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reviews online ISSN 2175-6694


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O livro de Clarissa Moreira faz considerações sobre um “devir-cidadezinha” a partir de uma fina análise de quatro filmes excepcionais: Dogville, Blade Runner, A Vila e Matrix.

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PAQUOT, Thierry. O devir-cidadezinha das metrópoles. Resenhas Online, São Paulo, ano 10, n. 110.03, Vitruvius, maio 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/10.110/3867>.


Arquiteta, urbanista e doutora em Filosofia, a autora se interessa pela figura da “cidade contemporânea”, que precisamente não se dá a retratar pela simples razão de que esta não é mais uma cidade, mas uma metrópole ou um mundo urbano explodido, impossível de enquadrar em uma fotografia comportada – aliás a ilustração de capa não existe, apesar de anunciada (1).

Esta nova realidade urbana sai de seus limites geográfico-administrativos à medida que se reconfigura.

A autora vai, ainda, buscar o que produziria “cidadezinha” ou “vilarejo” no âmago destas organizações urbanas e percebe que um “devir-cidadezinha” é dotado de uma tarefa positiva e de uma tarefa negativa, em um duplo movimento: de início, um movimento de proteção que permite a estes mundos em perigo continuar existindo, e, em seguida, um movimento de circunscrição ou de fechamento, intencional ou não, que “fecha” estes mundos tornando-os, na mesma ocasião, mais frágeis.

Ela ilustra sua proposição apoiando-se sobre uma fina análise de quatro filmes excepcionais: Dogville, Blade Runner, A Vila e Matrix, de onde a autora deduz que um devir-cidadezinha de um mundo urbano é, possivelmente, a expressão mesma de uma indisponibilidade de assimilar ou viver em meio aos excessos deste mesmo mundo urbano que encontra cada vez menos barreiras ou fronteiras.

A obra, atravessada pelo pensamento de Gilles Deleuze e, de certa forma, pela obra de Felix Guatarri, se articula em cinco partes, cada uma dedicada a um tema: Matéria: cidade e devir; Condições: a cidade mídia; Meio: o traçado; Alvo: o corpo e a cidade; Movimentos e tendência: o incêndio?

A arquitetura é aqui considerada como uma mídia, o urbano, como um jogo ininterrupto de fluxos, a cidade, como uma “imagem” e o projeto urbano como a construção de uma imagem e a tentativa de fabricar uma identidade territorial (Bilbao, Lille, Manchester...). Mas a esta construção corresponde sua ameaça: a desertificação, associada à velocidade dos transportes e informações. A cidadezinha aparece então como um refúgio que “encerra” mas que, ao mesmo tempo, permite uma distância de um mundo tecnologizado e excessivo “em tudo e de tudo”, e uma reapropriação do corpo e seus ritmos!

A leitura deste ensaio se revela exigente; algumas formulações mereceriam maior desenvolvimento e outras são esclarecedoras deste mundo urbano cada dia menos inteligível e cada vez mais contraditório, apesar de um alisamento das formas urbanas e das arquiteturas transnacionais.

Então: filosofia, cinema, cidade? A autora explora as condições de sua união em Deleuze, que escreve: “O cinema não se confunde com as outras artes que visam sobretudo um irreal através do mundo, mas faz do mundo um irreal ou um romance: com o cinema é o mundo que se torna sua própria imagem, e não uma imagem que se torna mundo”.

Clarissa da Costa Moreira toma destes três impossíveis objetos meios de apreendê-los em suas fugas, seus horizontes, seus devires (2).

[tradução do francês de Isabela Moreira]

notas

NE
A publicação em Vitruvius aconteceu em maio de 2011, em procedimento de acerto da periodicidade da revista Resenhas Online.

1
NT – Tratava-se de uma imagem do planeta, excluída por razões técnicas desta edição, e cuja referência permaneceu no livro. A ausência foi notada por Thierry Paquot, que propõe uma espécie de razão programática para esta desaparição.

2
Texto originalmente publicado na revista Urbanisme, n. 371, mar./abr. 2010, p. 92. Reprodução autorizada pelo autor para a revista Resenhas Online do portal Vitruvius. Tradução do título: Cidade e devir: “retrato filosófico” do devir-cidadezinha das metrópoles.

sobre o autor

Thierry Paquot, filósofo, professor universitário (Institut d'Urbanisme de Paris, Paris XII-Val-de-Marne) é também editor da revista Urbanisme, membro do Júri do grande prêmio nacional de urbanismo da França. Publicou diversos livros, dentre os quais: Homo urbanus (Le Félin, 1990); Villes et civilisation urbaine, XVIIIe-XXe siècle (avec Marcel Roncayolo, Larousse, 1992); Vive la ville! (Arléa-Corlet, 1994); L'utopie ou l'idéal piégé (Hatier, 1996, traductions: Portugal, Brésil, Grèce, Italie, Turquie, Corée); Le Monde des villes (sous la direction de, Complexe, 1996); L'Art de la sieste (Zulma, 1998, traductions : Italie, Allemagne, Grande-Bretagne, Portugal); Ethique, architecture, urbain (sous la direction de Chris Younès et Thierry Paquot, La Découverte, 2000); La ville et l'urbain, l'état des savoirs (sous la direction de et avec la collaboration de Michel Lussault et Sophie Body-Gendrot, La Découverte, 2000); Philosophie, ville et architecture. La renaissance des quatre éléments (sous la direction de Chris Younès et Thierry Paquot, La Découverte, 2002); L'urbain et ses imaginaires (sous la direction de Thierry Paquot et Patrick Baudry, MSHA); entre outros.

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resenha do livro

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