A Universidade de Évora é uma das edificações mais visitadas por turistas de todo o mundo que chegam à cidade.
O colégio do Espírito Santo é o núcleo central da Universidade de Évora e se apresenta ainda hoje no mesmo formato em que foi pensado e executado entre os séculos XVI e XVIII.
Seu prédio principal foi edificado entre 1550 e 1554 mas somente em 1559 iniciou-se de fato a rotina de aulas. Faz parte de um conjunto de edificações executadas sob a influência e benefício do Cardeal D. Henrique.
Não houve adaptação, pois foi construído para o fim atual. Faz parte deste conjunto o vizinho colégio de Nossa Senhora da Purificação (seminário) e a igreja do Espírito Santo, o que vinha formar um verdadeiro conjunto jesuítico, dedicado ao ensino, à oração e à formação cultural e religiosa.
O terreno foi adquirido pelo Rei D. Manuel I em 1520 para nele se fazerem estudos, o que indiretamente fazia crescer a cidade do lado oriental. Em sua planta se afirma a arquitetura austera e funcional que imperava em Portugal nessa época: “o estilo chão”.
Contudo percebemos sem muita dificuldade uma singular inspiração renascentista italiana, tanto na concepção dos espaços, como nas arcadas, de célebre simplicidade clássica.
Não se tem com exatidão o autor do projeto. Embora haja referência de que a planta veio de Roma, trazida pelo Padre Mestre Simão Rodrigues de Azevedo, parece não haver dúvidas que existiu a intervenção dos arquitetos Afonso Álvares, Manuel Pires, Jerônimo de Torres e Silvestre Jorge, que na época serviam ao cardeal D. Henrique.
O séc. XVII deixou sua marca, com a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição, pequena e brilhante arquitetura de grande significado histórico.
Soma-se ainda o grande enriquecimento ornamental, manifestado na nova fachada barroca da sala dos atos, no octógono e no fantástico efeito decorativo das salas gerais, onde se juntam as cátedras de madeira vinda do Brasil e os azulejos, de temas variados, que formam o maior conjunto profano encontrado em Portugal.
Usando a entrada do antigo jardim dos estudantes nos deparamos com uma fachada de dois pisos, de grande austeridade, marcada pelo pórtico de mármore do séc. XVIII, encimado pela pomba, símbolo do Espírito Santo e atualmente usado pela Universidade, fazendo ligação entre a tradição e a modernidade.
O claustro apresenta ainda revestimento azulejar azul e branco, do séc. XVIII, destacando os porteiros acadêmicos, que ladeiam as portas da sala dos atos. É uma bela manifestação artística barroca do pintor PMP, da oficina de Lisboa entre os anos de 1709-1715.
A sala dos atos é um dos espaços de maior imponência de todo o edifício. A sua decoração é composta de azulejos e estuques do séc. XVII, “de influência Italiana”, numa bela harmonia de tons onde se sobressaem, cores verdes, azuis e rosas. No topo da sala estão presentes os retratos à óleo de D. Sebastião e do cardeal-rei D. Henrique.
Os temas, ligados às disciplinas ensinadas em cada sala de aula, ou simplesmente decorativos, referem-se, entre tantos: a episódios extraídos da vida dos filósofos gregos e da literatura latina, quadros alusivos à matemática, à astronomia, à física, às belas artes, às quatro partes do mundo, às estações e aos meses do ano, cenas bíblicas ou simplesmente cenas de pescas e paisagens.
O refeitório de planta retangular possui boa iluminação natural e grandes dimensões, é constituído por duas naves, de nove tramos, divididos por arcos de volta perfeita, que apóiam as robustas colunas de mármore, que a tradição diz serem provenientes do demolido arco do triunfo romano da Praça do Giraldo.
As paredes do refeitório são, também, revestidas até um terço de azulejos verdes e brancos. Destacando-se ainda a tribuna de leitura de grande elegância e simetria arquitetônica.
Na saída da oficina de Nicolau Chanterenne, datada de 1530, está o Portal da Reitoria, uma magnífica peça escultórica renascentista.
Uma das salas mais interessantes é a atual Sala do Senado, antiga livraria e posteriormente sala das disputas dos teólogos, é decorada com pintura mural do tempo da Rainha Dona Maria II, de explícita influência neoclássica. Observamos medalhões ovais e circulares com retratos de autores clássicos, como Virgílio, Horácio e Camões, e quatro com temáticas eborenses ligados ao classicismo, como o templo romano ou Diana, janela da casa de Garcia Rezende nas portas do Moura, Aqueduto da água da prata e fonte das portas do Moura.
No cruzamento de dois desses corredores, mais exatamente no da atual biblioteca e da entrada principal junto ao seminário, existe o maior testemunho da presença barroca, o octógono. Aqui se juntam a escultura, o azulejo, a pintura, sob uma cúpula com lanternim, num jogo luminoso de cheios e vazios. Apresenta-nos os quatro elementos: ar, água, terra e fogo. O efeito visual é completado por quatro telas, representando os doutores da igreja.
A capela é uma pequena delícia arquitetônica, edificada em 1641 (um ano após a restauração) para exprimir de forma material o entusiasmo da Universidade por essa causa.
É talvez a primeira deste relevante período histórico. De estrutura simples, nave única e estreita, e um pequeno presbitério retangular, com abóbada recoberta com medalhões de estuque, reúne contribuições decorativas dos séculos XVII e XVIII.
Do lado oposto do octógono encontra-se a biblioteca, larga sala composta de um teto pintado em 1708, tendo como elemento central a figura de Nossa Senhora, mãe da sabedoria.
A representação das alegorias deste espaço, bem como outros elementos, pode ter sido feita por algum artista local, devido à ingenuidade e erudição.
De Marcello Leopardi, artista italiano que trabalhou no sul de Portugal nos finais do séc. XVIII, se encontra, entre as escadarias do térreo e o primeiro piso, uma bela tela representando São José e o Menino.
Do período joanino encontramos registros de azulejos das campanhas das obras. Nos corredores encontram-se algumas pinturas seiscentistas e setecentistas de temas religiosos, bem como retratos de alguns bispos, provenientes de edifícios conventuais da região.
É um edifício que realmente vale a pena visitar e perceber os inúmeros detalhes. Não há guias especializados, mas qualquer funcionário pode ajudar na indicação dos seus interesses. Se a visita for feita no verão, ótimo, mas se for no inverno coloque um pouco mais de agasalho, pois faz mais frio dentro do prédio do que do lado de fora. Boa visita, e boas imagens fotográficas.
sobre o autor
Junancy Wanderley, arquiteto (FAUPE), artista plástico e fotógrafo, pós-graduado em Gestão e Controle Ambiental, pela Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco. Autor da Lei dos ruídos de Pernambuco. Produtor Cultural, foi gerente da divisão de planejamento e obras da Diretoria de Preservação Cultural e gerente do Espaço Cultural Torre Malakoff, ambos em Pernambuco