“Para qualquer ambiente construído, os espaços são a melodia e a luz sua orquestração. Para que o design da iluminação se desenvolva, sua mensagem tem que ressoar na arquitetura”
Howard M. Brandston, Aprender a ver, p. 105
Livro publicado originalmente pela Illuminating Engineering Society of North America (IESNA) em 2008 e traduzido para a língua portuguesa em publicação de 2010, é destinado a profissionais, estudantes e professores. Entretanto sua linguagem de fácil entendimento, torna-o acessível às pessoas comuns – pessoas que usam a luz diariamente. Aborda questões conceituais do design da iluminação tratando-a como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas e transformar o espaço construído.
O livro estrutura-se em quatro partes: Aprender a ver, Assumir Responsabilidades, Criatividade e Comunicação. A integração desses quatro elementos leva à arte do pensar.
A mais simples característica da iluminação e também seu maior mistério é o processo de “aprender a ver”. Na primeira parte do livro, com esse título, o autor explica o que é esse processo: “Aprender a ver significa registrar mentalmente as causas de nossas emoções ou reações em resposta à experiência da cena que estamos vendo” (p. 14). Esse processo é imprescindível para que possamos apreciar, relembrar e registrar. O contexto que se encaixa, a cultura inserida, os aspectos demográficos e a resposta humana são itens que precisam ser compreendidos no processo de ver.
Brandston aponta a grande gama de sentimentos e significados ligados à luz - na filosofia a luz é uma metáfora para o conhecimento, na ciência, um componente fundamental de trabalho, nas artes cênicas, uma ferramenta de manipular emoções, para o restante das pessoas, o principal meio pelo qual adquire-se informação. Além, da influência da luz em relação ao comportamento do usuário – acalmar, incitar, confrontar, inspirar e conduzir.
A visão é afetada pelas emoções, experiências e sentimentos. O processo de construção de um banco de memórias de ambientes bem iluminados, que possam ser utilizados em projetos a serem desenvolvidos é fundamental no aprendizado do ver. Contrariando a prática de apoiar-se apenas no uso de ferramentas de medições e normas no design de iluminação:
“Assim como não precisamos de um termômetro para saber se estamos quentes ou frios, certamente também não precisamos de um luxímetro para nos dizer o que podemos ou não podemos ver” (p. 29).
Para trabalhar com a luz primeiro tem que compreendê-la. O autor sugere equipamentos simples: uma mão, um luxímetro, uma cédula de dinheiro e um espectroscópio que, segundo ele, são suficientes para o aprendizado da iluminação. O processo de avaliar, estimar e medir é a metodologia indicada até que a iluminação torne absolutamente familiar.
O projeto de iluminação requer espírito criativo sem apegos a regras e equipamentos, com a habilidade e experiência para sensibilizar. A importância dos olhos e mente abertos para avaliar toda e qualquer experiência visual. É interessante questionar o que se vê:
“Que tipo de luz é essa? Qual é a sua fonte, localização, distribuição, direção, intensidade? Como ela faz as pessoas olharem à sua volta? Como ela age sobre os materiais e as cores?” (p. 46).
Na segunda parte, “Assumindo responsabilidades” Brandston atribui ao designer de iluminação a responsabilidade do projeto. O designer é o responsável por prover a criatividade e fornecer soluções únicas. O êxito dependerá de quão criativa suas soluções são.
Brandston exemplifica mencionando um momento que sentiu grande responsabilidade: década de 80, quando lhe confiaram o projeto de iluminação da Estátua da Liberdade, em seu centésimo aniversário. No capítulo Iluminando a Dama, explica o processo de projeto que sua equipe adotou detalhadamente. O designer reconhece que esse projeto demandou mais que uma cuidadosa aplicação de suas habilidades profissionais, tratava-se de um projeto especial, símbolo para todo o mundo. E ele o responsável por aquele trabalho, não apenas perante o Comitê Franco-Americano e os arquitetos responsáveis pelo restauro, mas também sentiu uma enorme responsabilidade perante a própria obra, seus 250 milhões de habitantes dos EUA e todos mais no mundo afora que a admiram pela liberdade que representa.
O designer precisa ter preparo para assumir a responsabilidade. Para que isso se torne possível tem que estar aberto para pensar e debater assuntos não apenas ligados à sua profissão, mas também filosofia, poesia, ficção.... Quanto mais conhecimento a respeito do universo e da vida, melhor exercerá sua arte.
Na terceira parte “Tornando-se criativo” aponta a criatividade como a maior contribuição que alguém tem a oferecer. A criatividade muitas vezes significa a ruptura com o convencional. Então, o designer não pode estar apegado, deve ser livre.
Quando caminhamos apenas pelas regras, não é necessário assumir responsabilidade. Entretanto quando o designer opta pela criatividade, escolhe a parte mais difícil: a originalidade e não a conformidade. Será conhecido pelo diferenciado. Suportar essas responsabilidades, rende recompensas.
Na primeira parte do processo de projeto de iluminação o designer precisa evocar uma imagem do que ele deseja ver, limpando completamente sua mente de qualquer ideia que possa comprometer sua solução criativa e singular. É comum que reminiscências da memória prejudiquem o raciocínio criativo, e isso não pode ser permitido.
A iluminação deve servir às pessoas e valorizar o espaço, então assim como as pessoas não são todas iguais, não existe uma solução única capaz de solucionar todos os problemas de iluminação. Daí a importância do processo de design colaborativo, definido no início de cada projeto juntamente com o cliente, indicando exemplos de lugares que gostam, juntamente com a equipe definindo ideias e uma linguagem comum, mostrando exemplos aplicados até que o cliente comece a ter uma compreensão sobre os níveis de iluminação que melhor atendam suas expectativas. O autor defende que “o processo do design da iluminação será único para o indivíduo que dele se servirá, e produzirá um resultado único” (p. 56).
O espaço de projeto é definido como o volume na qual o usuário existe naquele momento. A forma como o usuário percebe o espaço pode ser trabalhada com a luz. A luz é o elemento que pode unificar e diferenciar espaços, criar focos e desenvolver uma hierarquia e movimento. É essencial entender qual o sentido que o designer quer passar desse espaço. Para isso o autor sugere um questionamento sobre esse espaço: O que é o espaço? Qual o significado mais amplo do seu uso? Qual o tipo de estabelecimento abriga esse ambiente, público ou privado? ... E assim segue classificando. Essas respostas revelam características próprias, que deverão ser solucionados de diferentes formas.
Na última parte “Comunicação” esclarece a importância da comunicação do projeto. É essencial que as pessoas envolvidas compreendam o projeto. O designer deve saber comunicar ao cliente o que ele receberá no final, para isso sugere diversos meios: expressão verbal e oral, desenhos, protótipos, maquetes físicas e eletrônicas. Mais de um método são necessários para esse diálogo. Para Brandston os três métodos mais eficazes para essa comunicação são: falar, escrever e desenhar!
Desenhar é colocar as ideias no papel, possibilitando as outras pessoas entenderem. Até mesmo um croqui deve ser considerado uma arte. O designer precisa vender suas ideias tanto para si mesmo como para os clientes em potencial.
Enfim, finaliza o livro com os últimos conselhos e “empurrões” para o designer. Ressalta novamente a importância do aprender a ver, de livrar-se de paradigmas e visões pré-definidas que bloqueiam a criatividade, reitera ser mais importante a percepção do que os cálculos e normas e afirma que a maior recompensa do aprendizado do ver é a autoconfiança.
sobre os autores
Jéssica Fonseca Matos é arquiteta. Mestranda em Iluminação, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp).
Paulo Sergio Scarazzato é arquiteto. Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Professor junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUSP) e à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp).