O presente artigo discute três obras recentes do Studio Sumo, escritório de arquitetura e design atualmente considerado como um dos jovens escritórios mais inovadores de Nova York (1). Fundado em 1997 e fruto da vontade de projetar de Sunil Bald e Yolande Daniels, então jovens professores de arquitetura, o Studio Sumo nasceu pequeno e sem muitas ambições. Sunil Bald é professor da escola de arquitetura de Yale, tendo lecionado nas universidades de Cornell, Columbia, Michigan, e na Parsons School of Design. Yolande Daniels é diretora da pós-graduação da Parsons School of Design, e lecionou no MIT, na City University of New York, na Howard University, e na Universidade de Columbia. A ideia da dupla era montar um escritório que pudesse enfocar a arquitetura como uma prática refletiva e como mediadora entre situações e desejos num mundo dividido entre o global e o local.
Além dos projetos no Japão incluídos neste artigo, a obra do Sumo inclui, por exemplo, o Museu de Arte Diáspora Africana no Brooklyn, o interior do Museu de Arte Africana de Long Island, o Mitan Housing em Miami e, ainda andamento, o projeto para o campus de media Kioi-cho, em Tóquio (2). O Studio Sumo recebeu vários prêmios do American Institute of Architects, seus projetos encontram-se publicados em diversas revistas, foram exibidos no MoMA e na Bienal de Veneza. O Sumo foi finalista do concurso anual para jovens arquitetos do MoMA/PS1 (2002), foi incluído na lista de Vanguarda de Projeto da revista Architectural Record (2006), recebeu o Premio Vozes Emergentes da Liga de Arquitetos de Nova York (2014) e, em 2015, for agraciado com o prestigioso premio anual de arquitetura do American Academy of Arts and Letters.
Para os autores deste artigo interessa divulgar o trabalho do Studio Sumo entre o público do portal Vitruvius por duas razões principais. Primeiramente, porque o escritório é um excelente representante contemporâneo da herança modernista, através da releitura do contexto e da cultura onde se inserem os projetos, com soluções que surpreendem, inovam, e valorizam a dimensão pública. Em segundo lugar, em razão da forte ligação dos fundadores do Sumo, particularmente de Sunil Bald, com o Brasil. Ao se graduar em Columbia, o arquiteto recebeu um prêmio para passar três meses em São Paulo e acabou se enamorando da arquitetura moderna brasileira. Ao retornar aos EUA, Sunil trabalhou no escritório de Antoine Predock, um dos arquitetos modernistas contemporâneos mais renomados nos EUA, cuja influência também é evidente no trabalho do Studio Sumo. Três anos depois, em 1993, Sunil receberia uma bolsa da Fundação Fullbright para passar um ano no Brasil onde estudou o modernismo brasileiro, particularmente a obra de Oscar Niemeyer e Affonso Reidy, como parte dos esforços de se construir uma nação (3). Yolande Daniels, então sua companheira e futura sócia fundadora do Studio Sumo, também passou bastante tempo no Brasil, tendo estudado e publicado sobre a relação entre arquitetura brasileira, memória e escravidão.
O Studio Sumo e o Japão
A relação do escritório Sumo com o Japão iniciou-se em 2003 de modo muito curioso. Tudo começou quando Sunil Bald e Yolanda Daniels, sócios fundadores do Sumo e professores em Nova York, receberam o convite inusitado para ensinar inglês por meio de aulas sobre arquitetura na Universidade Josai. A ideia era auxiliar os alunos a aprender informalmente, sem tratar diretamente de gramática. A oportunidade era tentadora já que a Josai é considerada uma das melhores universidades do ranking asiático.
Na época a vida de Sunil e Yolande dividia-se entre lecionar em Tóquio e Nova York, e executar pequenos projetos de interiores e de instalações artísticas. Até o dia em que, ao assistir uma palestra deles sobre os projetos do Sumo, a chanceler da Universidade de Josai disse: “Bem, vocês sabem que nós estamos pensando em fazer um novo edifício... se importariam em fazer uma proposta?” Desde então essa tem sido a maneira com que o Sumo tem trabalhado no Japão: aceitando convites informais e vivenciando fatos inusitados. Esse primeiro projeto – que acabou sendo adiado e passou a ser o segundo – era para um pequeno museu para as famosas xilogravuras de Tōshūsai Sharaku, das quais existem apenas três no Japão, todas de originalmente pertencentes a Mikio Mizuta, um dos fundadores da Universidade Josai. Mikio Mizuta foi ministro das finanças por cerca de trinta anos e tornou-se muito conhecido por ter anexado o iene ao dólar após a Segunda Guerra. Por meio da configuração cambial proposta por ele, o Japão tornou-se um forte exportador de bens e a economia foi reconstruída após os anos 1960.
Uma das exigências da Universidade Josai era que o Sumo trabalhasse com a construtora Obayashi, que, ao longo dos quarenta anos da jovem universidade, foi a única responsável pelos projetos e pelas construções em todo o campus. Essa parceria, que já leva doze anos, revelou-se uma rica e interessante experiência para o Sumo. É importante fazer notar aqui a importância das grandes empresas de construção no Japão, que possuem um poder incrível. Dentre as cinco maiores empresas encontra-se a Obayashi que, no seu portfolio, possui inúmeros tipos de projetos em diversas escalas. Dentre seus projetos mais notáveis no Japão destacam-se a “Celestial Tree”, a maior torre de rádio do mundo com 600 metros de altura, o edifício Dentsu de Jean Nouvel, e os museus Nesu, de Kengo Kuma, e Hokie, de Nike Sake. Curiosamente, a empresa foi fundada em 1892 por Yoshiga Obayashi, originalmente um comerciante de quimonos que abriu um negócio para consertar templos em Kyoto. Hoje a Obayashi emprega 9000 funcionários e 450 arquitetos. Quando empresas como a Obayahsi entram em concorrências, mesmo tendo a frente grandes nomes como Zaha Hadid, Toyo Ito ou Kengo Kuma, os arquitetos não lideram as equipes, mas a própria construtora.
Para o arquiteto Sunil Bald, uma das diferença entre trabalhar no Estados Unidos e trabalhar no Japão é que não há necessariamente uma relação conflituosa entre o arquiteto e empreiteiro, no caso a Obayashi. Há sempre um orçamento inicial detalhado e um engenheiro estrutural trabalhando diretamente com o Sumo. Todos trabalham na mesma sala para aumentar a eficiência; não existe um vai e vem na discussão, e tudo ocorre dentro do cronograma e do orçamento. As empresas de construção japonesas são excelentes e lá o canteiro de obras é uma coisa bonita de se ver, pois são extremamente organizados e limpos. A única dificuldade enfrentada pelo Sumo, particularmente no desenrolar do primeiro trabalho, foi a sensação de estar a mercê da empreiteira já que o escritório era de jovens arquitetos, ainda imaturos e estrangeiros. Mas a experiência mostrou que a relação é de grande respeito.
Segundo Sunil Bald, a diferença de fuso foi um dado importante. Para ele, trabalhar no Japão é uma coisa de 24 horas. O desenho podia ser enviado durante o dia para Tóquio e ser recebido à noite em Nova York, o que agilizou ainda mais o processo. Para o arquiteto, esse modo de trabalhar também se relaciona a ideia de flutuação. Trabalhar em um lugar que não estão necessariamente situados, um lugar estrangeiro, distante, e ao mesmo tempo o processo de se trabalhar à distância, remotamente, utilizando as tecnologias digitais. O Sumo fez cerca de 12 projetos para Universidade Josai, dos quais três foram construídos e discutimos brevemente neste artigo.
notas
1
Para escrever este artigo, os autores basearam-se em conversações com o arquiteto Sunil Bald e em sua palestra na California Polytechnic State University San Luis Obispo (4 de Marco de 2016).
2
Ver website do escritório: www.studiosumo.com.
3
Foi por conta desses estudos que os autores conheceram Sunil Bald. Vicente del Rio quando Sunil assistiu sua palestra sobre arquitetura brasileira na Universidade do Novo México, Albuquerque, em 1992. Simone Neiva, durante a estadia de Sunil no Brasil em 1993.