de Le Corbusier em contraposição à sua admiração absoluta pelo Mestre americano. Ao mesmo tempo, também limos, ainda na Argentina, as reveladoras análises do Movimento Moderno, mais equilibradas e lúcidas que as de Zevi, escritas por Giulio Carlo Argan no aprofundado livro de Walter Gropius e a Bauhaus (1951), também publicadas em Itália por Einaudi.
Contrastando com estes textos polêmicos, Henry-Russel Hitchcock – que havia organizado com Philip Johnson a famosa exposição no MOMA em 1932 – elaborou uma história ascética e acadêmica do Movimento Moderno com seu denso e um tanto aborrecido Architecture: nineteenth and twentieth centuries (1958), que só teve repercussão no contexto limitado dos historiadores da arquitetura. Foi neste momento que surgiu a figura de Benevolo com a sua monumental história que resumia as experiências teóricas precedentes; e ao mesmo tempo se posicionava com certa “neutralidade” neste debate criado por Zevi, contrapondo América à Europa, e outorgava um peso, até este momento inexistente, ao desenvolvimento urbano. Depois da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, se suponha que a Humanidade acharia novas formas lógicas de convivência pacífica e uma racionalidade na utilização dos recursos da natureza e na configuração dos assentamentos humanos. Além disso, a morte de Stalin permitiria imaginar um caminho renovador para o mundo socialista, o que poderia ser visto como um exemplo positivo para as contradições do capitalismo. Seu otimismo na idealização do futuro ambiente do homem repercutiu internacionalmente, o que permitiu a divulgação do livro em vários idiomas, e ao mesmo tempo sua duradoura persistência até o início do século XXI, com as sucessivas reedições.
No entanto, a esperança de Benevolo no futuro da humanidade não coincidiria com a evolução da história real. Assim que o livro foi publicado, as contradições que culminam com a visão patética e pessimista dominante neste novo século tiveram seu início: a Guerra Fria, o Muro de Berlim, a Guerra de Vietnã, as ditaduras na América Latina, os conflitos raciais nos Estados Unidos, o drama da África, o aumento da pobreza urbana, o fim do mundo socialista. Uma cadeia de eventos trágicos que se sucederam até o dramático início do século XXI. Com o atentado ás torres do WTC no 11/09/02, o terrorismo internacional, o desenfreado consumismo no mundo capitalista, a alternância das crises políticas e das guerras locais, o domínio econômico mundial das corporações e o surgimento da China, os conflitos religiosos e raciais, os problemas ecológicos da Terra, as teses otimistas do Iluminismo desapareceram neste mundo dominado, segundo Bauman, pelo “medo líquido”. Alguns autores tentaram emular a com a visão panorâmica do Benevolo, mas com enfoques diferenciados que questionariam o desenvolvimento linear do Movimento Moderno. Michel Ragon em Histoire mondiale del´architecture et de l´urbanisme (1971), valorizou o papel dos arquitetos e integrou os países do Terceiro Mundo; Manfredo Tafuri e Francesco dal Co, na Architettura contemporânea (1976), definiram desde um enfoque marxista, a existência de cortes, rupturas e descontinuidades na arquitetura do século XX. Kenneth Frampton em Modern architecture: a critical history (1980) concentrou-se na análise de movimentos e autores específicos evidenciando a pluralidade sincrônica; William J.R. Curtis em Modern architecture since 1900 (1982) limitou-se às obras de arquitetura e deu importância ao mundo sub-desenvolvido; Roberto Segre na Historia de la arquitectura y del urbanismo. Países desarrollados. Siglos XIX y XX (1985), com um enfoque marxista canônico, privilegiou a produção do mundo socialista; e Renato de Fusco na Storia dell´architettura contemporânea (1988), aprofundou a interpretação semântica da arquitetura. Resulta surpreendente o fato que na maioria destes textos é minimizada a contribuição de Benevolo, com exceção de Segre que estabeleceu um contraponto com o Mestre, o que provocou a identificação do seu livro publicado em Cuba como o “Malévolo”.
Entretanto, desde os anos sessenta havia dado início um desmonte da visão monolítica do Movimento Moderno desde dois frentes: a primeira, questionava a linguagem formal do racionalismo na sua hipotética origem tecnológica, que finalmente se demonstrou essencialmente estética e formalista: entre elas destacam-se as críticas de Reyner Banham no livro Theory and design in the first machine age (1960); e Tomás Maldonado desde Ulm em La speranza progettuale. Ambiente e societá (1970). A segunda tendência, mais dura e agressiva, se dirigia contra o “proibicionismo”, a rigidez, as limitações e o esquematismo do sistema formal racionalista, sintetizado na obra de Mies van der Rohe, definido por Robert Venturi como “less is bore”. De fato o seu livro Complexity and contradiction in architecture (1966), abriu o caminho para o Pós-modernismo. Os dois enfant terribles da crítica foram Charles Jencks em Modern movements in architecture (1973), The language of post-modern architecture (1977); e Paolo Portoghesi em Dopo l´architettura moderna (1980). Autores ainda atuantes, um dedicado à futurologia tecnológica e outro sensibilizado com os problemas ecológicos atuais, esquecidos no novo livro de Benevolo. Alem das formulações teóricas, sucederam-se estilos e tendências divergentes na configuração da arquitetura contemporânea, desde a hiper-valorização da tecnologia, até as expressões populistas, regionalistas, historicistas e kitsch, com a conseqüente reação do neo-racionalismo e do minimalismo formal, que Jencks agrupou na categoria dos “modernos tardios”.
Na última década do século vinte, com a disponibilidade de recursos existente no mundo desenvolvido, a utilização de novas tecnologias e dos sofisticados sistemas gráficos computarizados, a necessidade da imagem corporativa das grandes empresas multinacionais, o acelerado processo de industrialização dos países asiáticos, a renovação urbana nos países europeus, estabeleceram a forte visibilidade da arquitetura “de autor” e a presença globalizada de um pequeno grupo de arquitetos do star system. Isto foi acompanhado por um novo grupo de historiadores e críticos que tentaram evidenciar as tendências surgidas “depois” do Movimento Moderno. Poderíamos citar entre eles, Josep Maria Montaner em Después del Movimiento Moderno (1993); Alexander Tzonis e Liane Lefaivre, La arquitectura em Europa desde 1968 (1993); Diane Ghirardo em Architecture after Modernism (1996); Dennis P. Doordan em Twentieth-century architecture (2001) e o recente Atlas. Global architecture. Circa 2000 (2007), organizado por Luis Fernández Galiano. A estes estudos e ensaios teóricos somou-se uma proliferação infinita de imagens coloridas em grandes e pequenos volumes publicados por editores dos países desenvolvidos com tiragens gigantescas e a baixo custo, que invadiram os escritórios de arquitetura e os ateliês das Faculdades de Arquitetura. Alguns autores se caracterizaram pela capacidade de reunir milhares de imagens de obras exuberantes espalhadas pelo mundo, criando uma espécie de zapping arquitetônico. Neste caso podem ser citados o Atlas de arquitectura actual (2000) de Francisco Asencio Cerver e a coleção de Architecture now! 1-5 de Philip Jodidio, editados recentemente pela Taschen, a maior editora mundial de livros acessíveis a um baixo custo. A Summa da arquitetura contemporânea está contida na mala de plástico com o The Phaidon atlas of contemporary world architecture (2005), onde se mostra tudo o que foi construído no planeta nos últimos anos.
Neste contexto mediático caracterizado pelo uso descomunal de imagens coloridas, se insere o novo livro de Benevolo, desafortunadamente com um look antiquado: o fato de não apresentar qualquer imagem colorida entre as 899 ilustrações, relaciona o volume com a tradição editorial do século XX, e não com as representações que abriram o novo milênio. Supõe-se que não seria determinado por um problema de custo, já que o texto didático de William Curtis Modern Architecture Since 1900 – que na atualidade (2008) é o mais difundido entre os alunos das escolas de arquitetura dos países desenvolvidos –, uma terça parte das suas 862 imagens, é colorida; e o seu preço é semelhante ao de Benevolo. Nos dez capítulos do livro, se evidencia o esforço do autor para articular a herança do Movimento Moderno do século XX com as inovações e transformações acontecidas nas últimas duas décadas, já que se pode considerar o Museu Guggenheim em Bilbao de Frank Gehry (1992) como uma espécie de turning-point – parafraseando Konrad Wachsman – nas mudanças radicais da linguagem arquitetônica. Quase a metade do livro está dedicada ao resgate dos herdeiros da tradição moderna européia, cuja ética racionalista e a lógica da utilização das novas técnicas e materiais se mantém nos limites da modernidade canônica. São analisadas em detalhe as obras de Gino Valle, Vittorio Gregotti, Giancarlo De Carlo, Rafael Moneo, Álvaro Siza, Norman Foster, Richard Rogers, Renzo Piano e Jean Nouvel. E, acredito que ele tem um inconsciente constrangimento em dedicar um espaço aos jovens heterodoxos que define como “pacientes e impacientes catadores de novidades”, já que não demonstra ter com eles uma particular identificação estética. A visão de Benevolo é distante das complexas elaborações formais surgidas dos sofisticados programas contidos nos poderosos computadores utilizados nos escritórios profissionais.
Não resta a menor dúvida que cada autor, no desenvolvimento das suas teses, deve estabelecer critérios próprios para a seleção de arquitetos e obras; no entanto, as ausências notáveis sempre surpreendem. Infelizmente, considero que este livro em particular fica marcado por muitas dessas ausências. Entre os inovadores, faltou a presença do inglês Nicholas Grimshaw, do suíço Peter Zumthor, dos franceses Paul Andreu e Dominique Perrault, e do espanhol Enric Miralles. Na Itália não podem ser esquecidos Maximiliano Fuksas e Paolo Portoghesi. Se por uma parte, dedica um capítulo à vanguarda holandesa, a significação da obra de Zaha Hadid e a de Herzog & De Meuron, cuja importância alarga novos limites não somente nas invenções formais e espaciais, mas na filosofia desenvolvida no uso dos materiais e do relacionamento com a natureza, ficou minimizada. Surpreende também a ausência da Áustria no panorama europeu, já que à obra de Hans Hollein e da equipe de Coop Himmelblau continua reconhecida no cenário mundial.
No capítulo dedicado ao desenvolvimento urbano na Europa, percebe-se a ausência de Barcelona, cidade que no início do século, com o desenvolvimento do Fórum, deu um novo impulso na criação de novas estruturas urbanas. Com relação à análise do planejamento territorial nos Estados Unidos, não é citada a importante experiência do New Urbanism e de seus principais protagonistas – Andrés Duany, Elisabeth Plater-Zyberk e Peter Calthorpe – na Flórida e na Califórnia. Nos capítulos finais percorre o mundo fora da Europa e aqui também as ausências são notáveis: no Japão está esquecida a equipe SANAA de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa; na Austrália não aparece Glenn Murcutt, quem obteve o Prêmio Pritzker; e tampouco na Malásia, foi lembrado Kenneth Yeang, o arquiteto com preocupações ecológicas. Nos Estados Unidos, um grupo de arquitetos se destaca neste início do século sobressaindo-se no anônimo panorama deste país: Thom Mayne & Michael Rotondi do escritório Morphosis; Diller+Scofidio; Antoine Predock, Steven Hall e Eric Owen Moss, infelizmente também ausentes neste livro.
Trata in extenso a recente transformação urbana e arquitetônica chinesa, mas outorga maior importância à presença dos profissionais estrangeiros que os projetos dos arquitetos jovens chineses que estão produzindo obras de extrema qualidade e finura: lembre-se o conjunto de residências e hotéis ao longo de Grande Muralha, com um cuidadoso relacionamento entre tradição e modernidade. Pelo contrario, é totalmente superficial a visão do que acontece nos países ex-comunistas e da América Latina. Depois da caída do Muro de Berlim, houve um ressurgimento da arquitetura, em particular nos países pequenos ou periféricos do bloco soviético, Letônia, Estônia, Eslovênia, República Checa; e a inovadora obra de Imre Markovecz em Hungria. E a visão de América Latina é de uma pobreza extrema. Cita a pouco conhecida revista peruana Arkinka em vez de referirem-se as principais publicações da região – a argentina SUMMA+; as brasileiras Projeto/Design e AU; a mexicana Arquine – ; e resume a produção do nosso continente nas escolas paulistas CEUs, que inclusive no Brasil, não constituem exemplos paradigmáticos das atuais inovações arquitetônicas. Não é citada a produção recente de Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Clorindo Testa, Enrique Norten, Rafael Iglesia, Ricardo Legorreta, Rogelio Salmona, Mathias Klotz, entre outros.
Com a trajetória crítica, histórica e intelectual de Benevolo era previsível que o capítulo final tivesse uma força contundente, tanto denunciando os graves problemas do mundo atual – o novo sistema de imagens e representações criadas com os computadores; a crise ecológica e a necessidade de uma arquitetura sustentável; a crítica as obras faraônicas que se constroem na Península Arábica e na China; o descontrole dos assentamentos marginais e periféricos nas metrópoles do Terceiro Mundo –, quanto as possíveis condições futuras da nossa problemática profissão. Isto não aconteceu na seleção de 19 obras espalhadas no mundo, que ele considera representativas de “experiências emergentes”, assumidas em parte de uma seleção elaborada pela revista inglesa Architectural Review . Algumas delas expressam um equilibrado relacionamento com a natureza, a utilização de materiais naturais com soluções econômicas, o respeito pela herança histórica, mas no conjunto, não indicam soluções parciais ou globais aos graves problemas da vida humana no planeta. Evidentemente, este livro, é ainda a representação de uma visão crítica consolidada no século XX, na sua identificação metafórica com o “olho” do Museu de Curitiba de Oscar Niemeyer. Na realidade, no museu, esta imagem concretiza uma história estética herdada do passado modernista, mas não abre a ansiada perspectiva do século XXI.
sobre o autorRoberto Segre, professor da FAU UFRJ.