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português
Este artigo discute as principais ideias do livro “A arquitetura da felicidade” de Alain de Botton. O conteúdo do livro apresenta como os ambientes, estruturas arquitetônicas e o design de móveis influenciam as pessoas.

english
This article discusses the main ideas from the book "The architecture of happiness" by Alain de Botton. The content of the book presents how environments, architectural structures, and furnitures design influence people.

español
Este artículo discute las principales ideas del libro "La arquitectura de la felicidad" de Alain de Botton. El contenido del libro presenta cómo los ambientes, estructuras arquitectónicas y el diseño de muebles influyen las personas.

how to quote

MUCCIOLO, Daniel Costa Vianna. Diálogo arquitetura e psicologia. Resenhas Online, São Paulo, ano 16, n. 191.03, Vitruvius, nov. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/16.191/6783>.


O livro A arquitetura da felicidade, escrito por Alain de Botton, conecta diversos temas da psicologia. Conhecedor mais profundo do campo da filosofia, o autor articula a arquitetura com temas fundamentais da psicologia, como a subjetividade, a percepção e a empatia. Sendo assim, trata-se de uma literatura de grande valia para os arquitetos compreenderem o que desejam comunicar aos que tiverem contato com a sua obra. Para o autor, os prédios “falam”, pois através de seu design eles nos fazem olhar para o futuro, retomam a importância do passado, estimulam a compartilhar ou a se recolher; em suma, eles convidam a um determinado estilo de vida. Como muitas vezes os psicólogos se questionam como podem deixar seus consultórios mais acolhedores, a leitura do livro pode ser igualmente importante, mas não só por este motivo, pois uma obra pode adicionar muitos outros pontos de vista aos ambientes.

No primeiro capítulo, “A importância da arquitetura”, o autor tenta pensar a real influência da arquitetura no ser humano. De fato, agimos diferentes em cada ambiente, pois o formato do cômodo, a cor da parede, os materiais dos móveis, o nível de iluminação ou entrada de ar alteram bastante o humor do usuário. Entretanto, são muitas as pessoas que viveram em ambientes prenhes do considerado belo e harmonioso, mas tiveram vidas infelizes, como são numerosos os ditadores que usufruíam em seus palácios de jardins floridos e de arte de alto padrão estético sem que isso barrasse a insensibilidade diante da natureza e da humanidade. Supõe-se, assim, que a arquitetura pode conter valores morais, mas que estes só podem se oferecer como convite, incapazes que são de alterar por si só o espírito humano.

Segundo o livro, outro fato que o arquiteto deve saber é que ao produzir um lugar agradável para se habitar tem que se preocupar com seu arruinamento, pois o apego exagerado a uma perfeição impede se viver de forma saudável. Isso nos conduz à ideia central do segundo capítulo, “Em que estilo vamos construir?”, quando se tematiza o estilo que poderia contemplar a alma humana nos mais diversos aspectos. O autor faz um interessante percurso histórico da arquitetura para poder compreender questões atuais. Se hoje temos um grande debate teórico para tentar delimitar o que é belo – e isso acaba sendo respondido de forma mais individualizada –, no período anterior o padrão clássico, com colunas decoradas e padrões simétricos, era a resposta imediata para a questão. Por sua vez, essa incorporação de estilos diversos nas edificações superou o exclusivismo da antiguidade, quando não havia diversidade cultural e a produção estava limitada ao que estava disponível.

Com a emergência do utilitarismo da engenharia no pensamento arquitetônico, o belo estilístico passa a ser funcionalmente desnecessário. Na contracorrente, as questões que entram em cena no terceiro capítulo, as “Construções que falam”, afirmam que os prédios não podem ser apenas funcionais, que eles devem transmitir algo para além do que servem, que podem ser mais ou menos acolhedores dependendo das variáveis que o compõe – uma simples maçaneta pode conter diversas alusões simbólicas. Em suma, os prédios convocam determinados sentimentos.

Alain de Botton trata com profundidade a questão da complexidade dos objetos abstratos e aqui pode se traçar paralelos interessantes com a psicologia. O autor fala de obras que, por mais abstratas que sejam, tocam em temas importantes e transmitem bem mais do que aparentam. O conceito psicanalítico de projeção – quando o indivíduo transfere aspectos de sua subjetividade para o mundo exterior – permite que os objetos arquitetônicos sejam compreendidos a partir de mecanismo equivalente. O livro também aborda o quanto atribuímos vida a objetos inanimados – uma simples fonte de texto pode nos evoca-los através de sua forma –, fala de estudos sobre fisionomias que apresentam as diversas expressões de emoção e como é sútil a diferença entre os semblantes, comenta o quanto usamos metáforas para caracterizar pessoas com qualidades materiais – uma pessoa pode ser “dura” ou “enrolada”. O autor salienta que, na hora de conceber um espaço, o arquiteto tende a se preocupar mais com fontes históricas e estilísticas do que com as questões metafóricas e os sentidos evocados.

No capítulo quatro, que se intitula “Lares ideais”, há uma tentativa de desvendar porque os arquitetos devem construir um ambiente que evoque os valores de quem o habita. Recorre-se então à psicologia, que afirma que na realidade possuímos vários “eus” dentro de nós – convicção compartilhada pela maioria dos teóricos. Então, nesse sentido, o ambiente deve nos relembrar aquilo que somos ou aspiramos ser, mas que tendemos a esquecer graças à vida corrida da sociedade atual. Assim, o “lar” é o lugar onde nos encaixamos como em nenhum outro; a função das igrejas é transmitir a paz exigida pela conexão com o sagrado, mesmo nas metrópoles mais agitadas. A questão de que

A arquitetura sempre comunica um ideal, constatação que pode ser exemplificada – como o auto faz no livro – por Brasília, cidade integralmente produzida para evocar o novo, um novo estágio da burocracia, uma expressão da inteligência criativa, algo que nos fizesse olhar para o futuro e esquecer nossa herança colonial europeia. Outro ponto atrativo deste capítulo é compensação presente nos ambientes, uma tentativa de preencher algum vazio existencial; então, a arquitetura além de comunicar o que uma pessoa gosta pode ser um indicativo do que ela necessita.

No capítulo cinco, “As virtudes das construções”, Alain de Botton volta a explorar a difícil tarefa de definir o que é o belo e como, diante dessa dificuldade, a arquitetura fica impedida de ter uma verdade universal. Ele retoma o período da Renascença, com Andrea Palladio escrevendo em 1570 Os quatro livros da arquitetura na busca de codificar as regras da boa construção, uma tarefa fadada ao fracasso dada as incalculáveis exceções que tais regras implicam. A estratégia do autor é explorar certas virtudes ou valores que são compartilhados e que valorizamos nas construções. O primeiro deles é a ordem, presente na maioria das construções, que pode ser definida como a regularidade e previsibilidade que parece ter um efeito positivo na mente humana, obrigada a conviver com a incerteza diante da natureza. Outra virtude é o equilíbrio, que os arquitetos são mestres em trabalhar via dicotomias entre velho e novo, luxo e simplicidade, dentre outras. Talvez isso nos toque pela própria natureza psíquica de sermos entes divididos, fato tão explorado pela psicanálise ao explicitar a divisão entre consciente e inconsciente. Outra característica que encanta, a elegância, presente em alguns prédios que magicamente transmitem uma fusão do simples e do rebuscado, sem ter tido tanto trabalho para realizá-lo. A coerência é outro desses valores, presente em alguns prédios, que contribuem de maneira mais pertinente do que outros para compor seus arredores. E o último é o autoconhecimento, qualidade que alguns prédios podem evocar ao conseguir captar a real necessidade e valores que precisamos.

E por fim, no último capítulo “A promessa do campo”, o autor sucintamente discute a facilidade da expansão de ideias no campo da arquitetura, pois bastam algumas construções e livros para iniciar uma nova vertente. E também ressalta algumas das virtudes que os arquitetos precisam dominar para se destacar no seu tempo, como, por exemplo, saber mediar a questão artística com a praticidade, quando precisam – além de bons desenhos – ter a habilidade para mobilizar o necessário para viabilizar sua obra.

Cabe ressaltar que o livro apresenta muitas fotografias e ilustrações, ampliando a riqueza da discussão. Uma sugestão de leitura para quem gostaria de se aprofundar no tema é o capítulo “A torre” do livro Memórias, sonhos e reflexões, de Carl Gustav Jung, autor criador da psicologia analítica; nesse texto autobiográfico Jung fala sobre o simbolismo da casa que construiu em Bollingen às margens do lago de Zurique. Assim, o livro de Alain de Botton tem um enfoque instigante, com diversos desdobramentos teóricos e práticos, e espero que esse artigo suscite o interesse do leitor.

sobre o autor

Daniel Costa Vianna Mucciolo é psicólogo, formado pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professor no curso de psicologia na Universidade do Contestado.

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resenha do livro

A arquitetura da felicidade

A arquitetura da felicidade

Alain de Botton

2007

191.03 livro
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