Entrevista com Carlos Fernando de Moura Delphim
Ana Rosa de Oliveira
Carlos Fernando de Moura Delphim é engenheiro-arquiteto pela UFMG. Contratado em 1977 para restaurar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1985, foi pioneiro na defesa dos jardins históricos no Brasil, passando a tratá-los como bens culturais segundo as normas internacionais de preservação.
Criador do Programa Jardins Históricos na Fundação Nacional Pró-Memória (1985-1990), é autor do primeiro manual de intervenções em jardins históricos no Brasil. Foi membro-suplente da Comissão O Homem e a Biosfera da UNESCO e Conselheiro-Titular decano no Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA como Representante do Ministério da Cultura. Emitiu pareceres sobre inclusão de paisagens na Lista de Patrimônio Mundial da Unesco, como as florestas tropicais úmidas de Queensland, Austrália, adotado como a posição oficial do Brasil. Atualmente é encarregado de elaborar parecer sobre a inscrição do Rio de Janeiro nessa lista, na qualidade de paisagem cultural.
Trabalhou como Coordenador Departamento de Proteção do IPHAN-RJ, Brasília, DF, responsável pelo patrimônio arqueológico e pelos bens culturais tombados em nível federal, sendo atualmente assessor da direção do IPHAN no Rio. É professor convidado da UNB em Brasília e da Universidade Católica de Goiânia.
Suas atividades profissionais desde 1977, compreendem projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico em diversas cidades brasileiras desde 1977. Entre seu projetos destacam-se: Restauração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Memorial da América Latina em São Paulo, Jardim Botânico de Brasília, Jardins do Brasil – The International Garden and Greenery Exposition em Osaka, Japão, e o Superior Tribunal de Justiça em Brasília.
Em abril de 2002, Carlos Delphim foi convidado pela Secretaria de Patrimônio Histórico da UFRGS – que desenvolve um trabalho de preservação e restauração de seu relevante acervo arquitetônico em diferentes campi da Universidade – para vistoriar e emitir um parecer sobre o entorno do Prédio Central da Faculdade de Agronomia em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Este prédio, de 1909, é obra do Engenheiro Manuel Asumpção Itaqui. Trata-se de uma singular configuração para a época; uma resposta a um programa inovador de ensino de ciências agropecuárias no sul do país. A preocupação da SPH com a preservação deste edifício integrado ao seu entorno levou-a a solicitar a colaboração de Carlos Delphim.
O parecer por ele elaborado diz que, observados os diferentes aspectos naturais e culturais que integram a paisagem circundante do prédio da Faculdade de Agronomia, “mais que um simples entorno de uma edificação, constatou-se uma paisagem de qualidades próprias, independentemente do elemento arquitetônico ao redor do qual se organiza” (1). Ele estabeleceu 7 zonas que deverão receber tratamento diferenciado, destacando duas por seu valor histórico e excepcionalidade: o roseiral e o modelo filogenético (2). Carlos Delphim recomendou que a zona do roseiral fosse proposta para tombamento estadual (IPHAE) e que a zona do modelo filogenético “pela sua importância e singularidade nacional” fosse proposta para tombamento federal ao IPHAN.
Aproveitando sua presença em Porto Alegre a Secretaria do Patrimônio Histórico da UFRGS organizou a conferência “Jardins históricos, a restauração do paraíso” que foi proferida por ele na Faculdade de Arquitetura da UFRGS,
As boas descobertas de Carlos Delphim em Porto Alegre e o interesse despertado pelos temas abordados por ele, na conferência me levaram a entrevistá-lo em 29 de abril de 2002.
notas
1
Carlos Fernando de Moura Delphim, “Parecer sobre o Campus da Faculdade de Agronomia do RS”. Escrito inédito
2
“A Botânica vale-se de modelos filogenéticos para o estudo e a classificação taxonômica das espécies vegetais. Tais modelos estabelecem relações entre as diferentes famílias botânicas, expressando-se sob uma forma esquemática e ordenada que reflete o status evolutivo e a origem das famílias. Não existe um sistema de classificação perfeitamente consistente e os modelos filogenéticos muito se modificam ao longo da história da Botânica e segundo os diferentes autores. (...) O jardim como modelo filogenético é uma interpretação espacial de um sistema de classificação botânica, utilizando-se de plantas vivas, organizadas em grupos que exprimem as relações do sistema teórico”. Carlos Fernando de Moura Delphim, “Parecer sobre o Campus da Faculdade de Agronomia do RS. Escrito inédito.