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Segundo a resenhista Luciana Fornari Colombo, o livro Mies,de autoria de Detlef Mertins (Phaidon Press, London, 2014) oferece um retrato amplo, profundo, e bem ilustrado da carreira do renomado arquiteto alemão naturalizado americano Mies van der Rohe.

english
Detlef Mertins's Mies (Phaidon Press, London, 2014) is a book that offers a well-illustrated, comprehensive, and thorough portrait of the career and reception of the renowned German-American architect Ludwig Mies van der Rohe.

how to quote

COLOMBO, Luciana Fornari. O modus operandi de Ludwig Mies van der Rohe. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 156.01, Vitruvius, dez. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.156/5357>.


O livro Mies (2014) de autoria de Detlef Mertins oferece um retrato amplo, profundo, e bem ilustrado da carreira do renomado arquiteto alemão naturalizado americano Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) (1). Conforme o seu título sugere, este livro tem uma abordagem genérica. Ele apresenta as obras canônicas de Mies em ordem cronológica ao invés de se focar em obras ou aspectos específicos do legado deste arquiteto. Considerando-se que diversos autores já adotaram esta abordagem genérica, de Philip Johnson (1978 [1957, 1947]) a Jean-Louis Cohen (2007 [1996]) (2), pode-se questionar: Quão diferente é este livro de publicações anteriores?

Mertins responde a esta pergunta na introdução: 'Este livro explora mais amplamente as leituras de Mies e o contexto histórico, artístico e intelectual no qual este arquiteto trabalhou' (3). Assim, este livro busca suprir uma lacuna na literatura. Conforme Mertins explica, dentre os autores precedentes, Fritz Neumeyer (1991 [1986]) é aquele que fez a mais extensa referência aos livros da biblioteca pessoal de Mies, porém ainda se limitou a apenas uma porção dos quase 800 livros que o arquiteto possuía (4). Mertins explora mais profundamente estas fontes literárias e condições históricas para avançar o entendimento das complexas relações estabelecidas entre as ideias filosóficas, culturais, sociais e políticas de Mies, e as obras, construções e intenções deste arquiteto.

Outra contribuição do livro de Mertins é a expansão dos significados da obra de Mies (5). Mertins não apenas oferece as suas próprias interpretações atualizadas do legado deste arquiteto, mas também comenta várias interpretações de historiadores, críticos, artistas, colegas, clientes, e de habitantes das obras de Mies. O autor considera interpretações negativas e positivas, oferecendo um panorama equilibrado, sem, entretanto, perder de vista a convicção positiva de que o modo de operação de Mies é o seu grande legado (6).

O modus operandi de Mies reflete o seu esforço para condensar uma visão de mundo contemporânea em formas sensíveis, e para explorar os potenciais das tecnologias e das organizações espaciais emergentes. O seu objetivo era descobrir uma nova paisagem e alcançar uma arquitetura que fosse representativa do seu próprio período histórico (7). Mertins explica que este  modus operandi era animado pelo 'realismo crítico', uma intrincada filosofia neokantiana que o primeiro cliente de Mies, o filósofo austríaco Alois Riehl, desenvolveu. De acordo com esta filosofia, o autoconhecimento e o conhecimento dos objetos externos flui da interação entre sujeito e objeto, da percepção e da qualidade, da aparência e da coisa em si, dos fatores transcendentais e empíricos (8).

Mertins argumenta que o valor do modus operandi de Mies reside em facilitar a compreensão do caráter cambiante da vida e das suas inevitáveis tensões (9). O autor elabora estas tensões ao longo do livro, demonstrando que a obra de Mies é simultaneamente conservadora e radical, complacente e resistente, clássica e moderna, comum e extraordinária (10). Assim, Mertins busca explorar mais profundamente um tema que já havia sido abordado por Fritz Neumeyer no capítulo 'Architecture for the Search for Knowledge: The Double Way to Order' do livro The artless word: Mies van der Rohe on the building art (1991 [1986]) (11).

De acordo com Mertins, o modus operandi de Mies continua a ser relevante pois este respondeu ao início do atual período de modernização, o qual se caracteriza pela emergência e difusão das tecnologias de informação e da genética. Mertins acrescenta que o esclarecimento deste modus operandi é importante porque ele tem sido frequentemente incompreendido. Especialmente na fase tardia de sua vida, Mies era visto como alguém que havia desenvolvido fórmulas rígidas, embora ele continuasse a experimentar e a explorar novas possibilidades. Esta incompreensão tem conduzido a produção de obras estereotipadas, insensíveis, e dogmáticas que carecem de tensões vitais e que são um alvo fácil para os críticos (12). Mertins sugere que esta incompreensão reflete a insuficiência das palavras e do ensino de Mies para passar adiante os princípios mais importantes do seu trabalho (13). Ao se referir a uma questão relacionada, Mies certa vez afirmou, 'se a ideia é demonstrada de uma maneira objetiva, todos deveriam ser capazes de compreendê-la. Entretanto, é claro, poucos o fazem' (14).

Apesar do amplo escopo de seu livro, Mertins reconhece que: 'muito mais poderia, é claro, ser dito sobre todos estes frontes, e várias questões históricas são apenas escassamente abordadas' (15). De fato, por exemplo, o detalhado estudo da 'canção do cisne' de Mies, a Nova Galeria Nacional de Berlim (1962-68), ainda poderia ter explorado mais profundamente as relações entre o edifício e o seu sítio, o qual, conforme Mertins explica, foi selecionado pelo arquiteto ainda antes da decisão sobre a construção do museu ter sido formalizada (16). Dentre os elementos distintivos deste sítio localizado no Kulturforum está a vizinha St.-Matthäus-Kirche (1844-6), a qual é a única edificação desta área central de Berlim que resistiu à Segunda Guerra Mundial. O projeto de Mies demonstra respeito por esta construção histórica ao adotar os seus alinhamentos gerais, uma altura mais baixa, e um recuo que preserva a vista da igreja. De fato, a igreja permanece visível mesmo desde o interior do museu de Mies devido as suas amplas superfícies envidraçadas. Não era a primeira vez que Mies deliberadamente inseria a sua proposta moderna em um contexto tradicional. A maquete do Arranha-céu de vidro curvo que ele promoveu em exposições e publicações durante o início da década de 1920 era circundado por casas tradicionais, as quais Mies descreveu como sendo uma adição absolutamente necessária ao seu trabalho (17). Assim como nesta maquete, a proximidade do museu moderno de Mies com a igreja histórica esclarece as qualidades únicas de cada edifício ao reforçar o contraste entre novo e antigo, horizontal e vertical, aço e tijolo, aberturas grandes e pequenas. Por outro lado, esta proximidade também reforça as similaridades entre estes edifícios, fortalecendo o argumento de Mertins de que a Nova Galeria Nacional 'é a versão secular da catedral que Mies sempre quis construir mas nunca o fez, o lugar para contemplação da arte e das questões do espírito humano' (18).

Como uma publicação póstuma finalizada por um time de colegas (19), o livro Mies coroa a carreira de um pesquisador eminente. Baseando-se em um profundo e vasto conhecimento de fontes primárias e secundárias, este livro também significativamente enriquece a literatura miesiana, guiando jovens estudantes e estudiosos maduros a um maior entendimento do legado e da relevância de Mies van der Rohe na aurora do século 21.

notas

1
MERTINS, Detlef. Mies. Phaidon, London, 2014, p. 6.

2
JOHNSON, Philip (1947). Mies van der Rohe. 3 edição, New York, Museum of Modern Art, 1978; COHEN, Jean Louis (1996). Ludwig Mies van der Rohe, 2 edição. Basel, Birkhauser, 2007.

3
”This book draws more extensively than previous monographs on what he [Mies] read and the contexts within which he worked – historical and artistic, as well as intellectual”. MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 7-8.

4
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 468 (n. 10); NEUMEYER, Fritz (1986). The artless word: Mies van der Rohe on the building art. Mass, MIT, Cambridge, 1991.

5
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 8.

6
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 9.

7
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 8, 10.

8
HEIDELBERGER, Michael. From Neo-Kantianism to Critical Realism: Space and the Mind-Body Problem in Riehl and Schlick, Perspectives on Science, 2007, vol. 15, n. 1.

9
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 11, 440.

10
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 6, 10, 275, 380.

11
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 468 (n. 1).

12
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 7, 440-441, 503 (n. 128).

13
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 440.

14
”if the idea is demonstrated in an objective way, everybody should be able to understand it. But, of course, few people ever do”. MIES VAN DER ROHE, Ludwig, 1959. In PUENTE, Moisés. Conversations with Mies van der Rohe, Princeton Architectural Press, New York, 2008, p. 24.

15
”much more could, of course, be said on all these fronts, and various historical issues are only barely broached”. MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 9.

16
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 389.

17
MIES VAN DER ROHE, Ludwig, 1923, Carta para Walter Gropius, Papers of Ludwig Mies van der Rohe, Manuscript Division, Library of Congress, Washington DC. Conforme citado em: PAPAPETROS, Spyros, Malicious houses: animation, animism, animosity in German architecture and film – from Mies to Murnau. Grey room, n. 20, Summer 2005, p. 23.

18
”is the secular version of the cathedral Mies always wanted to build but never did, the place for contemplating art and issues of the human spirit”. MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 399.

19
MERTINS, Detlef. Op. cit., p. 543.

sobre a autora

Luciana Fornari Colombo é professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul, RS. Possui Doutorado em Arquitetura pela Universidade de Melbourne (2012) e Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007).

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Mies

Mies

Detlef Mertins

2014

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