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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
A autora Rosa Kliass nos conta sobre sua visita recente à São Roque, cidade onde viveu nas décadas de 30 / 40 do século passado e que a faz viver um intenso relembrar. Ainda que descaracterizada, a cidade vale uma visita

english
The author Rosa Kliass tells us about her recent visit to São Roque, city where she lived in the 30's and 40's of the last century and that makes her relive intense memories. The city is worth a visit

español
La autora Rosa Kliass nos cuenta sobre su visita reciente a San Roque, ciudad donde vivió en los años 30 y 40 del siglo pasado y que le hace revivir un intenso recuerdo. La ciudad vale una visita


how to quote

KLIASS, Rosa Grena. Meu São Roque. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 013.04, Vitruvius, mar. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.013/1404>.


Na manhã do dia do aniversário da cidade de São Paulo, sexta feira dia 25 de janeiro, teve início aquela que poderá vir a ser a mais significativa das minhas viagens: a que poderá recriar para mim as imagens de um São Roque que é o Meu São Roque. Em exatamente uma hora, desloquei-me corporalmente do Itaim Bibi ao Hotel Cordialle, na pequena cidade do interior de São Paulo. Porém, usando outra medida de espaço/tempo, efetivamente, fui transportada como em um passe de mágica, ao Meu São Roque dos anos 30 e 40 do século passado. No quilômetro 62 da Rodovia Raposo Tavares, logo depois do núcleo de Mailasky e do Alto da Serra, penetra-se na área urbanizada da cidade a partir do bairro do Taboão. Daí em diante foi um sucessivo e intenso relembrar: lugares, pessoas, eventos...

As primeiras impressões são ligadas aos aspectos urbanísticos e arquitetônicos. Sua origem bandeirista e a função de posto de troca dos tropeiros que vindos do Sul, demandavam o planalto de São Paulo. Por outro lado, o sítio em que se implantou é encaixado entre pequenas elevações nos vales dos rios Acaraí e Carambeí, situação que a manteve isolada das influências do desenvolvimento da capital, apesar dos poucos 62 km que as separam.

Nem mesmo a chegada da ferrovia, a Estrada de Ferro Sorocabana, ainda em fins do século XIX, chegou a perturbar a sua condição urbana. A estação se instalou majestosamente, a cavaleiro do núcleo urbano, aos pés do Morro do Cruzeiro, mantendo-se como objeto símbolo de deslocamento.O acesso à estação preparava o viajante para o percurso que o levaria à capital.

O Barão de Piratininga

A cidade teve um papel importante no quadro da Província e, mais tarde, do Estado de São Paulo. O cidadão sanroquense Antonio Joaquim da Rosa, o Barão de Piratininga, foi figura importante do Império, como político e como intelectual. Chegou a exercer o cargo de Vice Presidente da Província e como escritor teve vários livros publicados, entre os quais A Cruz de Cedro, editado em 1854. Em seu testamento deixou expresso o desejo que em seu túmulo, em uma simples lápide cercada por uma grade, deveria ser inscrita tão somente a palavra Ninguém.

Graças a sua influência, São Roque recebeu vários benefícios. O Grupo Escolar Dr. Bernardino de Campos, inaugurado em 1893, foi o primeiro a ser construído pelo programa estadual de implantação de escolas públicas no Estado de São Paulo. Como um dos cinco acionistas da Companhia Sorocabana, depois Estrada de Ferro Sorocabana, o Barão garantiu a passagem por São Roque da via férrea de 104 km entre São Paulo e Sorocaba. Em 10 de julho de1875 foi inaugurada a Estação de São Roque com a chegada do primeiro trem de passageiros. Outro fato que confirma o status de São Roque como uma cidade em progresso foi a instalação da Santa Casa de Misericórdia ainda na década de 1880.

Os italianos

Em fins do século XIX, São Roque foi escolhida pelo italiano Enrico Dellacqua como local para a instalação, em 1890, de uma das primeiras indústrias têxteis do Estado. Esta indústria originou, em 1919, a Brasital S.A. Diz-se que a escolha do local foi devida à semelhança das feições paisagísticas com as da sua região de origem.

A vinda desta empresa explica a forte presença da colonização italiana na cidade, tanto a população urbana, de artesãos e comerciantes quanto os agricultores, responsáveis pelo desenvolvimento das atividades vinícolas que, por muito tempo, representou um importante papel na economia local.

A descaracterização

No entanto, se a cidade foi privilegiada com essas condições que lhe teria garantido as suas feições características, os meus correligionários não atentaram para os aspectos da sua imagem urbana, e o Meu São Roque foi bastante descaracterizado.

A Igreja Matriz foi o primeiro alvo da “modernização”. A segunda Igreja Matriz de linhas barrocas, de 1875, que havia sido construída no local da antiga capela edificada por Pedro Vaz de Barros, fundador do núcleo, depois vila, foi substituída pela Igreja Matriz atual, cuja construção foi concluída em 1941. A segunda Igreja Matriz de linhas barrocas, de 1838.

O casarão do Barão de Piratininga e os conjuntos arquitetônicos da Praça da Matriz, da Rua XV de Novembro e da Rua Ruy Barbosa foram substituídos por construções inexpressivas. Uma única residência de taipa, milagrosamente resistiu: aquela da família de Dona Afra, ainda ocupada pela sua filha, a professora Zilá de Moura.

Felizmente a igreja de São Benedito foi poupada e hoje é o único exemplar de arquitetura significativa de sua época. Restaurada, marca a sua presença no largo que abrigou em outros tempos o Mercado Municipal. A estação, pela sua situação muito especial, foi poupada e é hoje um patrimônio que conta um bom pedaço da história da cidade.

Os dois Mários

No entanto, a atuação visionária de dois Mários, em duas épocas diferentes, pôde afortunadamente garantir a São Roque a preservação de dois dos mais significativos marcos de sua história: o Sítio de Santo Antônio graças a Mário de Andrade e a Brasital à atuação de Mário Luis de Oliveira quando de sua gestão como Prefeito.

O Sítio de Santo Antonio

Do centro da cidade, por uma estrada bucólica de aproximadamente 8 km, temos acesso ao Sítio de Santo Antônio. A casa grande e a capela, esta erigida em 1681 por Fernão Paes de Barros, foram alvo de um dos mais bem sucedidos projetos de restauração de bens do patrimônio arquitetônico seiscentista do Estado.

Descoberto pelos intelectuais paulistas Mário de Andrade e Paulo Duarte, em 1937, o Sítio de Santo Antonio encontrava-se em estado de total desfiguração. Profundamente impressionado pelo conjunto arquitetônico e cônscio de seu valor histórico, Mário de Andrade perseguiu a forma de garantir a sua preservação até que em 1944 adquiriu-a e a doou ao IPHAN. O restauro das edificações foi feito com projeto do arquiteto Luis Saia. Vale assinalar a preocupação com a requalificação de todo o entorno: a criação do lago e a implantação de uma extensa mancha de recomposição de mata nativa que hoje promove o pano de fundo para o conjunto de Casa e Capela.

Um pormenor que se não citado poderia passar desapercebido: a locação dos sanitários dissimulados visualmente por uns matacões naturais.

Mantido com carinho pela cidade, falta somente a este Sítio a sua apropriação para atividades culturais que conseqüentemente promoveriam maior freqüência de usuários da cidade e de turistas.

A Brasital

A fábrica de tecidos, implantada pelo milanês Enrico Dell’Acqua em 1890, foi uma das primeiras indústrias têxteis do país. Em 1919, a sua razão social passou a ser Brasital S.A.

A escolha do sítio para a instalação da indústria se deveu a existência de queda d’água, que garantiria o fornecimento de energia para o funcionamento da indústria.

O projeto dos diversos pavilhões e do importante salão dos teares e a primorosa execução com materiais e artefatos importados da Inglaterra (as estruturas metálicas), da França (os vidros coloridos) e principalmente o bom uso e a manutenção de todo o conjunto permitiu a realização de uma verdadeira façanha em matéria de preservação e requalificação de um conjunto arquitetônico que testemunha o início da industrialização no país.

O engenheiro Mário Luis de Oliveira, quando Prefeito da cidade propôs dotar a cidade de um equipamento de forte impacto cultural, social e conseqüentemente turístico, fazendo uso desse fantástico cenário. A ressaltar, a instalação do Museu Darcy Penteado, artista plástico de importância nacional que doou o seu acervo para a sua cidade natal.

A Brasital é sem dúvida nenhuma um equipamento urbano da maior relevância, que reforça a identidade da sua população e enriquece a paisagem e a cultura da cidade. Assim é que, realmente, São Roque vale uma visita.

sobre o autor

Rosa Grena Kliass é arquiteta paisagista. Entre suas mais importantes obras estão a Reurbanização do Vale do Anhangabaú e o Parque da Juventude, em São Paulo; o Parque do Abaeté e o Parque de Esculturas do MAM-Bahia, em Salvador; o Parque Mangal das Garças e o Projeto Feliz Luzitânia, em Belém; e o Parque do Forte – Complexo Fortaleza de São José, em Macapá.

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