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CONTRERAS, Mónica Silva. Arquiteturas deslocadas: arquitetos espanhóis no exílio. Resenhas Online, São Paulo, ano 07, n. 084.02, Vitruvius, dez. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.084/3052>.


Exposto na Arcada de Novos Ministérios, numa sala que se destaca por sua situação urbana, especial e particularmente grata para ver arquitetura, a exposição e a publicação do livro-catálogo Arquitecturas Desplazadas (1) resultaram um acontecimento importante em Madri.

Importante para numerosas famílias que viram recuperado o trabalho que quarenta e nove arquitetos fizeram dentro e fora da Espanha e que apenas tinha sido conhecido em seu país. Importante, então, para a história da arquitetura internacional e especialmente para a da América, em cujos países se realizou boa parte deles. Importante para o autor destas Arquitecturas desplazadas, que envolveu, ademais do trabalho rigoroso e organizado do pesquisador, uma especial relação com a imagem de cada um desses profissionais da arquitetura moderna num tempo em que a disciplina se encontrava repleta de contradições.

O trabalho de Henry Vicente foi o de um trabalhoso recompilador de informação e o de um fazedor de dados quase perdidos, durante vários anos fuçando no trabalho e nas acidentadas vidas dos arquitetos que tiveram de deixar a Espanha devido a uma guerra causada por convicções políticas divergentes. Os rostos do exílio são os destes arquitetos convertidos em ativistas políticos ou em soldados, que no meio do angustiante ambiente da guerra civil arriscaram suas vidas e suas carreiras para proteger o patrimônio cultural de seu país.

Dois capítulos museográficos deixaram ver muito proximamente, comovedoramente, o ambiente da arquitetura que estes profissionais tinham construído para depois mostrar, já não como coletivo, mas individualmente, o trabalho que fizeram em lugares que se apropriaram de seu ofício e dos que eles se apropriaram para fazê-lo. Se no trabalho dos arquitetos se reflete sua formação e os lugares em que viveram no tempo em que o fizeram, Henry Vicente conseguiu que todo esse universo apareça real, quase vivo, graças aos preciosos documentos exibidos na montagem que resultou de sua pesquisa. Desenhos de arquitetura, fotografias familiares, cartazes institucionais, revistas e documentos pessoais se aglomeram ao redor da imagem dos arquitetos e suas obras, na Espanha primeiro e fora dela depois.

Na introdução do livro-catálogo que ficou como testemunho deste trabalho, titulada “Exílios arquitetônicos”, Vicente utiliza a idéia de diáspora. Idéia vinculada a um encontro, aos encontros e às transações culturais, a um intercâmbio entre o que chegava e o lugar ao qual chegava, como ferramenta imprescindível para mostrar esta arquitetura espanhola que não pôde ser na Espanha. Esta só pode se compreender se se entende o exílio como “…um processo que não foi unilateral, que envolveu um profundo processo de diálogo e encontro, mas também de desencontros; de aquisições e perdas” (p. 12), um passo ou um caminho que “nunca é uma relação de uma só via” (p. 21). O autor se apóia nas idéias de filósofos e historiadores prévios para poder explicar a dinâmica relação dos arquitetos com seu ambiente original e seu ambiente de adoção, um triângulo de espelhos no qual se torna imprecisa a origem das imagens ou da luz que permite observá-las.

À problematização conceitual e da ocupação cultural no exílio, no livro-catálogo lhe segue a revisão historiográfica dessas arquiteturas deslocadas. Assim, depois de expor o aporte dos autores que iniciaram o registro desta produção espanhola em outros contextos europeus e americanos, o trabalho de Henry Vicente se soma à construção de uma história da arquitetura que envolve vários olhares parciais e ao mesmo integrais desde a Espanha e desde os países que receberam estes profissionais. Olhares que os caracterizam como individualidades criadoras mas também como coletivo intelectual e político.

As pistas para esta complexa visão as empreende, então, o próprio Vicente em “De Europa e Ásia. Elogio da transumância”, em que segue os passos seguidos por este meio centenar de arquitetos. Trata-se de um aporte fundamental da pesquisa, que dá datas e lugares de trabalho como partida para aprofundar o estudo de sua produção intelectual, alianças políticas e, em suma, dar forma a esta cultura arquitetônica no exílio. O mesmo autor se ocupa “De Venezuela: a fictícia “ilusão” do desterro”, em que Rafael Bergamín encabeça a lista dos chegados ao segundo país que, depois do México, recebeu mais destes arquitetos republicanos. Fernando Salvador, Javier Yárnoz Larrosa, Francisco Iñiguez, Juan Capdevila e Amós Salvador se integrariam às filas de profissionais que tanto aportaram à arquitetura venezuelana desde o Banco Obrero. Depois se integrariam a outras instituições ou ao exercício privado e a eles se uniriam José Lino Vaamonde, Joaquín Ortiz García, José María Deu Amat, Urbano de Manchobas y Careaga e Eduardo Roble Piquer. Henry Vicente segue estas pegadas profissionais com o valioso aporte de dados concretos para edifícios, planos urbanos e outras obras das que a historiografia venezuelana ainda não dava conta.

Mas como ao livro-catálogo foram convidados outros autores, são eles que contribuíram para provar que estas arquiteturas requerem de múltiplos olhares para construir visões parciais e integrais sobre seus variados panoramas. “Das Geografias e histórias deslocadas” se ocupou Lorenzo González Casas, analisando o panorama latino-americano, fundamentalmente o contexto venezuelano, com as possibilidades que oferecia, as opções para permanecer e que nele se inserisse a vida destes arquitetos espanhóis.

Luisa Bulnez Álvarez se ocupou dos quatro Arquitetos exilados na Colômbia, sua adequação a este novo mundo com modos de trabalho distintos aos conhecidos. Uma a uma foram enumeradas suas obras, catalogadas funcionalmente, o que permite observar em termos tangíveis um valioso aporte à arquitetura local. “O exílio espanhol no cone Sul” foi abordado por Fernando Álvarez Prozorovich, ocupado com a obra de seis arquitetos que trabalharam na Colombia, Chile e Argentina, onde destaca a integração de Antonio Bonet à experiência profissional americana e sua “volta” – o sonho de todo exilado – com as lições aprendidas ao exercício na Espanha. Passos fugazes, permanência provisória ou estabelecimento definitivo em “O Caribe e os Estados Unidos” são examinados por Juan Ignacio del Cueto Ruiz-Funez, entre os quais destaca o aporte profissional e acadêmico de José Luis Sert ou Martín Domínguez Esteban. O mesmo autor se ocupou de “México”, como titula o texto dedicado aos arquitetos exilados no país que maior número deles acolheria. Vinte e cinco arquitetos chegariam “um a um”, para fazer um aporte enorme à arquitetura americana, em três gerações entre as quais transcende a figura de Félix Candela.

Seguindo a estrutura da montagem e como memória do mesmo, o livro-catálogo contém páginas, fichas que reúnem o fundamental de cada figura, dedicadas individualmente a estes quarenta e nove arquitetos. Diversas qualidades e quantidades de documentação, obras e projetos, o ocaso de carreiras iniciadas na Espanha ou frutíferos desenvolvimentos profissionais quase completamente fora dela, se compaginam para oferecer um panorama geral em que se cruzam planos, fotografias familiares e profissionais, títulos de livros e de artigos, desenhos, pinturas e outras formas de expressão plástica que descrevem trajetórias intelectuais variadas. Intercalar as idéias destes profissionais no que se escreveu da arquitetura local, para precisar o intercâmbio de técnicas, formas e paisagem, é uma tarefa de maturação que faz com que este seja muito mais que o livro-catálogo de uma exposição em Madri. Configura-se com ele um panorama incomensurável para a história da arquitetura e muitos caminhos para sua historiografia. Veredas que deixam abertas as plumas convidadas a escrever esta memória por Henry Vicente e com esta “indagação” que vê frutos em Madri, distante ele mesmo de sua casa mas muito próximo da arquitetura da América.

Esta resenha foi publicada na revista Argos (www.argos.dsm.usb.ve) da Divisão de Ciências Sociais e Humanidades da Universidad Simón Bolívar, Caracas-Venezuela, Vol. 25, n. 48, p. 113-115.

notas1
O livro Arquitecturas desplazadas. Arquitecturas del exilio español conquistou o CICA Julius Posener Book Award 2008.

sobre o autor Mónica Silva Contreras, Doutora em Arquitetura (Universidad Central de Venezuela 2006), professora da Universidad Simón Bolívar (USB)

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