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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
Neste artigo, Claúdia dos Reis e Cunha traz um relato sobre Roma sob a ótica do morador temporário, encontrando na cidade, fora dos percursos turísticos, os lugares onde os romanos moram, trabalham, fazem suas compras, bebem e se divertem

english
In this article, Claudia dos Reis e Cunha talks about Rome from the perspective of the contemporary inhabitant. She tells us how she finds, away from the touristic routes, places where the Romans live, work, shop, drink and have fun

español
En este artículo, Claúdia dos Reis e Cunha hace un relato sobre Roma bajo la óptica del habitante contemporáneo, encontrando en la ciudad, fuera de los recorridos turísticos, los lugares donde los romanos habitan, trabajan, hacen compras y se divierten


how to quote

CUNHA, Claudia dos Reis e. Tempos e lugares de Roma. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 020.04, Vitruvius, out. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.020/1467>.


Quando uma doutoranda brasileira chega à capital da Itália para um estágio na área de restauração logo se imagina um artigo sobre ruínas romanas ou grandes edifícios renascentistas e barrocos. Poderia ser, mas este não é o caso.

Após algumas semanas de peregrinação pelos famosos monumentos romanos, em meio à horda de turistas alemães, espanhóis, ingleses, japoneses, etc, surgiu uma vontade imensa de “abandonar a vida de turista” e tentar conhecer a “cidade de verdade”, aquela onde os romanos moram, trabalham, fazem suas compras e, claro (que ninguém é de ferro), comem, bebem e se divertem.

Claudia dos Reis e Cunha visitando área arqueológica de Ostia Antica
Foto Fernanda Câmara

Este relato é, portanto, um passeio por uma Roma que extrapola os limites dos mapas turísticos, na busca por ver e viver mais de perto essa que é a maior e mais populosa cidade italiana. Uma cidade que acumula em seu território tantos tempos e tantas histórias. Não um palimpsesto no qual as camadas de tempo se superpõem, mas uma justaposição de temporalidades que a transformam num espaço complexo e denso, que não se apreende de relance, mas reclama um olhar mais detido.

Equipamento fundamental para essas andanças é um bom guia de ruas A-Z, ainda que ele não possa absolutamente oferecer garantias de que o andarilho não irá se perder aqui em Roma. Perder-se talvez seja a atividade mais freqüente de qualquer visitante nesta cidade, o que, diga-se de passagem, não se constitui num problema.

Anfiteatro, Roma
Foto Claudia dos Reis e Cunha

Passando das visitas tradicionais, que incluem o Coliseu, os fóruns Romano e Imperial, o Vaticano e seus museus, o Campidoglio, o Panteão, a Fontana de Trevi e a Piazza Navona, uma caminhada pelas margens do Tevere e um fim de tarde em um dos bares ou restaurantes do Trastevere são fundamentais. De fato, o Trastevere (literalmente: “do outro lado do Tibre”), bairro boêmio freqüentado por romanos e turistas, é conhecido como o mais romano dos quartieri da cidade. Aos domingos pela manhã um animado mercado – o Porta Portese – traz uma pequena multidão às suas ruas estreitas. Misto de mercado de pulgas e feira de oportunidades, aqui se encontra de tudo um pouco: de sapatos e casacos à cafeteiras italianas, de cortinas e edredons à cd’s e aparelhos eletrônicos.

Um bom passeio para depois das compras no Porta Portese é pegar o micro-ônibus circular que leva até o Gianicolo, um parque público no alto de uma colina a partir da qual se tem uma vista privilegiada da cidade.

Chafariz, Roma
Foto Claudia dos Reis e Cunha

Dali se pode ver um esplêndido panorama de Roma: da cúpula de San Pietro ao Castelo Sant’Angelo, do Panteão ao Quirinale, do Monumento a Vittorio Emanuele às ruínas da Roma antiga, do Coliseu à Basílica de San Giovanni in Laterano. É no Gianicolo também que fica o Horto Botânico de Roma, hoje sob responsabilidade do Departamento de Biologia da Sapienza.

Do mesmo lado do rio, indo na direção norte, fica o Prati, um bairro de ocupação recente para os padrões romanos (século XIX). A maior parte das construções deste quartiere são do início do século XX, os típicos palazzi italianos de 6 pavimentos com habitação nos andares superiores e térreo comercial.

Uma das principais ruas comerciais de Roma – a via Cola di Rienzo – fica aqui, nela se encontra de lojas de departamento a barraquinhas de sapatos, roupas, livros ou dvd’s.

Igreja de Gesù, Roma
Foto Claudia dos Reis e Cunha

Uma vez em Roma, não se deve deixar de provar uma pizza a taglio, escolhe-se o sabor e o tamanho e paga-se pelo peso. Comida boa e barata, acessível até para uma bolsista brasileira. Imperdíveis também são as sorveterias, ainda não encontrei nenhuma que deixasse a desejar.

Ainda no Prati, na viale Mazzini, fica a igreja de Cristo Rei, projeto do arquiteto Marcello Piacentini dos anos 1924-34. Seu exterior singelo esconde um interior sóbrio de grande beleza, a luz filtrada que entra através da cúpula central e de pequenas janelas laterais valorizam os materiais construtivos e os detalhes ornamentais, como os lustres, as pinturas murais e o mobiliário. Essa pequena igreja é com certeza um motivo mais que suficiente para uma visita ao Prati.

Museu Ara Pacis, Roma. Arquiteto Richard Meyer
Foto Claudia dos Reis e Cunha

Indo além dos muros da cidade, um bom começo é o EUR, um bairro ao sul de Roma construído para sediar em 1942 a Exposição Universal de Roma (daí o nome deste quartiere). Esta exposição deveria comemorar os vinte anos da marcha fascista sobre Roma e, embora o evento nunca tenha se realizado devido à eclosão da Segunda Guerra, legou à cidade uma área com edifícios monumentais, avenidas largas e grandes espaços arborizados, com equipamentos esportivos e de recreação abundantes, além de blocos habitacionais e torres comerciais, que foram sendo acrescidos com o tempo.

A linha B do metrô é o melhor meio para se chegar no EUR, pode-se descer na estação EUR-Pallasport ou EUR-Fermi. Já nos primeiros passos na superfície nota-se a diferença entre esta Roma e aquela outra que estamos acostumados a ver nos filmes, postais e nos passeios turísticos. Diferenças de escala, de formas, de cores, ainda que seja possível identificar muitas referências às técnicas construtivas e materiais tradicionais, como o travertino, que reveste vários edifícios construídos tanto aqui como na “antiga” Roma.

Mosaico em parede externa, Roma
Foto Claudia dos Reis e Cunha

Perpendicular ao principal eixo do bairro, a via Cristoforo Colombo, fica o grande lago artificial a partir do qual se vê, num plano mais elevado, a grande cúpula nervurada do Palazzo dello Sport, projetado por Pier Luigi Nervi e Marcello Piacentini para os Jogos Olímpicos de 1960. Esta é para mim a obra mais interessante do quartiere.

Mas outros edifícios, da primeira fase de construção do bairro, também valem uma visita ao EUR: o Palazzo dei Congressi, projetado por Adalberto Libera; a igreja SS. Pietro e Paolo, de A. Foschini; o edifício dos Correios, do Studio BBPR (L. Banfi, L. Belgiojoso, E. Peressuti, E. N. Rogers). Em todas essas edificações, como também na implantação urbanística, o confronto entre modernidade e tradição clássica é sempre notado e notável, a ponto de me fazer pensar que aqui o moderno é um “moderno difícil”. Impossível não lembrar da lição deixada por Lucio Costa, que coloca o modernismo brasileiro com evolução natural de nossa arquitetura colonial. Parece realmente que para nós no Brasil o percurso foi mais “natural” e menos conflituoso do que aqui na Itália, onde o peso da herança clássica está em todos os monumentos modernos.

Embora não se encontre por aqui a beleza de conjuntos como a Pampulha ou Brasília, o patrimônio moderno romano é numeroso e significativo. Os conjuntos habitacionais construídos no pós-guerra pela INA-Casa (órgão federal de planificação e construção de habitação popular) e diversos Palazzi delle Poste são edificações de grande interesse que se espalham pelo nordeste e sudeste da cidade, em áreas antes periféricas e que hoje em dia estão integradas à malha urbana.

Conjuntos como o Tuscolano e Valco San Paolo, sedes dos correios como as da via Marmorata, no bairro Aventino (uma das sete colinas históricas da cidade), o da Via Taranto ou o da Piazza Bologna, projetados nos anos 1930 a 1950 por arquitetos e urbanistas como Ludovico Quaroni, Mario Ridolfi, Adalberto Libera, Saverio Muratori, Mario De Renzi, Giuseppe Samonà, dentre outros, são visita obrigatória para quem estuda preservação do patrimônio. São edificações que permanecem vivas na dinâmica da cidade, cuja preservação é facilitada pela manutenção do uso original, sem a necessidade de musealização.

Palatino, Roma
Foto Claudia dos Reis e Cunha

De fato, nesses poucos meses de vivência aqui em Roma, a preservação deste patrimônio recente tem me ensinado talvez mais do que o Coliseu ou o Panteão, vítimas de um turismo predatório e da degradação ambiental decorrente do tráfego intenso nas áreas centrais. Ambos os casos, porém, demonstram de maneira flagrante os grandes desafios que a preservação patrimonial nos impõe, seja num país de tradição preservacionista secular como a Itália, seja para nós brasileiros, que ainda temos muito caminho a percorrer.

sobre o autor

Claudia dos Reis e Cunha – arquiteta e urbanista, doutoranda pela FAU-USP, atualmente cumpre estágio de doutorado-sanduíche na Scuola di Specializzazione in Beni Architettonici e del Paesaggio per lo studio ed il restauto dei monumenti da “Sapienza” Università di Roma, com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq

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