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português
Silvia Palazzi Zakia comenta as relações entre Oppenheimer, o filme e a morte prematura do professor Jean-Louis Cohen.

english
Silvia Palazzi Zakia comments on the relationships between Oppenheimer, the film and the premature death of Professor Jean-Louis Cohen.

español
Silvia Palazzi Zakia comenta las relaciones entre Oppenheimer, la película y la muerte prematura del profesor Jean-Louis Cohen.

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ZAKIA, Silvia Palazzi. Jean-Louis Cohen e o filme Oppenheimer. Resenhas Online, São Paulo, ano 22, n. 260.01, Vitruvius, ago. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/22.260/8867>.


Começo pelo fim: sou péssima com agulha e linha em mãos, espeto sempre o dedo. No entanto, por vício ou talvez seja minha marca, estou, vira e mexe ou quase sempre, a tecer, ligar, criar conexões entre fatos, pessoas, projetos, obras. Não farei diferente hoje. Oppenheimer, o filme e a morte prematura do professor Jean-Louis Cohen.

Há muito não assistia a um filme tão interessante como este. Pouco sabia sobre o físico Oppenheimer, tinha alguma informação sobre o Projeto Manhattan, sobre Los Alamos, e sobre a miríade de cientistas reunidos num único objetivo. Nada além de superficial conhecimento.

Para além das questões óbvias que o filme suscita, o temor pela bestialidade humana em relação às armas atômicas ou o foco na trama das relações humanas — vaidade, cobiça, inveja, ciúme etc. — relembrada por intermédio dos diversos personagens shakespearianos que habitam a todos em diversos contextos de vida, fiquei instigada a conhecer o papel dos arquitetos nessa empreita da bomba. Uma cidade a construir em tempo recorde, com especificidades únicas. Que esforço conjunto de ideias e ações para colocar tudo em andamento!

Porém, a fala que instigou meu lado arquiteta foi a pergunta da esposa de Oppenheimer ao inspecionar seu novo lar temporário: e a cozinha? Onde está?

Ué, fiquei pensando, como esqueceram da cozinha? Seria uma concessão ficcional? Ou era de fato um erro real? De qualquer maneira, mil perguntas vieram à mente.

Como seria essa cidade temporária? Como seriam as casas? E quais outras edificações existiam? Quais seriam os programas de uso?

Um trabalho imenso de arquitetura gestado em mistério, sob sigilo, sob controle, no meio do nada. Complexidade de ideação e de realização. Combinação inevitável: pré-fabricação e modulação. E os materiais? Transporte?

Seria construção para a destruição? Não sei julgar. Sabemos construir coisas. Que bom!

E é aí que Cohen é lembrado duas vezes por mim. Quão lamentável foi seu falecimento. Um grande historiador que deixou legado e inspiração para todos que se dedicam à história da arquitetura. Fui buscar respostas com ele: Architecture en uniforme, projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale (1).

Jean-Louis Cohen
Foto Mandanarch [Wikimedia Commons]

Tive a felicidade de ouvi-lo numa preleção sobre essa obra, em curto e riquíssimo período de meu estágio com Monique Eleb (2) em Paris, em 2011. Na livraria Le Moniteur da Place de l’Odéon, que infelizmente não existe mais, pude encontrá-lo pessoalmente. Para minha surpresa, havia uma coincidência de localidades, disse-me que tinha uma grande amiga das minhas bandas campineiras. Referia-se à notável professora Cristina Meneguello, da Unicamp, que levava nossa Campinas à Paris. Fiquei contente.

Architecture en uniforme é uma obra excepcional pelo ineditismo do tema e por sua abordagem panorâmica e densa. Trata-se, de fato, de uma vasta e profunda pesquisa desenvolvida no Centro Canadense de Arquitetura — CCA, que rendeu inclusive uma exposição, em 2011, no próprio Canadá e, posteriormente, na Holanda. Uma análise inédita sobre a arquitetura no período da Segunda Guerra Mundial; sobre o pós-guerra, os estudos relativos à atuação de arquitetos nos diversos projetos de reconstrução e à própria arquitetura realizada são abundantes. Como deixa evidente Cohen, “loin d’être un vide obscur dans l’histoire de l’architecture du 20 siècle, la guerre est bien un processus complexe de transformation, engageant toutes les composantes de l’architeture, mobilisé dans sa totalité. Son interprétation implique la mise au jour d’un dense réseau d’épisodes parfois sans autre relation aparente que leur proximité temporelle” (3).

Tecendo minha linha com o filme, fui buscar nessa obra de Cohen mais detalhes sobre Los Alamos.

Em síntese, o Projeto Manhattan envolveu 125 mil pessoas, de operários ao Prêmio Nobel de Física, passando por uma legião de mulheres trabalhando em fábricas e muitos jovens físicos recrutados em todas as universidades do país e de fora. Três sítios compunham o projeto: o Sítio X, seu primeiro nome de código, na realidade, Oak Ridge, no estado Tennessee; o sítio W, Hanford, estado de Washington, e o sítio Y, Los Alamos, no Novo México, onde boa parte do filme se passa. O livro apresenta um bom material sobre Oak Ridge, cidade concebida para três mil habitantes, em 1942, que no inverno de 1945 já comportava cem mil pessoas. Era o local da usina de produção de urânio. Sobre o sítio Y, Los Alamos, Novo México, conhecido pelo endereço P.O.Box 1663 à Santa Fé, dirigido por Oppenheimer e no qual habitavam cinco mil pessoas, as informações são mais breves.

No entanto, Cohen cita várias publicações da época que abordaram a questão, entre elas faço menção à edição The Architectural Record (4), que apresentou o artigo “Birthplace of the Atomic Bomb”, que deve conter informações bem interessantes a pesquisar.

Enfim, o tema é tão instigante e merece ser aprofundado. Infelizmente, nada descobri sobre a cozinha, nem sobre os projetos da pequena cidade provisória em Los Alamos, nem sobre suas edificações. Temos sempre o que aprender e conhecer.

Finalizo pelo que deveria ser o começo, minha modesta homenagem ao professor Jean-Louis Cohen, que faleceu dia 7 de agosto entre os aniversários de 78 anos dos lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima (6 de agosto de 1945) e em Nagasaki (9 de agosto de 1945).

Saí do cinema, exatamente dia 9 de agosto de 2023 com tantas questões borbulhando e das quais faço duas indicações: assistir ao filme Oppenheimer, e, sobretudo, ler com acuidade a obra de Cohen, que é uma viva inspiração para todos que se dedicam à história da arquitetura.

Em sua aula magna proferida em 21 de maio de 2014, em Collège de France, Cohen disse: “Telle que je la conçois, l’histoire de l’architeture appelle une navigation constante entre ces deux visions: celle des ensembles urbains que cadrent les panoramiques rend compte des politiques sociales ou techniques, et celle des édifices et de leurs intérieurs, vus en gros plan, rend compte des idéaux ou de l’engagement de leurs auteurs et de leurs habitants” (5).

A história da arquitetura, como bem nos disse o caro professor, é uma incessante conjugação desses dois olhares: o panorâmico e amplo e o particular do detalhe.

notas

1
COHEN, Jean-Louis. Architecture en uniforme: projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale. Paris, Éditions Hazan, 2011.

2
Só depois de terminado esse pequeno artigo descobri que a professora Monique Eleb também já não está entre nós, desde maio. Que triste descoberta! Ela era uma gigante, como diria meu amigo Maique.

3
COHEN, Jean-Louis. Architecture en uniforme: projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale (op. cit.), p. 18.

4
Birthplace of the Atomic Bomb. The Architectural Record, n. 3, Nova York, sept. 1945.

5
COHEN, Jean-Louis. Architecture, modernité, modernisation. Paris, Collège de France, Fayard, 2017, p. 86.

sobre a autora

Silvia Palazzi Zakia é arquiteta (PUC Campinas), com pós doutorado pela FAU USP.

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