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Agenda pendiente reúne os artigos escritos por Fernando Diez para a página de opinião do jornal La Nación entre os anos 2001 e 2011, com temáticas que abrangem problemas principalmente do espaço público e do meio ambiente.

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PECO, Martín di. Quem quiser ouvir que ouça. Fernando Diez fala sobre o que não queremos ouvir. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 152.01, Vitruvius, ago. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.152/5263>.


“Que o urgente não tampe o importante” é o que comumente se diz para explicar a prioritária atenção que os temas de fundo, que muitas vezes ficam obscurecidos pelas emergências cotidianas, requerem. O problema é quando já todos os primeiros alarmes soaram e o importante é urgente já há muito tempo.

Agenda pendiente reúne os artigos escritos por Fernando Diez para a página de opinião do jornal La Nación entre os anos 2001 e 2011, com temáticas que abrangem problemas principalmente do espaço público e do meio ambiente, analisadas desde um ponto de vista social, político e também comunicacional.

As encruzilhadas que a sustentabilidade e o desenvolvimento propõem, a nova sociedade do conhecimento, o mito da máquina, a crise da economia, a estética da saturação, e, finalmente, também as mudanças tecnológicas positivas são algumas das problemáticas ao mesmo tempo atuais e históricas, argentinas e mundiais que o autor explica com paciência e claridade. Se bem que o enfoque a partir da arquitetura e do urbanismo seja notório (Fernando Diez é diretor desta revista e professor na Universidade de Palermo), estes artigos estão destinados a um universo amplo de leitores.

Cada capítulo arranca geralmente com um choque de realidade, um primeiro parágrafo que obriga a assumir algo que já não acontece como acontecia antes ou como quereríamos que acontecesse. (“Sem perceber, perdemos o que era nosso. A rua, após a porta de nossa casa ou do escritório, já não é nossa”, p. 15.) Porém, o antídoto para certa visão com nostalgia ou a certo efeito de desassossego vem da mão de sugestões finais sobre como poderia se agir a partir do novo cenário. (“deveríamos elevar o status jurídico do espaço público ao de uma garantia explícita. Como o habeas corpus prevê a prisão arbitrária, um habeas espaço público deveria preservar nossa liberdade de nos deslocar”, p. 16.)

Formulam-se, em alguns casos, problemáticas que se estruturam ao modo de um “dilema do prisioneiro” ou “tragédia dos comuns” (que é efetivamente citada na pág.144), situações que levam os indivíduos a não cooperar entre si, inclusive quando o benefício mútuo seria evidente em longo prazo. (“É óbvio que o ar está contaminado, e compreendo perfeitamente que a origem desse mal é o excesso de automóveis, mas não soluciono nada com renunciar a dirigir meu carro. Somente haveria uma melhora se todos os demais fizessem o mesmo ao mesmo tempo. Enquanto isso tanto, serei o único que renunciou  a seu conforto e competitividade”, p. 24.) O autor abre em algumas ocasiões diferentes possibilidades para contrabalancear esse “efeito curto prazo”.

Para os seguidores do urbanismo, talvez o capítulo mais interessante seja “Mais habitações, porém como e onde?” (outubro de 2004, p. 66): um percurso breve e preciso pelo problema da habitação social argentina a partir da década de 1970 à atualidade, desapegado de frequentes posturas maniqueístas e posto, além disso, em relação com a problemática mundial.

O capítulo de encerramento (“Muito mais que sete milhões”) é talvez o mais alarmante, já que nele se conjugam as cifras de crescimento populacional e de consumo de recursos per capita. Mais desenvolvimento é mais consumo de recursos, na maioria das vezes não renováveis. Enquanto todas as nações aspiram a mais crescimento, lamentavelmente nosso planeta não pretende se tornar maior para satisfazer essa demanda. A maneira de medir o progresso, por meio de um crescimento econômico desligado do bem-estar humano-ambiental, não nos levará a bom porto. E o diagnóstico do autor não dá lugar para otimismo: “a bússola não funciona” (p. 104).

Fernando Diez escreve fundamentalmente sobre o que não queremos ouvir, e esse é, neste caso, o maior sentido da palavra escrita: dar o tempo e a persistência necessários para que essas ideias tenham o peso adequado, sobrevivam à negação e possam germinar ações de mudança e resposta.

A modo de epílogo, as citações reúnem as divergentes fontes com as quais o autor se nutre, não só escritores ou pensadores, senão também fenômenos sociais ou eventos políticos: a partir de Guy Debord até o filme “Fantasia” de Disney, passando por Umberto Eco e Chernobyl, ou até o mesmo Sarmento e o Pacific Trash Vortex.

Por último, porém não menos importante, destacam-se as capas introdutórias de cada capítulo, algumas delas ilustradas com fotos de Albano García, que, além disso, idealizou graficamente a publicação.

sobre o autor

Martín Di Peco é arquiteto graduado na Universidade de Buenos Aires e mestre pela Universidade de Amsterdã. Realiza trabalhos docentes para a Universidade de Flores (Argentina) e é o atual coordenador editorial da revista Summa+.

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