Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Em junho de 2015, Guilherme Bellintani anunciou em artigo publicado no portal Vitruvius a demolição das escolas de Lelé em Salvador. O presente artigo questiona se esta é a melhor solução e propõe a defesa das obras do grande arquiteto brasileiro.

how to quote

LIMA, Adriana Rabello Filgueiras; TOLEDO, Luiz Carlos . Escolas de Lelé em risco! Vamos salvar da demolição as escolas projetadas e construídas pelo arquiteto João Filgueiras Lima em Salvador. Minha Cidade, São Paulo, ano 15, n. 179.05, Vitruvius, jun. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/15.179/5587>.


Escola de Pituaçú, Salvador. Arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. Painéis de Athos Bulcão
Foto divulgação [LATORRACA, Giancarlo. João Filgueiras Lima, Lelé. São Paulo, Blau, Instituto Bardi, 2000]


A correta aplicação de recursos públicos tem uma função estratégica no desenvolvimento do país, principalmente diante da crise econômica com que nos deparamos nesse momento. Infelizmente a intenção da Prefeitura de Salvador de demolir as escolas projetadas por João Filgueiras Lima, o Lelé, caminha no sentido contrário (1).

O projeto das escolas, como toda a obra de Lelé, alia o apuro do projeto à excelência, flexibilidade e racionalidade do método construtivo que desenvolveu. Método capaz de erguer com a mesma qualidade uma escola em Abadiana (GO), construída com parcos recursos financeiros e mão de obra do local e também os hospitais da Rede Sarah, reconhecidos internacionalmente como exemplo do que há de melhor e mais avançado em arquitetura hospitalar.

O que liga essas edificações, de funções e escalas tão diversas, é a qualidade dos projetos e a excelência e rigor de um método construtivo capaz de reduzir drasticamente o tempo de construção e o custo final da obra.

Voltando à decisão de demolir as escolas, vale perguntar por que essas edificações, realizadas pela Prefeitura, deixaram de atender a ela própria, mas, antes de tudo, cabe rememorar sua história.

Em 1986, Mário Kertész, prefeito de Salvador, convocou Lelé para criar uma indústria de equipamentos urbanos que pudesse atender de forma rápida, barata e eficiente às diversas demandas da cidade. Lelé, então, idealizou e montou a Faec – Fábrica de Equipamentos Comunitários –, responsável pelo desenvolvimento de sistemas de industrialização em argamassa armada e aço.

Durante três anos, a FAEC construiu inúmeras passarelas sobre as avenidas de vale, abrigos de ônibus, lixodutos nas encostas dos morros, elementos para urbanização de praças, brinquedos para playground, bancos, sanitários públicos, escolas, creches e postos de saúde. Equipamentos que, gradativamente, melhoravam a imagem da cidade e a vida de seus habitantes mais carentes.

Montagem de unidade escolar da Faec, Salvador. Arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. Painéis de Athos Bulcão
Foto divulgação

Tratando-se de um sistema construtivo não convencional, composto por elementos pré-fabricados desenhados especialmente para cada projeto, a Faec, também se responsabilizava pela manutenção predial preventiva e corretiva de todos estes equipamentos. O sistema permitia, se necessário fosse, substituir uma laje de piso ou de cobertura, um shed ou até mesmo um pilar das escolinhas com facilidade e rapidez.

Após o encerramento da gestão de Mário Kertész, por questões políticas, as atividades da Faec foram encerradas. Posteriormente, a fábrica foi incorporada pela Desal – Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador, também municipal, que passou a ser proprietária não só de todos os projetos – desenhos de montagem, detalhamento das armações das peças pré-moldadas, desenhos das formas metálicas, projetos de instalações, como também das próprias formas metálicas e das instalações da fábrica, com seus sistemas de enchimento das formas, tanques de cura, sistemas de desforma, cura após desforma e controle de qualidade.

A partir de então, a Desal tornou-se detentora da tecnologia, responsável pela multiplicação dos projetos idealizados por Lelé e pela manutenção dos equipamentos existentes, inclusive das escolas.

Entre as possíveis razões que levaram a Prefeitura a decidir demolir as escolinhas, descartamos de pronto a impossibilidade de se efetuar mudanças físicas, já que a flexibilidade do projeto das escolas permite adaptá-las facilmente à inovações pedagógicas. Estando o sistema de industrialização disponível, qualquer adaptação é viável.

Contudo é possível que parte das escolinhas apresente problemas construtivos decorrentes da falta de manutenção e do próprio clima de Salvador, castigado pela maresia. Ainda assim parece-nos que seria prudente, antes de adotar uma medida tão drástica como a demolição, fazer uma avaliação rigorosa de cada uma das escolas, verificando o grau de comprometimento estrutural e, principalmente, se a substituição das peças afetadas seria viável economicamente.

Essa avaliação deveria ser feita com a assessoria de técnicos que conheçam em detalhe o método construtivo desenvolvido por Lelé, facilmente encontrados em Salvador, palco privilegiado de atuação de Lelé.

Unidade escolar da Faec, Salvador. Arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. Painéis de Athos Bulcão
Foto divulgação

nota

1
BELLINTANI, Guilherme. A demolição das escolas de Lelé em Salvador. O poder público e a incúria da falta de manutenção. Drops, São Paulo, ano 15, n. 093.04, Vitruvius, jun. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.093/5576>.

sobre os autores

Adriana Rabello Filgueiras Lima é arquiteta e uma das principais colaboradoras do Lelé. Gerenciou a construção de projetos de hospitais da Rede Sarah em Brasília e no Rio de Janeiro, e do Memorial Darcy Ribeiro, na UnB, em Brasília. Desde janeiro de 2012 é diretora do Instituto criado por seu pai.

Luiz Carlos de Menezes Toledo, arquiteto, mestre e doutor pelo PROARQ-UFRJ, diretor da Mayerhofer & Toledo Arquitetura, vencedor dos concursos Rio Cidade 1 – Méier (1993), Rio Cidade 2 – Irajá (1997), Projeto de Ambiente Mobiliário Urbano Baixada Viva (1997), Centro de Convenções da Área do Teleporto (2002) e de Elaboração do Plano Diretor de Urbanização da Rocinha (2006). Recebeu do IAB-RJ o título de Arquiteto do Ano em 2009.

comments

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided