Mesmo com a iniciativa da Prefeitura do Distrito Federal de publicar, em 1930, a versão integral do Plano Agache (1), o livro teve pouca circulação ao longo do século XX. Depositado nas bibliotecas especializadas e particulares, sua leitura e interpretação ficou restrita aos pesquisadores de temas urbanos – Abreu, Rezende, Pereira, Bruant, Silva, Stuckenbruck entre outros (2) –, que o analisaram considerando os mais variados enfoques: geográficos, sociológicos, estéticos, técnicos e históricos. Sua transcendência e significação para a cidade do Rio de Janeiro não foram suficientemente valorizadas pela “ditadura” historiográfica do Movimento Moderno, que identificava a sua proposta com o ideário de um urbanismo tradicional e superado.
Le Corbusier, na sua visita ao Rio, se recusou a assumir a estrutura urbana proposta por Agache, na centralidade da Esplanada do Castelo – definiu-a como a esterco agáchico –, no projeto para o Ministério da Educação e Saúde (1936). E sempre rejeitou com agressividade o Plano, que segundo ele, devia ser negada a sua concretização (3). Daí a visão restrita e esquemática baseada nas prescrições da Carta de Atenas, princípios que tiveram longa duração no Brasil. A concretização dos projetos urbanísticos de Lucio Costa para Brasília e para a Barra de Tijuca, representou a aplicação ortodoxa dos enunciados corbusianos. Mas cabe ressaltar que, na realidade, eles nunca renunciaram aos princípios de composição clássica, às axialidades e simetrias que estão presentes no Plan Voisin, e na Ville Contemporaine de Le Corbusier e no Plano Piloto de Brasília de Costa (4).
Como não seria viável publicar o Plano original, os pesquisadores do Grupo de Estudos dos Planos Urbanos, pertencentes à Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) e ao Instituto Municipal Pereira Passos (IPP), decidiram redigir uma versão reduzida, resumindo as principais contribuições do Plano com nove mapas coloridos de grande formato; acompanhada por comentários e interpretações desenvolvidos ao longo do texto, que facilitam não somente a sua compreensão, mas também o relacionamento com a problemática urbanística daqueles anos e os debates que suscitavam as propostas de Agache. Desenvolveram também uma breve história dos principais acontecimentos urbanos no Rio de Janeiro, entre 1900 e 1930, como introdução geral que permitisse compreender os elementos políticos e técnicos que levaram à contratação de Alfred Agache. No capítulo final, apresentaram um estudo das intervenções contraditórias ocorridas na cidade ao longo do governo de Getúlio Vargas, até o seu final em 1945. De grande utilidade é o apêndice com a legislação municipal de referência no período 1908-1945, e a bibliografia atualizada sobre o tema. O livro, editado pelo Centro de Arquitetura e Urbanismo (CAU), reativa assim a coleção de documentos críticos e históricos sobre a arquitetura e o urbanismo carioca, que começaram no período do Prefeito Luiz Paulo Conde (1996-2000) sob a direção de Jorge Czajkowski, concretizados nos detalhados quatro guias de arquitetura – desde o período colonial até o Movimento Moderno – e os volumes editados sobre Le Corbusier e Jorge Machado Moreira (5).
Pode-se supor que o resgate do Plano Agache seja um revival historicista, uma operação acadêmica dedicada a pesquisadores e estudiosos especializados. Ao contrário, este documento é de grande utilidade para compreender como se poderia ter evitado a sucessão de erros nas decisões das políticas urbanísticas, mal sucedidas e contraditórias devido, em grande parte, à falta de continuidade das iniciativas das sucessivas administrações, que resultaram na complexa realidade atual do Rio de Janeiro, e a progressiva perda da sua centralidade tradicional que obscurece a fama internacional de Cidade Maravilhosa. A sua leitura e interpretação são indispensáveis para se verificar a seriedade e profundidade do primeiro plano diretor carioca (6) – que seria seguido nos anos sessenta por outro, dirigido por Constantinos Doxiadis –, sobretudo no momento atual em que o Poder Legislativo Municipal discute a proposta de revisão do Plano Diretor Decenal de 1992, e que se aprontam grandes desafios para o futuro da cidade, com os compromissos assumidos para a celebração do Mundial de Futebol em 2014 e para as Olimpíadas em 2016 (7).
Nas três primeiras décadas do século XX as capitais da América Latina transformaram radicalmente as estruturas obsoletas que ao longo de quase quatro séculos caracterizaram a forma urbana do período colonial. Até a chegada de Le Corbusier no Cone Sul em 1929, os projetos de “embelezamento” das cidades eram baseados nos grandes Plans d’aménagement da geração pertencente à Sociedade Francesa de Urbanismo (1912), herdeira dos enunciados haussmanianos; e desenvolvidos e aplicados em diferentes interpretações pelos urbanistas franceses convidados para elaborar os planos diretores. Em 1906 André Bénard prepara o de Guayaquil em Equador; Josep Bouvard o de Buenos Aires em 1909 e de São Paulo em 1911; J.C.N. Forestier o de Havana em 1926. Também participam técnicos pertencentes à escola alemã – Werner Hegemann apresenta sugestões para Buenos Aires (8) – e à escola austríaca, com Karl Brunner, que trabalha no Chile e na Colômbia. Nos anos trinta a equipe formada por Proust, Rotival e Lambert, realiza o projeto para a cidade de Caracas, Venezuela, em 1938 (9). No entanto, comparando-se as diversas propostas, sem dúvida, a mais aprofundada e detalhada, na sua abrangência estética, técnica, administrativa e social, foi a proposta de Agache. A diversidade e a atualidade dos temas incluídos no Plano somente são comparáveis ao conteúdo dos dois volumes do Manual de Urbanismo, editado na Colômbia por Karl Brunner (10); já que nem o Plano Diretor de Buenos Aires, elaborado por Le Corbusier, Juan Kurchan e Jorge Ferrari Hardoy em 1939, tinha a profundidade e a complexidade do brasileiro, em particular na temática social e das infraestruturas técnicas (11).
A Comissão criada pelo Prefeito Antônio Prado Júnior, optou pela decisão certa ao selecionar Agache, entre os urbanistas que poderiam ser convidados: Stübben, Bennet e Jaussely. Ainda que muito ligado à escola francesa de urbanismo, onde eram privilegiados os componentes estéticos, formais e espaciais, Agache tinha uma consciência clara de como enfrentar os problemas sociais na cidade moderna, em particular no tema da habitação para as diferentes camadas de população. Sua formação, não somente como técnico em urbanismo, mas também voltado para os estudos de geografia e sociologia, era bem ampla e aberta às tendências variadas que se distinguiam naqueles anos. Assumiu a experiência viária de Eugène Hénard em Paris e a valorização da herança histórica sustentada por Marcel Poëte; valorizou as soluções inglesas da Cidade Jardim de Ebenezer Howard e as teorias biológicas do escocês Patrick Geddes que começaram a circular nos anos vinte (12); assim como se interessou na representação da modernidade urbana marcada pela presença dos arranha-céus na Chicago de Daniel Burnham, e a paradigmática Nova York que começava a ver surgir o Rockefeller Center. Tampouco desconhecia as utopias originadas nos anos vinte; tanto as novas propostas dos urbanistas e desurbanistas soviéticos, quanto os projetos canônicos dos racionalistas europeus: a Cidade de Três Milhões de Habitantes de Le Corbusier, e as imagens severas criadas por Ludwig Hilberseimer, Ernst May e Hannes Meyer. A decisão de ter incorporado jovens associados ao Movimento Moderno na sua equipe – Affonso Eduardo Reidy e Attilio Correa Lima (13) –, demonstrou a sua largueza de pensamento. Teorias e práticas divergentes que o permitiam descobrir e revelar sem preconceitos a realidade concreta da cidade onde deveria intervir, e diversificar as soluções dos problemas reais, como de fato aconteceria no caso do Rio de Janeiro.
Passado quase um século, as contradições maniqueístas se diluem e as análises adquirem maior objetividade. Assim, a antítese entre a visão do Rio de Agache e a de Le Corbusier não é tão radical como se supunha: cabe verificar que eles possuem diversos pontos comuns. Sem dúvida, a divergência se expressa nas representações formais – evidentemente antagônicas ao se contrapor a imagem de uma arquitetura tradicional e acadêmica, com sua estrutura compacta e contínua, com a malha aberta marcada por edifícios “racionalistas” isolados – mais que nos conteúdos conceituais acerca da configuração da cidade moderna. Ou seja, é esquemático considerar que Agache era um prático sensato, e que Le Corbusier era um poeta. Qual é a poesia dos espaços verdes vazios que separavam entre elas, as torres da Ville Verte? E não é mais poético o qualificado espaço da Praça Paris no Rio, desenhada por Agache?
Os dois urbanistas europeus identificavam na América o Novo Mundo, o lugar capaz de concretizar um futuro urbano renovado. Em 1929, Le Corbusier, no livro Précisions, define Buenos Aires e Nova York como as duas capitais mundiais (14); em 1927 Agache tem uma visão semelhante do Rio ao afirmar: “Uma cidade única, aberta a todas as possibilidades do futuro”. E ambos assumiram como princípio básico a organização e divisão das funções baseadas no princípio do zoning. Não são opostas às quatro funções básicas da Carta de Atenas – trabalhar, circular, habitar e lazer –, com a estrutura do Rio proposta por Agache: Posto de Comando, Bairros Industriais, de Abastecimento, de Intercâmbio, Universitário, Porto, Bairros Residenciais, e Espaços Livres. Coincidem também na elaboração teórica de enunciados que constituiriam uma Carta Urbana, homóloga à Carta de Atenas, de 1933 (15), redigida depois do Plano Agache. Considerando-se que ambos moravam em Paris, cidade cuja vitalidade advém da presença compacta de residências no centro, curiosamente as duas propostas insistiram em separar as áreas residenciais das funções comuns em áreas centrais, que é um princípio que reduz a qualidade da vida urbana, como ainda hoje acontece no Rio de Janeiro: um centro de alta qualidade arquitetônica que se mantém vazio nas noites e nos finais de semana.
Também é comum o interesse biológico pelo corpo humano, e a sua comparação com a cidade e o seu funcionamento (16). Não nos termos das proporções vitruvianas nem leonardescas, mas relacionada com a higiene pessoal e com uma visão sanitarista – esgotos, abastecimento de água –, o que permitiria a manutenção de um corpo saudável com as infraestruturas que sustentam a vida urbana. A funcionalidade dos órgãos, músculos e células são semelhantes à correta organização da cidade, onde cada função tem a sua forma e a sua localização específica.
Neste sentido, Agache não foi genérico como Le Corbusier sobre os problemas da insolação e da ventilação dos locais, mas estudou o tema a partir do ponto vista científico, sem identificar-se com os novos componentes arquitetônicos, como a janela horizontal e os brise-soleil. A proposta das torres no centro dos negócios é outro ponto comum, com tipologias arquitetônicas diferentes. Mas na realidade, o Centro dos Negócios de Agache, que misturava o modelo compacto de Paris com as torres de Chicago, era mais vital que os arranha-céus cartesianos da Cite dês Affaires de Le Corbusier, isolados no vazio verde. Nele, estabelecia o relacionamento entre lojas, galerias externas e internas para os pedestres, com os prédios de escritórios e garagens no subsolo. Nos dias de hoje, qual seria o modelo que se deseja para a centralidade urbana ? Edifícios de escritórios isolados como no bairro de La Defénse em Paris, e nos centros de Houston, Brasília ou Dubai ? Ou seria mais adequado dotá-los de arcadas, galerias, pátios internos, como nas tipologias existentes em cidades tradicionais, integrando-os ao comércio e à residência, conforme aparecem nas propostas, tanto do movimento New Urbanism (17), crítico do subúrbio anônimo, como nas soluções de José Luis Sert apresentadas nas formulações teóricas do curso de Urban Design em Harvard? (18)
Não cabe aqui, percorrer o caminho das análises que se desenvolvem ao longo do livro na interpretação do Plano. No entanto, vale a pena, ressaltar as suas contribuições que não foram atendidas, pela miopia e conservadorismo de funcionários municipais e políticos estaduais e nacionais. Um dos casos mais dramáticos que incide no caos urbano existente ainda hoje no Rio de Janeiro é o do sistema de transporte, que ele assumiu com uma proposta integral, que articulava os diferentes sistemas públicos. Na constatação da ineficiência dos bondes e do congestionamento no centro, assinalava a concentração de carros e ônibus na Avenida Rio Branco, fato que perdura no século XXI e acreditava na imprescindível necessidade de se reorganizar o sistema ferroviário e de se criar o metrô, servindo às zonas sul e norte e às áreas suburbanas como a Ilha do Governador. E tinha conta da conexão, sob a baía, com Niterói, idéia também presente no plano diretor elaborado por Attilio Correa Lima em 1932. Neste sentido são injustas as críticas sobre a valorização da ferrovia - considerada superada - em contraposição á modernidade do automóvel, privilegiado por Le Corbusier, porque hoje se verifica o caráter negativo do carro na cidade. Na estrutura viária, foram previstas no plano a Avenida Presidente Vargas e a Avenida Brasil. Sem dúvida, o projeto do novo porto recebeu uma atenção maior com uma solução brilhante e moderna que, se tivesse sido realizada, dotaria a cidade de uma eficiente infra-estrutura portuária. Considerando a aviação, que começava a se desenvolver, previu um pequeno aeroporto na Península do Calabouço – antecipando-se à proposta de Le Corbusier e ao próprio aeroporto Santos Dumont –, e outro maior na Ilha do Fundão, próximo ao futuro aeroporto Tom Jobim.
Na difusão do Plano Agache são publicadas reiteradamente as imagens das perspectivas dos edifícios monumentais na Esplanada do Castelo e do Centro de Negócios, considerando-as como a principal contribuição deste projeto urbano, evidenciando o seu caráter monumental e acadêmico, em particular a sua proposta para o conjunto de edifícios públicos que identificavam a Porta do Brasil. A elas se contrapunha, como representação da necessária modernidade, a imagem da utópica fita contínua de Le Corbusier, cuja lembrança ficou registrada timidamente no fragmento do Conjunto do Pedregulho de Affonso Reidy. Entretanto, a maior importância do Plano reside na sua abrangência metropolitana que antecipa o futuro Grande Rio, e a sua preocupação com a expansão da zona norte propondo uma nova centralidade na atual Praça da Bandeira, e a criação da área industrial com cidades jardins para as moradias operárias; do mesmo modo que propunha a erradicação das favelas cuja população seria alojada nos novos assentamentos suburbanos. Mas ele não detalhou a configuração desta expansão da cidade, em forma semelhante ao que fez no centro e na Zona Sul. As decisões de Agache não podem ser avaliadas “in abstracto”, mas no contexto político da República Velha, e com os sistemas de valores culturais dominantes nessa década. Neste sentido, também foi injusta a crítica de Le Corbusier, que acusava Agache de ter projetado uma “cidade-capital” na vez que uma “metrópole”, como ele tinha imaginado (19).
Como a sua visão tinha uma perspectiva de cinqüenta anos, previa o crescimento da malha urbana, e a necessidade de se criar conexões com “cidades satélites”: Niterói, Petrópolis e Teresópolis. Ao supor que estes povoados podiam ser criados ao longo da costa atlântica até Sepetiba, aproveitando a qualidade da paisagem carioca, também aqui antecipava a urbanização da Barra de Tijuca. Sua insistência na configuração integral destas cidades satélites, era oposta a idéia de cidade “dormitório”, como foi caracterizada até recentemente no desenvolvimento da Barra, com a deformação do projeto de Lucio Costa pela especulação imobiliária. Preocupado com a aceleração da dinâmica especulativa sobre os terrenos e os conjuntos habitacionais, projetou os bairros da Lagoa e do Leblon com edifícios baixos, para que se mantivesse uma densidade e um gabarito edificado apropriado ao entorno natural. Não poderia imaginar a atual densidade e o gabarito permitido em Botafogo ou em Copacabana com torres altas e grandes conjuntos residenciais com apartamentos mínimos, resultado da exploração indiscriminada da iniciativa privada e do descontrole da expansão urbana. De fato, Agache acreditava ser possível conter e organizar o crescimento da cidade, e por este motivo criou instrumentos jurídicos para que a Prefeitura verificasse a qualidade das urbanizações e das construções. Com certeza, se sua proposta fosse aplicada a tragédia do Palace II não teria acontecido.
Agache se identifica com Le Corbusier na importância que outorga ao sistema paisagístico da cidade, concebendo-o em diferentes escalas e admitindo o caráter tropical da cidade: no parque, nas avenidas arborizadas e nas praças e jardins dos bairros. Os renques de palmeiras imperiais que freqüentemente aparecem nos desenhos de Le Corbusier, já estavam presentes nas perspectivas dos jardins de Agache para a Ponta do Calabouço. No Plano, a vida do pedestre na cidade – o flâneur parisino – obteve particular presença, assumindo o seu hedonismo e a necessidade do contato com a natureza da população carioca. Ao mesmo tempo, tinha consciência da significação dos poucos monumentos históricos que deveriam ser conservados. Antecipou a criação do IPHAN sugerindo o estabelecimento de uma Comissão Superior dos Monumentos Históricos, Naturais e dos Sítios, para a defesa do patrimônio construído.
Sem dúvida, como demonstra o livro, sua contribuição para a formulação de um sistema jurídico e administrativo que permitiria, desde o nível federal até o nível municipal, promover e controlar o desenvolvimento de um plano diretor, não somente para o Distrito Federal, mas para todas as cidades brasileiras, foi fundamental. Antecipou a legislação da nova Constituição de 1988 e a criação posterior do Ministério das Cidades. Finalmente, é significativo o detalhamento exaustivo da infraestrutura urbana – distribuição de energia elétrica e iluminação pública, água, esgoto e lixo – bem como a reiterada afirmação da necessidade de se controlar as empresas privadas contratadas para estes serviços. Agache duvidava da eficiência da City Improvements responsável pelo sistema de esgotos que contaminavam a Baía de Guanabara, problema até hoje não solucionado; assim como acontece ainda hoje (2009) com o sistema de distribuição de energia elétrica gerido pela Light.
Concluindo, o Rio de Janeiro tem uma grande dívida com Agache, já que seu Plano definiu o desenvolvimento urbano ao longo do século XX. Sua lição deve ser exemplar para o século XXI, e assumir a importância da malha urbana compacta da cidade, em lugar de incentivar a expansão suburbana infinita na Barra de Tijuca. De todas as maneiras, é um dever evitar as conseqüências negativas que podem resultar de decisões políticas equivocadas e que fatalmente trarão problemas para os futuros habitantes da cidade. A leitura deste livro pode significar, além do seu valor histórico, um chamado de alerta que exige uma atitude mais consciente das autoridades municipais. A cidade vive um momento em que eventos de dimensão internacional se aproximam. Esta é a ocasião para se superar as oportunidades perdidas, que vêm marcando a história da cidade desde a Exposição Universal de 1922.
notas
1
PREFEITURA do Distrito Federal; AGACHE A., Cidade do Rio de Janeiro: extensão – remodelação – embelezamento. Paris, Foyer Brésilien, 1926-1930.
2
ABREU, M. A. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLAN-Zahar, 1988; BRUANT, C. “Donat Alfred Agache: urbanismo, uma sociologia aplicada”; PEREIRA, M. S. “Pensando a metrópole moderna: os planos de Agache e Le Corbusier para o Rio de Janeiro”; SILVA, L. H. P. “A trajetória de Alfred Donat Agache no Brasil”, ambos em PECHMAN, R. M.; RIBEIRO, L. C. Q. (orgs.). Cidade, povo e nação. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996; REZENDE, V. F. Planejamento urbano e ideologia: quatro planos para a cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982; STUCKENBRUCK, D. O Rio de Janeiro em questão: o Plano Agache e o ideário modernista dos anos 20. Rio de Janeiro, IPPUR-FASE, 1996.
3
Em duas ocasiões Le Corbusier escreveu comentários negativos sobre Agache, que atacou constantemente nas suas palestras no Rio em 1936. Em 1930, na carta a Oswaldo Costa (22/04/1930), comentou: ”j´était furieux de voir ce qu´on allait bêtement réaliser parce qu´on avait signé un contact avec un pauvre tipo aux longs cheveux que est en marge même de l´ére contemporaine". E quando Lucio Costa, em 1937, enviou os planos do projeto definitivo do Ministério da Educação e Saúde, ele respondeu: ”il sera comme une perle dans le fumier agachique”. TSIOMIS, Yannis (Org.). Conférence de Rio. Le Corbusier au Brésil, 1936. Paris, Flammarion, 2006, p. 21. Ver também: Yannis Tsiomis (org.). Le Corbusier. Rio de Janeiro 1929-1936. Rio de Janeiro: CAU, 1998, p. 19, se traduz a expressão de Le Corbusier como “Ele será como uma pérola no esterco agáchico”.
4
BANHAM, Reyner. Teoria y diseño en la edad de la máquina. Buenos Aires, Nueva Visión, 1965, p. 242.
5
O CAU foi criado pelo Prefeito Luiz Paulo Conde em 1996 e começou as suas atividades com o Seminário Internacional sobre o Art Déco, e a publicação do livro: Art Déco na América Latina. 1er Seminário Internacional. Rio de Janeiro, CAU/SMU/Solar Grandjean de Montigny, PUC, 1997. E sucessivamente foram publicados importantes livros, associados ás exposições apresentadas. Citemos: CZAJKOWSKI, Jorge (Edit.). Guias da arquitetura no Rio de Janeiro. Volume 1 – colonial, neoclássica e romântica; Volume 2 – eclética; Volume 3 – art déco; Volume 4 – moderna. Rio de Janeiro, CAU/Casa da Palavra, 2000; Jorge Machado Moreira. Rio de Janeiro, CAU, 1999; TSIOMIS, Yannis (Edit.). Le Corbusier – Rio de Janeiro: 1929-1936. Rio de Janeiro, CAU, 1998.
6
Um estudo detalhado do Plano foi desenvolvido no seguinte trabalho acadêmico: RODRIGUEZ, Marisol. O Rio de Janeiro de Agache e a Havana de Forestier: a Escola Francesa de Urbanismo nos centros urbanos latino-americanos. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, Prourb/FAU UFRJ, 2003.
7
As dúvidas sobre o futuro do Rio de Janeiro estão presentes neste início do século 21, como se manifestam nos recentes artigos de profissionais cariocas. Ver: LEONIDIO, Otávio. “Rio 2016: a arquitetura no limbo”. Projeto Design, n. 358, São Paulo, dez. 2009, p. 10-13; GRUNOW, Evelise. “Entrevista a Sérgio Magalhães”. Projeto Design, n. 358, São Paulo, dez. 2009, p. 102-105.
8
Nos anos vinte Hegemann obteve uma grande difusão ao publicar um livro que reunia todas as principais experiências de desenho urbano, tanto históricas quanto das primeiras décadas do século vinte. HEGEMANN, Werner; PEETS, Elbert. The American Vitruvius: an architect´s handbook of civic art. Nova York, Princeton University Press (reprint), 1988.
9
ALMANDOZ, Arturo (Edit.). “Urbanizaton and Urbanism in Latin America: From Haussmann to CIAM”. Planning Latin America´s Capital Cities, 1850-1950. Londres, Routledge, 2002, p. 13-44.
10
BRUNNER, Karl H. Manual de urbanismo. Bogotá, Ediciones del Consejo de Bogotá, 1939-1940. Volume I – sintesis, las viviendas urbanas, saneamiento; Volume II – edificación, urbanización, vialidad urbana.
11
CORBUSIER, Le. Plano Director para Buenos Aires. Buenos Aires, La Arquitectura de Hoy, 1947.
12
Teve uma significativa importância o livro de Patrick Geddes, Cities in Evolution (Nova York: Oxford University Press), publicado originalmente em 1915, e que incidiu na visão “orgânica” de Lewis Mumford, Eliel Saarinen e Frank Lloyd Wright.
13
Em 1932, Correa Lima elabora o Plano Diretor de Niterói, no Instituto de Urbanismo de Paris, sob a direção de Henri Prost, que constitui uma síntese entre as idéias de Agache e de Le Corbusier.
14
LE CORBUSIER. Précisions sur un état présent de l´architecture et de l´urbanisme. Paris, Éditions Vincent, Fréal, 1960, p. 203.
15
CIAM. La Carta de Atenas. Introdução de Jean Giraudoux. Buenos Aires, Editorial Contémpora, 1957.
16
COLOMINA, Beatriz. The Medical Body in Modern Architecture. In DAVIDSON, Cyinthia C. Anybody, Anyone Corporation, New York. Cambridge: The MIT Press, 1997, p. 228-239.
17
DUANY, Andrés; PLATER-ZYBERK, Elisabeth; SPECK, Jeff, Suburban Nation. The Rise of Sprawl and the Decline of the American Dream. Nova York: North Point Press, 2000.
18
MUMFORD, Eric; SARKIS, Hashim; TURAN, Neyran. Josep Lluís Sert. The Architect of Urban Design, 1953-1969. New Haven: Yale University Press, 2008. Na “Introdução” se confirmam os quarto elementos que para J. L. Sert caracterizam a procura de uma centralidade urbana “humana”: o pátio, o embasamento, a torre e a rua dos pedestres. Elementos já formulados por Agache no centro do Rio de Janeiro.
19
TSIOMIS, Yannis. Op. cit., p. 39.
sobre o autor
Roberto Segre é Professor Titular Aposentado da FAU/UFRJ. Professor no Programa de Pós-graduação em Urbanismo, PROURB/FAU/UFRJ. Pesquisador 1B do CNPq, Coordenador do DOCOMOMO-Rio. Professor Titular Consultor na FA/ISPJAE, Havana, Cuba. Têm publicados livros sobre arquitetura e urbanismo no Brasil, América Latina e o Caribe