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O livro organizado por Carlos Sambrício propõe uma história urbana comparada e delineia uma história da arquitetura na acepção tafuriana, na qual explicita os processos políticos e ideológicos em disputa na gestão urbana.

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KOURY, Ana Paula. Isto é mais do que um livro sobre habitação e cidades na América Latina. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 152.03, Vitruvius, ago. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.152/5275>.


"Isto é mais do que um livro sobre cidades. Este é um livro sobre o efeito das cidades na vida dos seres humanos, e sobre novas forças que estão apontando o caminho para os avanços sociais no ambiente urbano".
Francis Violich. Cities of Latin America: housing and planning to the south Reinhold Publishing. New York, 1944.

Quando Francis Violich escreve Cities of Latin America: housing and planning to the south, em que reúne em uma perspectiva comparada os planos e problemas urbanos recolhidos em sua viagem pela América Latina, não esconde do leitor o espanto ao encontrar, por exemplo, em Buenos Aires, o que identifica como o primeiro conjunto habitacional do hemisfério ocidental promovido pelo Estado, ainda em 1910. E lembra que um programa público de habitação nos Estados Unidos foi instituído apenas em 1933. Entre 1941 e 1942, o mais tarde consagrado pioneiro do planejamento ambiental percorreu dez países latino-americanos – México, Guatemala, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. E depois de constatar não apenas a precedência do caso argentino, mas a pujança da modernização espacial das cidades latino-americanas, afirmou: “The latins are working hard to clear their slums” (p. 133).

O livro organizado por Carlos Sambricio Ciudad y vivienda en América Latina (1930-1960) permite vislumbrar o esforço “dos latinos” em dirigir este processo. Uma história da qual o próprio Violich, mais tarde, seria um dos protagonistas. Desta vez não foi a constatação da construção habitacional pioneira na América Latina que levou Carlos Sambricio a inverter a relação de precedência naturalizada pela narrativa eurocêntrica – isto é, a produção dos modelos na Europa e a sua difusão no mundo colonial. Mas sim o desenvolvimento de uma crítica à construção ideológica da modernidade que o autor produziu no diálogo com a Escola de Veneza, nos anos de 1970, sob a liderança intelectual de Manfredo Tafuri e de seu manifesto historiográfico Teorie e storie della architettura (1968).

Plano Diretor de Medellín, unidade de vizinhança, Sert e Wiener, 1948. Carlos Eduardo Hernández Rodriuez. Colômbia, Urbanismo Moderno y Vivienda p. 241
Imagem divulgação [reprodução do livro]


Nesta linha, o autor reconhece na iniciativa latino-americana as suas motivações próprias, discriminando-as tanto em relação ao modelo de habitação da social democracia europeia, quanto do modelo corbusiano. Vale, segundo o autor, na perspectiva latino-americana, uma articulação mais estreita com o planejamento da política habitacional em âmbito nacional.

“los gobiernos latinoamericanos plantearon un programa de necessidades que poco tenía que ver con las experiências de la socialdemocracia europea, al sustituir la reflexión sobre la célula habitacional por la definición de planes nacionales de vivienda” (p. 13).

A narrativa histórica é conduzida por dois temas, o planejamento urbano regional e a política habitacional. Cada tema, objeto de pesquisas específicas em seus países de origem, foi entregue a um autor. Os textos expressam a qualidade do ambiente acadêmico em que foram produzidos e garantem uma boa apresentação para cada um dos países incluídos na publicação: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México e Venezuela. O leitor tem acesso aos elementos fundamentais para compreender a formação da cidade industrial na América Latina e as disputas pela sua gestão.

A ampliação do setor industrial , a partir dos anos 1930, significou a transformação intensiva das antigas cidades coloniais em grandes aglomerações urbanas. Além disso, representou uma oportunidade política para a reversão do sentido histórico da formação latino-americana, isto é, a transformação de uma vasta empresa comercial exportadora assentada na máxima exploração dos recursos naturais e do trabalho em um projeto civilizatório moderno que, baseado em uma economia industrial voltada aos mercados nacionais, fosse capaz de melhorar o padrão de vida geral da população.

Esta utopia nacional logo explicitou os seus limites. A “industrialização para dentro”, como definiu o economista Raul Prebish em seu relatório para as Nações Unidas, em 1964, havia sido uma fórmula bem sucedida para proteger as economias nacionais durante a substituição das importações. Entretanto, a ausência de um planejamento mais completo impediu que este modelo evoluísse em uma divisão internacional na produção de bens manufaturados. Os países que se industrializavam nos anos 1930 não conseguiriam uma participação equilibrada no comércio internacional. Os limites políticos da utopia nacional viriam com a reação civil-militar a partir da década de 1960. As ditaduras marcam a retomada de um padrão de acumulação intensivo que associava o capital nacional ao mercado internacional e mantinham elevados os níveis de desigualdade social do modelo agroexportador, agora em uma sociedade industrializada.

Bairro Juan Peron, tipologia de unidades, Buenos Aires, 1950. Rosa Aboy. La Vivienda Social en Argentina. El caso de Buenos Aires, 1930-1960. p. 95
Imagem divulgação [reprodução do livro]

Carlos Sambricio aponta, neste processo econômico, político e social, a condução das transformações nas estruturas da cidade latino-americana. Demonstra, como já havia atestado Violich, a grande capacidade local para enfrentar os desafios da modernização. Contando com técnicos qualificados e instituições organizadas, os Estados nacionais latino-americanos responderam ao desafio de planejar o desenvolvimento espacial e de promover uma política habitacional voltada a uma nova classe social – os trabalhadores urbanos com renda média. A relativa semelhança e simultaneidade das fórmulas adotadas indicam, para o autor, o enfrentamento de questões comuns, como disponibilizar capital através de financiamento, organizar o setor da indústria de materiais e componentes, oferecer terrenos, conter o fluxo migratório do campo para a cidade e, ainda, gerir e administrar todas estas operações.

A produção bibliográfica sobre as cidades latino-americanas

A partir do período após a Segunda -Guerra Mundial , a produção bibliográfica sobre as cidades latino-americanas, inaugurada pelo texto emblemático de Violich, pode ser compreendida por pelo menos três vetores principais, que expressam as posições de ambientes institucionais marcados pelos alinhamentos geopolíticos da guerra fria. Entretanto, as narrativas produzidas pelos autores nem sempre podem ser diretamente traduzidas por tais alinhamentos. Sua compreensão está em uma resultante que expressa um profícuo debate entre eles.

No primeiro vetor predomina o tema patrimônio histórico de grande interesse das instituições nacionais, organizadas nos diferentes países da América Latina na segunda metade dos anos 1930. Neste caso, o tema da identidade nacional originada do passado colonial, o processo de assimilação das culturas indígenas, a formação racial e o clima tropical e subtropical constituíram elementos centrais na procura de uma identidade cultural para as cidades latino-americanas.

O segundo vetor de interpretação origina-se do campo de investigação formado pelos organismos internacionais de assistência técnica, criados com o final da Segunda Guerra Mundial para promover o desenvolvimento econômico e social das regiões subdesenvolvidas e mais vulneráveis ao avanço do bloco soviético, como a porção colonial formada pela América Latina e Caribe. Nestes trabalhos predomina a análise das condições de vida e do perfil demográfico e socioeconômico da população, feita por equipes interdisciplinares através de levantamentos sistemáticos.

E um terceiro vetor de debate nasce de uma outra perspectiva de engajamento político, com o objetivo de explicitar as relações de dependência entre o capitalismo originário e o capitalismo periférico. Esta abordagem colocava sob suspeita os esforços de planejamento capitaneados pelas agências de cooperação técnica sob a liderança norte-americana. A teoria da marginalidade urbana emerge desta crítica e produz um conjunto importante de explicações sobre a cidade no contexto do subdesenvolvimento econômico.

Tais vetores de interpretação da cidade latino-americana refletem a polarização de autores como José Luiz Romero (1909-1977), Francis Violich (1911-2005), Richard Morse (1922-2001), Jorge Enrique Hardoy (1926-1993), Jorge Wilheim (1928-2014), Roberto Segre (1934-2013), entre outros. Outros protagonistas da historiografia das cidades latino-americanas também poderiam ser mencionados. A bibliografia recente sobre o assunto conta com uma lista de autores muito mais extensa. O importante é indagar o lugar de cada uma das narrativas no campo de forças que atuou e ainda atua na produção da cidade latino-americana.

O livro organizado por Carlos Sambrício propõe uma história urbana comparada e, valendo-se de um diálogo com os demais textos incluídos na coletânea, delineia uma história da arquitetura na acepção tafuriana, na qual explicita os processos políticos e ideológicos em disputa na gestão urbana considerada, mais do que a experiência acadêmica ou do estúdio profissional – o verdadeiro banco de provas da arquitetura.

Várias outras interpretações estão latentes no material amplamente ilustrado e reunido nas 487 páginas do volume publicado pela editora madrilena Lampreave. E, quem sabe, abrem caminho para uma reinterpretação operativa da formação histórica da unidade latino-americana através da definição de um projeto de futuro.

sobre a autora

Ana Paula Koury é professora do Programa de Pós Gradação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu. autora do livro Grupo Arquitetura Nova: a obra de Flávio Império, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro foi publicado pela Romano Guerra Editora em 2003. Entre 2004 e 2014 coordenou com Nabil Bonduki o levantamento, sistematização de dados e produção de textos para a publicação em 3 volumes (no prelo) do livro Pioneiros da Habitação Social no Brasil.

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Ciudad y vivienda en América Latina (1930-1960)

Ciudad y vivienda en América Latina (1930-1960)

Carlos Sambricio (Org.)

2013

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