Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

reviews online ISSN 2175-6694

abstracts

português
Carlos Leite reafirma que o urbanismo contemporâneo deve se revisitar constantemente, o que pode ser feito a partir do conhecimento e avaliação de boas práticas urbanísticas já implantadas em outras cidades.

how to quote

FRANÇA, Elisabete. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 153.03, Vitruvius, set. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.153/5298>.


Henri Lefebvre nos ensina que “a cidade não é apenas uma linguagem, mas uma prática”. Arquitetos e urbanistas devem refletir seriamente sobre a afirmação de Lefebvre, porque são os profissionais que tem como missão transformar espaços urbanos, através de projetos para novas áreas da cidade ou para aquelas que devem passar por processos de reestruturação.

Sim, a cidade é uma prática! Esse é o percurso para o qual Carlos Leite, arquiteto, professor e pesquisador, convida todo aquele que se interessa pela transformação da cidade contemporânea.

A partir das pesquisas que vem desenvolvendo há quase duas décadas, o autor nos encoraja a acreditar na possibilidade transformadora do urbanismo, analisando vários exemplos de intervenções em áreas que passaram por projetos de regeneração urbana e cidades que apostam em um futuro ambientalmente sustentável.

Carlos Leite reafirma na publicação, que o urbanismo contemporâneo deve se revisitar constantemente, o que pode ser feito a partir do conhecimento e avaliação de boas práticas urbanísticas já implantadas em outras cidades.

Nesta linha de pensamento, o autor nos apresenta uma série de intervenções em diversas cidades de diferentes países, cada uma delas contribuindo para a discussão sobre o que é o urbanismo na cidade contemporânea.

Paraisópolis
Foto Tuca Vieira

Cidades sustentáveis, cidades inteligentes

Em 2012, o arquiteto Jaime Lerner, em palestra no Mackenzie, contou que quando governador recebia dezenas de prefeitos pedindo recursos. E ele perguntava “qual é seu sonho para sua cidade?” E não obtinha respostas...

O sonho para nossas cidades é o de transformá-las em locais cada vez mais atrativos, receptivos, generosos e que estejam abertos à fruição dos cidadãos sendo o urbanismo a disciplina responsável pelos projetos desses espaços. Sua missão é inerente à atividade transformadora.

Carlos Leite pertence à geração do pós 1960, que foi educada nas reflexões que buscavam alternativas ao modelo modernista já exaurido. Em Cidades sustentáveis, cidades inteligentes é possível encontrar a influência das análises de Kevin Lynch em A imagem da cidade, de 1960 (1) quando busca compreender a cidade a partir das experiências individuais e da atribuição pessoal de valor aos dados visuais.

Lynch nos ensinou sobre a importância dos indivíduos na sua relação com a cidade, que trabalham com a memória e com a imaginação, produzindo cada um deles, seu mapa da cidade, ao mesmo tempo em que tem a sensação de estar na cidade e a ela pertencer.

Também é possível afirmar com segurança, que o autor compreendeu e incorporou a ideia de “memória coletiva” apresentada por Rossi em 1966, no livro A arquitetura e a cidade (2), entendida como a relação que se estabelece entre um lugar determinado, os indivíduos que nele vivem e a história conhecida do lugar, o que pressupõe a existência de uma base espacial para se realizar, onde são desenhados os mapas individuais, o que reforça a importância da construção de espaços de uso público nas cidades, apropriados em todos os mapas individuais.

A importância dos indivíduos na sua relação aliada à construção da memória coletiva, está presente na análise do processo de implantação dos clusters e seus resultados, melhores ou piores à medida que se aproximam da realidade do local onde serão implantados e interagem com as comunidades locais. E, mais recentemente, nas pesquisas que o autor vem desenvolvendo em Heliópolis, nos seus estúdios com os estudantes e a comunidade local.

Observa-se a influência, embora não explícita, de Argan, quando discorre sobre a crise da arte e da cidade em seu livro História da arte como história da cidade, quando define o urbanismo como a disciplina que busca “a mudança de uma situação de fato reconhecida como insatisfatória”, cujo “objeto é sempre a existência humana como existência social” e, portanto, o projeto resultante da atividade urbanística, reflete o entendimento que “a existência social será, deverá ou deveria ser diferente e melhor em relação ao que é” (3).

Indicadores de sustentabilidade urbana
Esquema Carlos Leite

As análise e os exemplos de intervenções apresentados em Cidades sustentáveis, cidades inteligentes, retomam uma ideia importante de Argan, para quem o urbanismo e a arquitetura se desenvolvem em uma situação em que a cidade “não é a dimensão de uma função, é a dimensão da existência” (4).

Mas o livro vai além dos conceitos clássicos que inspiram o urbanismo contemporâneo. A cidade do século 21 se depara com desafios bem mais complexos que os anteriores. Agora trata-se de integrar aos temas da sustentabilidade, da moradia, da segurança urbana, da mobilidade e da exclusão social. A realidade urbana atual impõe a adoção de um conjunto de novos paradigmas, alguns deles aqui apresentados.

Autores como Edward Glaeser e as externalidades econômicas proporcionadas pelas metrópoles, Richard Florida responsável pelo conceito de cidades criativas e Paul Krugman em sua defesa das maiores densidades urbanas, são apresentados aos leitores, acompanhados de exemplos de intervenções que já adotam esses novos conceitos.

There is alternative

A publicação de Cidades sustentáveis, cidades inteligentes tem um importante diferencial que pode ser observado quando comparado ao conjunto significativo de publicações atuais sobre as cidades.

Grande parte delas se caracteriza por apresentar prognósticos alarmantes sobre seu futuro próximo. As cidades – agora megalópolis – que crescem de forma desordenada como conseqüência das migrações para os centros urbanos, segundo tais prognósticos dos porta vozes do fim do mundo, anunciam que o planeta se transformará em uma favela. Nessa perspectiva, qualquer ação com vistas a enfrentar a realidade urbana estará fadada ao fracasso.

Nos meios acadêmicos e econômicos esta postura ficou conhecida como There is no alternative (TINA), expressão utilizada por Angotti (2005), quando acusa Mike Davis de promover uma visão anticidade, no livro Planeta favela (5).

Na realidade, o entendimento do futuro das cidades, como um não futuro, colabora mais para o sucesso da venda de livros do que para a busca de soluções criativas e possíveis para a transformação das cidades, através da ação da arquitetura e do urbanismo produzindo espaços referenciais para a convivência social.

Cidades sustentáveis, cidades inteligentes busca reconstruir a trajetória da construção das cidades, a partir de uma leitura que podemos denominar There is Alternative (TIA). Ao longo do texto, o autor nos apresenta vários exemplos de intervenções que mostram ser possível a transformação de condições urbanas adversas, as quais vêm sendo implantadas em várias cidades dos diferentes continentes.

Laboratório de cocriação em territórios informais em Heliópolis. Parceria FAU-Mackenzie, Parsons (NY), Amsterdam Academy, ONG Cedeca-Heliópolis, ETEC-Heliópolis, Habi-Sehab (Gestão Elisabete França); coordenação: Carlos Leite
Esquema Carlos Leite

Experiências como a de Curitiba, premiada pela tradição de décadas de planejamento sustentável, os clusters inovadores de Seattle, São Francisco e Boston, e o Plano Nova York Cidade Sustentável, com suas 127 metas a serem alcançadas até 2030, mostram que para aqueles que planejam e projetam o futuro das cidades There is alternative e, essas alternativas têm colaborado para mudar a face de áreas degradadas da cidade.

O cenário sobre o futuro das cidades apresentado pelo autor traz novo alento para a disciplina urbanística. Em Cidades sustentáveis, cidades inteligentes, a cidade é vista a partir do que ela tem de mais atrativo para aqueles que optam por aí viver – a fruição da urbanidade.

O livro retoma o conceito, tão bem definido pelo arquiteto Bogdan Bogdanovic e colaboradores (2010), quando afirma, que desde o século 13, a urbanidade representa a cortesia, a capacidade de articular, a coerência entre pensamento e palavra, entre palavra e sentimento, e entre sentimento e movimento.

As experiências aqui apresentadas e, mais particularmente, a forma como Carlos Leite as relata, mostram que é possível implantar espaços públicos ou políticas públicas onde ou através das quais é resgatada a função central da vida urbana – a capacidade de permitir acesso a possibilidades de futuro e onde opostos convivem.

A cidade contemporânea é complexa, multicultural, desafiadora e atrativa. Nela não há espaço para os antigos conceitos conservadores do urbanismo formal do século 19 e 20.

Cidades sustentáveis, cidades inteligentes faz a leitura atual da cidade do século 21 e é uma leitura estimulante para os estudantes e jovens arquitetos que aceitam o desafio atual para desenhar as cidades contemporâneas.

notas

1
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1997 [ed.orig. The Image of the City. 1960].

2
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1984 [ed. orig. L’Architettura della Cittá. Padova, Marsílio, 1966].

3
ARGAN, Giulio Carlo (1984). História da arte como história da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 212.

4
Idem, ibidem, p. 223.

5
DAVIS, Mike. Planeta favela. São Paulo, Boitempo, 2006.

bibliografia complementar

BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte, Editora UFMG. 2006.

MAGALHÃES, Sergio. A cidade na incerteza. Ruptura e contiguidade em urbanismo.Rio de Janeiro, Viana Mosley/Prourb, 2007.

sobre a autora

Elisabete França é consultora na área de habitação e urbanização.

comments

resenha do livro

Cidades sustentáveis cidades inteligentes

Cidades sustentáveis cidades inteligentes

Desenvolvimento sustentável num planeta urbano

Carlos Leite and Juliana di Cesare Marques Awad

2012

153.03 alternativas
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

153

153.01 design no brasil

IAC em perspectiva histórica

Sobre o Instituto de Arte Contemporânea

Márcia Almeida

153.02 debate internacional

Entre Eisenman e Koolhaas

Diálogos acerca de projeto e crítica

Luiz Gustavo Sobral Fernandes

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided