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reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

português
Motivado pelo filme Aquarius, revisita-se o trabalho predecessor de Kleber Mendonça Filho a fim de compreender seu olhar social às relações de posse através da arquitetura e do urbanismo.

english
Encouraged by Aquarius, this article revisits Kleber Mendonça Filho’s predecessor work aiming to comprehend its social sight to ownership relations through architecture and urbanism.

español
Motivado por Aquarius, se vuelve a visitar el trabajo predecesor de Kleber Mendonça Filho con el propósito de comprender su mirada social a las relaciones de posición por medio de la arquitectura y del urbanismo.

how to quote

PEIXOTO, João Paulo Campos. O som ao redor e a nova roupagem do coronelismo brasileiro. Resenhas Online, São Paulo, ano 16, n. 181.03, Vitruvius, jan. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/16.181/6380>.


A cidade conversa através de seus ruídos, que denunciam suas dinâmicas e ambientam as suas histórias. São estes os mesmos que dão o tom e o nome à obra de Kleber Mendonça Filho que estrou em 4 de janeiro de 2013 – O som ao redor (1). Cabe ao som conceber o ar intrigante da trama, ao passo que rodeia à rotina característica das personagens: seja através do latido incansável de um cachorro que perturba a vida, pelo barulho e helicópteros ou até o próprio silêncio de uma rua que é cada vez mais vazia de gente. O filme é ambientado na rua Setúbal, no bairro de mesmo nome no Recife, mas simbolizando um cenário urbano maior, provável interpretação de um cenário brasileiro da contemporaneidade.

A rotina denuncia o enfoque social do filme. A casa enquanto cenário inicia uma diferenciação primária dos perfis de cada personagem: há quem viva em casa e em apartamento, em maior ou menor requinte, quem aparece mais em áreas de serviço ou sociais. A relação de cada uma das personagens centrais com os seus respectivos funcionários domésticos também elucida suas personalidades – seja na presença de uniforme, no tratamento, ou mesmo na ausência dessa figura. Essa elucidação, porém, não se restringe ao funcionário em si, relações marcantes para a identidade das personagens partem do ambiente de serviço: do rapaz simpático que é “amigo” da funcionária e toma café da manhã com a filha dela à mesa, até a mãe de família que se “entretém” com a máquina de lavar quando está sozinha em casa.

A medida que a trama caminha, o roteiro começa a nos apresentar as relações entre cada um destes agentes que o compõe. As principais relações entre eles são familiares, mas os círculos se demonstram num ambiente de interesses – João que é personagem central, tem seu pai apresentado à trama porque busca por informações, seu primo porque acredita que ele furtou o som de sua namorada e o avô porque é seu empregado; e Bia, outra personagem central, é atacada pela irmã por ter comprado uma televisão maior que a dela.

Posterior à essa primeira abordagem, a discussão se expande a fim de construir seu enfoque maior. Em paralelo, o filme desenvolve seu cenário em questões pertinentes às discussões do urbanismo, também agravadas pela sociedade de interesses: a (in)segurança na cidade, a transformação da dinâmica urbana, a memória sendo engolida pelos grandes empreendimentos, as relações conflitantes entre público e privado, o agravante comercial na moradia. Por desconhecer Recife, a percepção se volta estritamente ao que é retratado no filme, sendo estes problemas que provavelmente marcam a vida na cidade e que, nem de longe, são particularidades de lá.

Francisco em frente à sede do seu engenho, fotograma do filme O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho
Foto divulgação

Pode-se julgar que a figura mais importante da trama é mais próxima do antagonismo: Francisco é misterioso, sabe-se que é dono da maioria dos imóveis na região e, por isso, tem maior influência. Apesar do mistério principiante, é este quem esclarece toda a dinâmica e o propósito do filme. A pista é clara: a posse de um engenho conta ao telespectador a relação deste e suas propriedades residenciais com um coronel e suas terras, podendo ser compreendida até em uma leitura menos atenciosa. A personagem funciona quase como um elo entre gerações exploradoras de temporalidades diferentes, mas essencialmente análogas.

Pode-se colocar, enfim, O som ao redor como um retrato de denúncia da nova roupagem do coronelismo não só no Recife, apesar de este ser o cenário, mas na dinâmica urbana e social brasileira como um todo: a política brasileira é historicamente galgada nesses preceitos, o que recai sobre todos as esferas da sociedade. A realidade é que, apesar da passagem de tempo, o Brasil ainda é arcaico. O recente embate de interesses entre Geddel Vieira Lima – Ministro-chefe da Secretaria de Governo – e o Iphan no caso do edifício La Vue é um exemplo claro. As terras apenas foram substituídas pelos imóveis, as cercas pelos muros, os capangas por seguranças... A única coisa que se mantem é o capital: seja no passado ou no presente, quem dita as regras ainda é quem tem mais. Quase quatro anos depois o filme ainda se faz atual e deixa a amarga sensação de que esse status permanecerá.

notas

NE – resenha de outro autor sobre mesmo filme: SENS, Caio. Um intruso no condomínio. Apontamentos acerca de O som ao redor, de Kléber Mendonça Filho. Resenhas Online, São Paulo, ano 14, n. 166.02, Vitruvius, out. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/14.166/5767>.

1
O som ao redor, roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho; produção de Emilie Lesclaux. Brasil, CinemaScópio, 131’, 2012. Com Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, W.J. Solha, Irma Brown, Yuri Holanda, Lula Terra, Albert Tenorio, Nivaldo Nascimento, Clebia Sousa e Sebastião Formiga.

sobre o autor

João Paulo Campos Peixoto é aluno de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Uberlândia e atual conselheiro titular no Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Cultural de Uberlândia – Comphac.

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181.03 filme
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181

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