Quando viajamos a lugares já conhecidos e que tiveram grande significado em nossa vida, nosso olhar nos conduz como os extremos do zoom de uma câmera fotográfica, desde amplas paisagens a detalhes pitorescos, e se este lugar for o México, tanto a cabeça como as miradas ficam revueltas. Outras belas visões da capital mexicana podem ser apreciadas em artigos já editados pelo Arquiteturismo: México: cosmovisões e cosmopolitismo, de Saide Kahtouni, e Andando pela calzada de los muertos, de Gabriela Celani.
Os quase 30 anos que separaram as visitas à Cidade do México – poucos para uma cidade, quase uma vida para o viajante – inspiraram recortes visuais fragmentados de uma metrópole já muito verticalizada, sem prédios neoclássicos, com congestionamentos monstruosos, ainda cheia de táxis fusquinhas, cujos bares estão se assemelhando aos nossos, com excelente padrão hoteleiro, em meio a um caudaloso mar de camelôs, onde chama a atenção a conservação primorosa dos museus e como os mexicanos zelam por sua história.
Mirando e admirando
Para quem sai de São Paulo, e gosta dela, o ruim pouco surpreende no mundo das metrópoles, o olhar busca o bom, o diferente, o inusitado.
Desejamos imediatamente transferir para nossa cidade, como se fosse simples (e não houvesse cultura, política e práticas urbanas associadas) tudo de novo e bom que apreendemos.
Ao olharmos novamente para uma paisagem urbana conhecida, parece que tudo se encaixou melhor e que as muitas mudanças ocorridas, acompanharam as do mundo em geral, incluindo as suas.
A familiaridade é readquirida, o som do idioma ajuda e abre uma nova visão da paisagem, aí sim com novos focos, onde detalhes surgem surpreendentemente ricos.
Com câmera silenciosa e discreta, acabamos nos fixando, quase obsessivamente, em detalhes da conservação e manutenção de museus, na estética da organização dos alimentos, como contraponto às visões amplas e generosas da paisagem da cidade, extremamente plana.
A principal atividade do México é comer! É quase impossível pegar leve na alimentação, com tantas coisas para degustar. A variação dos horários nos impede de saber se a refeição, que está sendo animadamente apreciada, é o almoço de quem acordou cedo ou um tardio café da manhã de negócios, mas os restaurantes estão sempre cheios.
O fenômeno se estende aos terminais de transporte coletivo e estações de metrô onde há milhares de barracas com comidas, sempre preparadas com esmero, decoração e cultura próprias, apesar da proximidade americana. Quem será que inventou os ovos fritos matinais os americanos ou os mexicanos?
Temos também uma mania de comparar, apesar de desejarmos que todos os lugares sejam únicos e não lugares quaisquer. Nas grandes cidades certas características dos nossos tempos, se espalham rapidamente e num bairro como a “Colonia Condessa” percebemos transformações muito semelhantes às ocorridas na Vila Madalena, em São Paulo, e nos “Palermos” de Buenos Aires.
Eram bairros antigos, bem localizados, com construções baixas e ruas tranqüilas, que de repente se transformam em centros de gastronomia e entretenimento, tanto para os locais como para os turistas, que sentem mais integrados.
Aí novas marcas urbanas se destacam na paisagem, as ruas se transformam em estacionamentos, os moradores perdem sua tranqüilidade, um bar nasce a cada dia (provavelmente um também fecha), os serviços de manobristas ocupam as calçadas, o trânsito para, mas todos parecem felizes.
Cada metrópole tem que ter seu grande parque urbano, na Cidade do México é o Chapultepec, e de todos no mundo é talvez o mais admirado, por ser o que é, numa cidade do terceiro mundo. Para começar é lindo; depois, é gigantesco; sua localização tornou-se primorosa na malha urbana; seus museus são maravilhosos; e é extremamente popular.
A primeira porção do Chapultec, mais próximo da área central da cidade, parece o Ibirapuera, mas ele continua e é um parque urbano imenso, onde também ocorrem as manias do poder público de entulhar novas atividades.
Das recentes intervenções destacam-se a recuperação do Castelo de Chapultepec, onde só a vista já é uma viagem e o Museu Rufino Tamayo, encaixado em entre os museus de Arte Moderna e Nacional de Antropologia.
sobre o autor
Michel Gorski, arquiteto, editor do website Arquiteturismo, escreve a coluna "Turista na sua cidade" na revista Host.