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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O autor apresenta inúmeros vocábulos que podem sintetizar uma experiência e um lugar, apresentando um quadro que combina pluralidade de expressões e fenômenos arquitetônicos com dinâmica de mercado , do imobiliário ao turístico, e exclusão social


how to quote

AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Viagens pelo Nordeste do Brasil: uma crônica em vocábulos. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 069.03, Vitruvius, fev. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/377>.

Todo viajante compartilha fragmentos de suas experiências em forma de registros visuais e descrições de episódios, quase sempre revelados em encontros sociais acompanhados de enfadonhas projeções de imagens. Aqueles que preferem poupar seus queridos hoje tornam suas experiências transpacialmente públicas com o auxílio da WWW. Outros viajantes colecionam objetos como se fizessem parte de um cenário vivido, desejado eterno. Estes são envoltos em redomas apenas para o desfrute do olhar. Outros, ainda, visitam sistematicamente lembranças cuidadosamente guardadas na memória e nunca reveladas: tesouros últimos das nossas existências. Talvez tenhamos em nós um pouco de cada viajante: enfadonhos, exibidos, colecionadores e intimistas.

Arquitetos e urbanistas são colecionadores exemplares de imagens. Registros múltiplos de edifícios clássicos, detalhes técnicos, obras desconhecidas, mas reveladoras, ou espaços públicos vivos são recolhidos de forma frenética e minuciosa. Irão compor o estoque de imagens e experiências regularmente revisitadas, sempre que problemas novos forem apresentados para resolução. Muitos profissionais ainda se apóiam em registros gráficos, fruto de traços nervosos, mas precisos, sobre todo tipo de suporte que lhe venha às mãos, desde que naquele momento se preste para consagrar uma imagem... e uma idéia. A grande maioria, no entanto, repousa o olhar em lentes, seleciona o enquadramento e estabelece o contrato: este é meu copirraite.

Arquitetos e urbanistas também são taxonomistas por excelência. Taxonomias são consideradas reduções desnecessárias da vida por enquadrar fatos e coisas em quadros aparentemente inertes, mas é através destes enquadramentos que padrões, de outra forma invisíveis, são revelados para nossa consciência. Padrões são demonstrações de ocorrências sistemáticas de fenômenos. No caso da arquitetura, eles se expressam nas formas como organizamos o ambiente construído, como estabelecemos relações entre suas partes, como aplicamos recorrentemente soluções técnicas e procedimentos compositivos. É através da leitura destes padrões que reconhecemos o que nos é comum e aquilo que nos é estranho.

Em viagens solitárias ou acompanhadas pelo Nordeste do Brasil, o quadro que nos é oferecido combina pluralidade de expressões e fenômenos arquitetônicos com dinâmica de mercado, do imobiliário ao turístico, e exclusão social. Neste contexto complexo, a base formativa de muitos profissionais supera as contingências do mercado, o desinteresse de muitas instâncias públicas e a aparente derrocada do arquiteto como profissional de vanguarda, e nos brinda com obras responsáveis – entendidas como edificações que atendem as demandas sociais - inovadoras – entendidas como contribuições para a ciência da arquitetura - e contundentes, por demonstrar que o ambiente construído não pode ser tomado apenas como objeto de consumo, mas como o mais sofisticado artefato produzido pela magnífica mente humana. Encontram-se objetos para toda a sorte de coleções em plena e total abundância.

Para os colecionadores atentos, é possível perceber temas recorrentes. A tradição moderna ainda é forte no país que se consagrou internacionalmente por criar um moderno. Os planos ainda se mantém livres, a continuidade com a tradição luso-brasileira ainda é desejada, as transparências e continuidades espaciais ainda são promovidas, as funções organizadas setorialmente e as massas ainda são dinâmicas e equilibradas. Em convívio nem sempre amigável, emergem as obras dominadas pelo pragmatismo, quase sempre assinaladas por intenso grafismo, profusão de formas desarmônicas e envoltas em estratégias mercadológicas. Não confundir, no entanto, com aquela que é fruto da reflexão sobre os conflitos urbanos naturais de uma temporalidade marcada pela fragilidade do estado e sua ausência no ordenamento e planejamento da cidade e do território. Nesta, a fragmentação e a diversidade são temas centrais que emergem dos conflitos que permeiam a sociedade brasileira, do centro às periferias – as nobres e as nem tanto. Mas confundir, sim, com aquela que se molda à mobilidade do capital globalizado e que encontra nos empreendimentos turísticos a oportunidade para expressar temas cenográficos e nos complexos empresariais a reprodução de imagens consagradas internacionalmente.

Alguns territórios são os palcos de exposição destas temáticas, muitas fruto de investigações e projetos físicos e de gestão. Os assentamentos precários que vêm ocupando os vazios urbanos e expandindo sem controle os limites urbanos periféricos tem sido objeto intenso de reflexão sobre a cidade, da mesma forma que os centros urbanos e seus sítios históricos. Enquanto planejadores, arquitetos e urbanistas focam seus olhares na dinâmica centro versus periferia, o mercado imobiliário atua com grande força nos interstícios urbanos. Na fuga das cidades cada vez mais densas, os grandes empreendimentos turísticos deixam seu rastro visível, como João e Maria no conto dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, em forma de atividades lindeiras ao percurso que levam e trazem cidadãos em movimentos pendulares ditados pelos ritmos semanais e anuais. Um estímulo para a contínua transformação da paisagem, particularmente a natural que se deseja atingir, mas quase sempre é enquadrada no universo onírico das casas em tempo de veraneio.

Um jogo de palavras, uma coleção de imagens.

Vocábulos também podem compor coleções das mais fascinantes. Destarte a precisão de sua etimologia, múltiplos significados a eles podem ser agregados pelo seu empréstimo sistemático e contínuo a múltiplas bocas, ditames de outros usos e sabores. Esta inquietante liberdade do uso das palavras sempre impeliu os que brincam como elas para construir jogos mentais de igual estímulo. Para os colecionadores de palavras, o que pode ser estimulante, mais do que as acepções que elas assumem, é como, depois de reunidas em contextos específicos, podem, ao mesmo tempo, nos remeter às suas origens e possibilitar a criação de imagens múltiplas.

Como arquiteto, urbanista, colecionador e taxônomo, meu fascínio reside em coletar e depois repartir os objetos sonoros, representados por vocábulos, recolhidos em viagem, que melhor sintetizem uma experiência e um lugar. Aqui, a busca por uma arquitetura contemporânea estimulante. Mais do que em imagens, sempre recolhidas porque compõem um outro acervo, em uma coleção de vocábulos encontram-se os horizontes mutantes do Brasil. Vivos em si e ativos nos sentidos assumidos quando agregados a outros, os vocábulos recolhidos podem ser mais preciosos do que uma iconografia, particularmente para o arquiteto que terá dificuldades em classificá-los e consagrá-los. O manuseio das palavras será o exercício de quem desenha constantemente cenários e histórias recentes.

Ao manusear esta coleção, é recomendado o livre uso dos vocábulos, inclusive em distintos contextos - as palavras já são públicas. Que as bocas as pronunciem e que as mentes construam cenários vivos e estimulantes. De todos recolhidos, alguns estão guardados para uma degustação solitária e egoísta; outros jamais serão proferidos nem visitados, mas estarão sempre guardados comigo.

Uma boa viagem e voltem sempre.

Os verbos

Demolir | Restaurar | Segregar | Arruar | Participar | Pertencer | Incluir | Bronzear | Degustar | Migrar | Movimentar | Alumbrar | Refletir.

Os vocábulos

Arquitetura

  1. de terra: Diz-se daquela baseada no uso de materiais construtivos derivados da terra, seja crua ou processada. Foi consagrada em tempos modernos em trabalhos com os de Hassan Fatti, no Egito, festejada internacionalmente em exposição organizada pelo Centro Georges-Pompidou, de Paris, na década de 1980, e promovida pelos ideólogos da green architecture. O interesse nestas técnicas construtivas milenares tem sido renovado com a expansão do conceito de sustentabilidade e sua introdução no âmbito da arquitetura e do urbanismo. Tem sido utilizada regionalmente em equipamentos turísticos como forma de evidenciar distinções entre culturas e identidades locais. Nestes casos, o deslocamento de técnicas e expressões plásticas do contexto vernáculo para empreendimentos de incompatibilidade programática pode comprometer o seu sentido (ver arquitetura pitoresca). No entanto, investigações renovadoras podem ser encontradas (2) ;
  2. pitoresca, ou neopitoresca, ou pós-pitoresca, ou o trópico é aqui: Ligada ao fenômeno da globalização e do turismo internacional de massas. Utilização de um vernáculo inexistente para a construção de cenário utópico de paraíso tropical estéril e irreal. Também conhecida como ‘Disney é aqui’;
  3. de interiores: Consolidou-se como uma especialização profissional com mercado próprio que movimenta diversos setores da economia. Fortemente vinculada à indústria de objetos e revestimentos é, portanto, mais permeável à lógica do mercado e bastante volátil. O vocabulário corrente no meio é contaminado por expressões típicas do mundo da moda, como tendência e customizar (sic). Firma-se, no entanto, produção eficiente e de qualidade, ordenadora do espaço interior, e que explora a integração de objetos artísticos e utilitários de diversos tempos e culturas (3) ;
  4. de mercado: diz-se daquela concebida para a indústria imobiliária. Em tempos atuais é quase sempre sinônimo de produção para consumo, sem interesse especulativo e com muito interesse especulativo. Também utilizado como sinônimo de produção de baixa qualidade (Ex.: foi projetado para o mercado).

Centralidade

Terminologia utilizada pela nova geração de planejadores urbanos para descrever espaços que oferecem uma dinâmica que os tornam destinações coletivas. Utilizada em particular em planos de regeneração de áreas degradadas ou na ocupação de vazios urbanos. Neste caso, diz-se ‘criar novas centralidades urbanas’.

Controle urbano

Obrigação das administrações municipais para evitar desvios e descumprimentos das leis urbanas. Em tempos de neoliberalismo, o estado pequeno e fraco ‘deixa a vida nos levar’ (do samba de Zeca Pagodinho). A sua ausência ou ineficácia do poder público em aplicá-lo tem permitido a emergência de interessantes fenômenos urbanos, como as transformações de conjuntos habitacionais de periferia e outros nem tanto, como a privatização do espaço público do centro à periferia, independentemente de classe social e escolaridade.

Cultura

  1. Palavra chave no discurso arquitetônico contemporâneo utilizado em dois contextos distintos:
    1. Para estabelecer uma relação entre arquitetura e aspectos identitários do lugar, mesmo que ele seja inventado, nem sempre identificados nas obras por um olhar mais criterioso;
    2. Para se relacionar ao conhecimento das teorias e práticas arquitetônicas e, assim, ressaltar o domínio do campo profissional do arquiteto. Em todo o caso, a palavra de ordem é multiculturalismo como identidade regional;
  2. Centros, espaços, pólos culturais: Edifícios que abrigam atividades relacionadas à promoção, divulgação e produção de atividades culturais. Também utilizado indiscriminadamente para denominar edificações que abriguem toda e qualquer manifestação dita cultural. Na última década foram instituídos vários centros desta natureza para possibilitar a introdução de cidades no circuito internacional de cultura, com destaque para a construção de museus e galerias, para o restauro e modernização de instalações de teatros, e a dinamização de institutos estatais de cultura. Vale ressaltar a emergência de centros de cultura nas periferias das grandes cidades como fenômeno típico de solidariedade e identidade de grupos urbanos, tendo como objeto de interesse as raízes culturais nacionais, particularmente as de origem africana. (4)

Degradação ambiental

A ocupação desordenada das periferias das cidades de grande e médio porte acarreta impactos ambientais ainda não totalmente avaliados. O risco de contaminação e comprometimento dos mananciais de água potável e das reservas florestais é alarmante. Clama-se por maior controle urbano e por projetos de impacto no âmbito da habitação e da infra-estrutura urbana.

Desenho urbano

Para alguns autores, campo disciplinar dedicado ao estudo do espaço público urbano. Atua entre a escala do planejamento urbano e da escala edilícia. Os exemplos mais significativos podem ser encontrados em projetos de requalificação de assentamentos precários, de centros urbanos e de zonas de praia. Jovens arquitetos envolvidos em projetos públicos de requalificação de favelas vêm transferindo as composições fragmentadas típicas destes espaços para a arquitetura erudita. (5)

ENCOL

Empresa do ramo imobiliário de grande sucesso nos anos 90, com atuação em várias regiões do país. Seu sucesso se deu, entre outras coisas, pela introdução de sistema construtivo racional para promover um barateamento na produção de imóveis e, com isso, viabilizar sistema de financiamento direto ao comprador, na ausência de programas estatais de acesso à moradia. Proporcionou uma maior concorrência entre empresas do ramo, exigindo que construtoras regionais consagradas pela qualidade do produto arquitetônico se rendessem às novas leis do mercado. A quebra da empresa demonstrou seus limites, mas mudou para sempre o mercado imobiliário. Pode ser associada ao fenômeno das fitas e fitas (ver).

Ensino Superior

  1. Nos anos 90, o governo federal implementou diretrizes nacionais para o estímulo à abertura de novas instituições de ensino superior, com o objetivo de ampliar a oferta de vagas e, conseqüentemente transformar o perfil profissional do país. Vários cursos de arquitetura e urbanismo foram criados em instituições de ensino já existentes e novas foram criadas, causando um aumento vertiginoso de profissionais no mercado de trabalho. A concentração destes profissionais nos grandes centros urbanos vem gerando profundas modificações no mercado de trabalho;
  2. A expectativa criada na emergência de uma geração de edifícios educacionais de excelência não se concretizou.

Experimentação

  1. Vocábulo bastante utilizado e praticado por arquitetos modernos, mas levado ao desuso pelas práticas contemporâneas submissas às leis de mercado;
  2. Vocábulo corrente entre jovens arquitetos envolvidos na aplicação das chamadas novas geometrias (topologia e fractal) e das novas tecnologias aplicadas à arquitetura, essencialmente aquelas dependentes dos sistemas CAD-CAM (computer added design – computer added manufacturing). Também encontrada entre arquitetos que seguem a tradição moderna brasileira de conciliar tradição (agora moderna, também) e ruptura.

Fitas

fitas e fitas... | fitas e fitas... |fitas e fitas... | roxas, | verdes, | brancas, | azuis...: De A Cavalhada, do poeta pernambucano Ascenso Ferreira, que descreve a cavalhada, festa religiosa e folguedo popular reminiscente dos torneios medievais de representação das batalhas entre cristãos e mouros. Como folguedo popular, destaca-se o jogo da argolinha. Este consiste em testar a habilidade de o cavaleiro retirar com uma lança uma argolinha de metal presa em trave. As fitas referem-se aos adornos e adereços. Na arquitetura contemporânea, especuladores imobiliários revestem seus imóveis com fitas (ou faixas) coloridas para simular reentrâncias e saliências em volumes regulares ou para sobrepor composições decorativas sobre a estrutura física dos edifícios. Este grafismo é encontrado em toda a região, particularmente nas áreas de maior atividade imobiliária. Também conhecido por ‘Síndrome Fernando Peixoto’ (arquiteto baiano que se consagrou internacionalmente pelo uso de grafismos em fachadas).

Fragmento

Diz-se daquilo que é parte de um todo. Observa-se a emergência de uma arquitetura de fragmentos recompostos em contextos distintos dos originados, sob a inspiração da ambiência dinâmica e instável dos assentamentos precários, ou da combinação de elementos arquitetônicos e princípios compositivos de distintas temporalidades e práticas sociais e culturais. (6)

Home theatre - suíte master - home office – loft – espaço gourmet

Estrangeirismos usados em campanhas promocionais de edifícios de apartamentos para descrever antigos usos, mas com novos sabores. O uso destas expressões em empreendimentos é indicativo da clientela pretendida.

Judiciário

  1. Um dos três poderes da república;
  2. Patrocinador de grandes concursos públicos de projeto para obras de referência arquitetônica e de forte impacto na paisagem urbana nas cidades nordestinas nas últimas duas décadas. (7)

Kit

Do inglês, significa um conjunto de elementos para um mesmo fim. Foi popularizado na atividade comercial e usado indiscriminadamente para descrever um conjunto de objetos adquiridos, cedidos ou conquistados.

Modernismo

  1. renitente: A excelente produção modernista dos anos 1930 aos 1970 ainda se mantém viva através das produções dos arquitetos mais eloqüentes da região (8);
  2. vivo: Jovens arquitetos investigam a experiência modernista e procuram dar continuidade à investigação por uma arquitetura de continuidade (9);
  3. em extinção: obras exemplares do modernismo brasileiro, em particular aquelas situadas em grandes centros urbanos e de propriedade privada (mas as públicas não estão salvaguardadas). A preciosa coleção de residências modernas tem sido copiosamente dizimada para dar lugar a empreendimentos imobiliários que, invariavelmente, estão aquém daquelas substituídas. (10)

Movimento mangue - afro-reggae - axé music - oxente music - brega

Movimentos culturais que emergiram nas últimas décadas, quase sempre capitaneados pela música e, alguns, com forte aceitação popular. Fenômenos culturais que envolvem a constituição de grupos urbanos identificados por vestuário, gestos e comportamento. Todos calcados no princípio da (re) interpretação e fusão de ritmos populares (maracatu, samba de roda, frevo, xote, baião, etc.). Algumas tentativas de contaminação da arquitetura por temas ou símbolos foram elaboradas, mas nenhum ideólogo parece ter sobrevivido ao primeiro debate público. No entanto, percebe-se a preocupação latente de desenvolver uma arquitetura fundamentada em princípios interpretativos de manifestações étnicas.

Muro - guarita - cerca elétrica - vidro blindado

Kit de sobrevivência para um pós-urbanita. Também pode ser entendido como componentes da arquitetura urbana recente. Vem, quase sempre, integrado ao kit fitas e fitas (ver).

Mix

Anglicismo introduzido recentemente na arquitetura conotando adequada mistura de atividades para evitar o zoneamento funcional e garantir a sustentabilidade de empreendimentos comerciais e empresariais. Princípio bastante explorado em projetos de requalificação urbana.

Paisagem

Ecossistemas únicos vêm sendo destruídos pela ocupação descontrolada do litoral por empreendimentos turísticos, loteamentos inadequados e atividades econômicas incompatíveis com o meio. Por outro lado, projetos de conservação vêm obtendo sucesso na manutenção de alguns paraísos. (11)

Participação

Diz-se das práticas de planejamento que tomam por base a interação direta da sociedade civil nas decisões, através de reuniões públicas. Praticada em administrações democráticas principalmente na atuação em áreas de interesse social. As urbanizações de assentamentos precários tem sido fruto de ações participativas.

Patrimônio

Diz-se do que é material ou imaterial que, por fator histórico, artístico e arqueológico, seja representativo de um tempo ou cultura. Apesar dos avanços nos processos legais de salvaguarda de bens de interesse de tombamento e do conhecimento científico do comportamento dos materiais e das formas de conservá-los e restaurá-los, paradoxalmente, obras de restauro de espaços públicos e de edificações vêm, sistematicamente, descaracterizando bens de valor inestimável. Por outro lado, obras exemplares foram executadas e outras estão em curso. O patrimônio imaterial é a próxima fronteira.

Periferia

Refere-se aquilo que está à margem de algo. No cenário urbano contemporâneo, é na sua periferia onde estão concentrados seus maiores conflitos sociais e maiores desafios. Paradoxalmente, o esvaziamento das zonas centrais, tanto populacional, quanto de atividades e de investimentos financeiros, vem propiciando a introdução de típicas práticas de ocupação territorial periférica nas áreas já urbanizadas. Neste sentido, caminha-se para um urbanismo de periferia, aquele praticado ao sabor do acaso, da precariedade e do improviso. Para alguns, um caminho possível para além dos fundamentos positivistas do planejamento. Para outros, problemas a serem superados com a participação, ou com operações urbanas. (periurbano)

Pilotis - elemento vazado - azulejo - telha canal - esquadria em madeira

Repertório moderno regional em extinção. Procuram-se os exemplares sobreviventes para devida catalogação e preservação. Os modernistas renitentes perseguem o seu uso e procuram ampliar o repertório espacial e funcional construído com a ruptura com tradição clássica. Campanha para a criminalização da destruição generalizada dos melhores exemplares modernos teima em não conseguir grandes adeptos.

Praça de alimentação

Terminologia usada em shopping centers para caracterizar ambiente onde são concentrados restaurantes, lanchonetes, cafés, etc. Espaço de interação entre habitantes de classe média e média alta nas cidades de médio e grande porte. Diz-se ser mais segura e abrigar uma população mais homogênea. Diz-se, também, ser indiferente ao lugar e sua dimensão cultural, mas pode-se comer acarajé, tapioca e sorvete de açaí, mesmo que o preço seja proibitivo. É sempre acompanhada por uma versão popular anônima, a céu aberto, para uso dos seus funcionários, cuja renda os impossibilita de freqüentar as praças (as de alimentação). As praças (as urbanas), continuam sendo do povo (‘como o céu é do condor’, do poeta Castro Alves).

Pólo

Idéia fundamentada na relação entre atração e irradiação de benefícios. Originada dos planos de desenvolvimento regional, vem sendo aplicada, nas últimas décadas, no planejamento urbano, em particular na recuperação de zonas degradadas. Adjetivado, configura a localidade ou a atividade dominante que o constitui.

Restauração – requalificação – revitalização – reabilitação - reutilização

Vocábulos que denotam o recobramento de algo perdido seja no tempo, no espaço, seja funcionalmente ou simbolicamente. Os termos, à primeira vista, parecem significar a mesma coisa ou algo muito semelhante e são, muitas vezes, utilizadas indiferentemente para denotar uma mesma ação, mas há diferenças significativas entre eles. Têm sido utilizados no planejamento e projeto de espaços públicos e privados degradados e de valorização do patrimônio histórico, artístico e cultural. Ultimamente estão relacionados ao chamado city marketing, ou planejamento estratégico de valorização, divulgação e preservação da imagem da cidade com o interesse de captar investimentos de capital. Destacam-se os projetos em zonas portuárias e nos núcleos centrais de cidades históricas com fins turísticos. (12)

Resort

Paraíso do lazer encontrado em destinações turísticas nacionais e internacionais. Soluções típicas são aquelas que procuram na mimese com a arquitetura vernácula uma identidade própria. Raros são aqueles que têm sucesso. Pode ser associado aos tipos shopping center - condomínio - empresarial (ver) no conjunto de não lugares. Sim, a Indonésia pode ser aqui. (13)

Revestimento cerâmico

  1. essencial para garantir conforto térmico e estanqueidade em construções em regiões quentes e úmidas.
  2. também usado por corretores imobiliários para garantir a qualidade do imóvel à venda. Ex.: O imóvel é todo na cerâmica.
  3. encontra-se em desuso em empreendimentos imobiliários de luxo e em edifícios públicos, sendo substituído por placas graníticas ou marmóreas.

Sem-terra e sem-teto

Movimentos sociais que lutam pelo acesso a terra e à moradia. Acampamentos e ocupações de edificações em centros urbanos revelam a permanência de técnicas construtivas seculares, como a taipa de pau-a-pique, e sua adaptação ao uso de novos materiais, como lonas plásticas e garrafas PET.

Shopping center - condomínio - empresarial

Tipos edilícios e urbanos em tempos de ‘pós-modernidade globalizada pós-industrial de começo de século’, ou simplesmente formas de maximização da presença de iguais para produção de serviços e consumo. Tem como conseqüência a ignorância social de lidar com diferenças e o inesperado. Usado em oposição à rua, praça e edificações que constituem o espaço público.

Sustentabilidade

Conceito amplamente utilizado em diversos campos do conhecimento. Sua aplicação na arquitetura é mais evidente na concepção de desenvolvimento urbano sustentável, que consiste em estratégias capazes de criar adequadas condições de desenvolvimento atual, sem colocar em risco as gerações futuras. Torna centrais as questões ecológicas e energéticas, mas também os aspectos de natureza social e cultural. Presente no debate da conservação urbana e na dita construção sustentável. Identifica-se sua aplicação no campo do planejamento urbano e no desenvolvimento de projetos para áreas de preservação ambiental rigorosa, como em Fernando de Noronha e na Serra da Capivara, com a Fundação Museu do Homem Americano. (14)

Tecnologia de baixo impacto

Refere-se às tecnologias de baixo consumo energético, de alto grau de reciclagem e de pequena interferência nas estruturas urbanas e arquitetônicas existentes. Deve ser usada em consonância com projetos sustentáveis.

Terminal de passageiros (terra, água e ar)

Lugares de movimento, por excelência, e de reconhecimentos: olhares estranhos sobre paisagens estranhas. Dos terminais rodoviários emanam os morares e fazeres profundamente ligados às coisas e aos sujeitos do lugar. Os movimentos inter-regionais se reconhecem neles. Dos terminais aeroviários emanam as transposições internacionais. Nestes, as arquiteturas se acomodam ao reconhecimento direto de todos, apesar das origens e dos destinos. (15)

Verticalizar

  1. Máxima utilizada pelo mercado imobiliário para promover maior rentabilidade do solo urbano e gerar maiores lucros nas operações imobiliárias. Tem sido utilizada em consonância com outras expressões como qualidade de vida, paisagem, ventilação, vida contemporânea e segurança. Para bons entendedores, máxima verticalização combinada com altas taxas de ocupação e coeficiente de utilização, empreendimentos unifuncionais, baixa integração com as vias públicas e ineficiente controle urbano gera baixa qualidade de vida, banalização da paisagem urbana, principalmente quando os empreendimentos não observam particularidades locais, o bloqueio da insolação e da ventilação natural e insegurança nas vias públicas;
  2. Princípio urbanístico aplicado em planos diretores cujo propósito é a maximização do acesso à rede de infra-estrutura instalada e a promoção de sua extensão para áreas carentes pela aplicação dos recursos provenientes de operações urbanas, solo criado e transferência do direito de construir. Aguardam-se exemplos significativos para referência;
  3. Quem viu uma casa brasileira, viu quase todas, frase do engenheiro francês Louis Léger Vauthier ao se referir aos sobrados recifenses que bem conheceu quando viveu no Recife no século XIX. Quem viu uma, viu quase todas, frase de um futuro visitante ilustre quando enfrentar um périplo turístico pelas nossas cidades, caso a arquitetura de mercado permanecer dominante.

Vidro temperado – material composto de alumínio (ACM) - porcelanato -

Kit de materiais de construção que garante a adequação de projetos às ‘tendências’ contemporâneas. Indicado para autores que buscam a sobrevivência, apenas.

Yes, elle parle español

Guias turísticos, garçons, taxistas, estudantes e políticos em plena comunicação com turistas nas águas quentes do mar nordestino. Do diálogo consolida-se o incremento às atividades turísticas, aos investimentos de capital internacional na compra e construção de imóveis, e às mudanças de hábitos e costumes. Atenção: o turismo sexual e o tráfico de drogas são combatidos.

agradecimentos

Carla Camila Jirão, Claudia Loureiro, Ernani Henrique, Felipe Campello, Fernando Costa, Franciza Lima Toledo, Griselda Klüppel, Gilberto Guedes, Hélio Costa Lima, José Augusto da Silveira, José Carlos Souza, Leonardo Bittencourt, Luis Moriel, Luiz Vieira, Maurício Espinoza, Mário Aloísio, Marco Antônio Gil Borsoi, Naia Alban, Nelci Tinem, Ovídio Pascoal Maestre, Ronaldo L´Amour, Rubem Wanderley, Viviane e Renato Teles, Zeca Brandão

notas

1
Este artigo é capítulo do livro Encore moderne? Architecture brésilienne 1928-2005, publicado por ocasião da exposição homônima, em Paris. Resulta da consultoria sobre a região nordeste para os organizadores exposição, Lauro Cavalcanti e Andre Correa do Lago. O autor desenvolve investigação sobre a arquitetura contemporânea no nordeste.


2

Conhecer o restaurante Camarões, em Natal, de Viviane e Renato Telles.


3

Conhecer a obra de Janete Costa, em Pernambuco.


4

Conhecer a Accademia, de Reginaldo Esteves, no Recife, a Casa do Benin na Bahia, de Lina Bo Bardi, em Salvador, e o Dragão do Mar, de Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo, em Fortaleza.


5

Conhecer o projeto do Calçadão dos Mascates e Mercado de Santa Rita, no Recife, de Zeca Brandão e Ronaldo L’Amour, e diversos projetos de requalificação de assentamentos precários nas capitais.


6

Conhecer a obra de Luis Moriel e Milton Botler, em Pernambuco, e Naia Alban, na Bahia.


7

Conhecer o Fórum do Tribunal de Justiça de Pernambuco, de Andrade&Raposo e o Tribunal Regional Federal, de J&P Arquitetos Associados, no Recife; Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, de José Carlos Souza; Tribunal de Justiça de Alagoas e Fórum de Maceió, de Mário Aloísio, em Alagoas, e os tribunais de Contas da União em Maceió, Aracajú, Salvador e Natal, de João Filgueiras Lima.


8

Conhecer a obra de arquitetos modernos em atividade como Acácio Gil Borsoi, e daqueles formados nos anos 60 como Pontual, em Pernambuco, e Ovídio Pascoal, em Alagoas.


9

Conhecer as obras de Ernani Henrique, Antônio Cláudio Massa, Gilberto Guedes e Hélio Costa Lima, na Paraíba, Naia Alban, na Bahia, do GRAU, Marco Antônio Borsoi, em Pernambuco, Leonardo Bittencourt, em Alagoas.


10

Conhecer a obra de Luiz Nunes, Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoi em Pernambuco, Assis Reis e Antunes Ribeiro, na Bahia, e Liberal de Castro, no Ceará, entre muitos outros).


11

Conhecer a Ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, a Chapada Diamantina, na Bahia, os Lençóis Maranhenses, o cânion do Rio São Francisco.


12

Conhecer os projetos de reabilitação de áreas históricas nas cidades de Salvador, como o Pelourinho, Recife, como o Porto Digital, Natal, João Pessoa e Maceió.


13

Conhecer os exemplares em Muro Alto, em Pernambuco, e Costa do Sauípe, na Bahia.


14

Conhecer o Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI e o seu programa de investigação e educação, este integrado ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE.


15

Conhecer as rodoviárias de João Pessoa, de Glauco Campello e José Luiz Pinho; e de Maceió, de Mário Aloísio, Leonardo Bittencourt e Eduardo Assumpção; os terminais integrados de Salvador, de João Filgueiras Lima; o terminal marítimo de passageiros do Recife, de Ronaldo L’Amour e Isnaldo Reis, e os aeroportos regionais, todos recentemente reformados ou ampliados.

sobre o autor

Luiz Manuel do Eirado Amorim é arquiteto pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e PhD pela University College London - UCL, é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, onde leciona no Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo e no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano – MDU, e coordena, com a professora Claudia Loureiro, o Laboratório de Estudos Avançados em Arquitetura – lA2

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