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reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

português
Alberto Sousa amplia o debate acerca dos frontispícios da arquitetura religiosa brasileira colonial, proporcionando uma leitura supra histórica da arquitetura, em que ultrapassa as divisões convencionais da periodização da História da Arte.

english
Alberto Sousa extends the debate about the frontispieces of colonial Brazilian religious architecture, providing a supra-historical reading of architecture, in which surpasses the conventional divisions of the History of Art periodization.

español
Alberto Sousa amplía el debate acerca de los frontispicios de la arquitectura religiosa brasileña colonial, proporcionando una lectura supra histórica de la arquitectura, en la que sobrepasa las divisiones convencionales de la periodización de la Historia

how to quote

MIRANDA, Cybelle Salvador. O modelo tomarense e os frontispícios da arquitetura religiosa colonial brasileira. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 194.04, Vitruvius, fev. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.194/6889>.


Seguindo o caminho inesgotável das interelações entre a arquitetura construída em solo brasileiro, no período colonial, e sua gênese além-mar, Sousa nos propõe uma reflexão fértil acerca da composição de 200 frontarias de igrejas, situadas geograficamente no Nordeste e Sudeste brasileiro, com alguns exemplares pontuais do Centro-Oeste. Sua tese assenta-se na difusão de um modelo paradigmático do Renascimento italiano, um desenho do arquiteto Cesare Cesariano para a primeira edição do Tratado de Vitruvio em italiano, no ano de 1521, que, segundo atesta Sousa, teria sido a fonte inspiradora da fachada da ermida de Nossa Senhora da Conceição, em Tomar, Portugal, projetada pelo arquiteto João de Castilho e reconhecida como monumento nacional e como um dos melhores exemplos de arquitetura renascentista em terras lusas.

Apesar de ter-se estudado o papel da Tratadística nas construções coloniais e imperiais brasileiras, ainda há muito o que compreender em termos de como estas fórmulas eruditas foram sendo adaptadas e reformuladas pelos construtores locais.

A contribuição deste ensaio, construído em cinco capítulos, assenta-se na demonstração de que grande parte dos templos católicos edificados em capitais e cidades menores do Brasil colônia derivam sua frontaria de um processo adaptativo do ‘modelo tomarense’. Dialogando com clássicos como Germain Bazin e Nestor Goulart, Sousa afirma sua tese apoiado em farta análise de exemplares, agregando desenhos de época, que servem para a análise criptohistórica da arquitetura (1) – uma vez que se referem a edifícios demolidos ou modificados –, fotografias atuais e desenhos elaborados pelo autor.

Percebe-se, ao longo de suas argumentações, a articulação de aspectos formais com motivos funcionais (a presença de coro alto nas igrejas brasileiras e a necessidade de melhor iluminação dos interiores), interesses dos encomendantes (irmandades, como a da Misericórdia, do Rosário, bem como a mudança no gosto que gerou alterações na forma e ondulação dos frontões e das vergas das aberturas. A fenestração em cruz, como denomina a fórmula mãe que preside a todos os exemplares estudados, caracteriza as frontarias derivadas da capela tomarense, além da ausência de pilastras e outras linhas que dividam em panos as fachadas estudadas. Esta composição singela e racional, característica do que se denominou em Portugal o ‘estilo chão’, não foi em terras brasileiras apenas uma moda passageira, e sim um esquema perene e intuitivamente adaptado a dimensões e locais distintos.

Sousa situa as primeiras expressões do modelo de Tomar nas igrejas construídas nos séculos 16 e 17, que se caracterizam por “fachada com fenestração em cruz e composta de duas partes, das quais a superior era um frontão com óculo e a inferior estava limitada por pilastras de canto, possuía uma porta central e duas janelas verticais e era desprovida de faixas divisórias horizontais ou verticais, como pilastras ou cimalhas intermediárias” (p. 63).

Detecta ainda a persistência desse modelo, apesar dos acréscimos ao gosto barroco, em igrejas do século 18, sendo distinguidas duas variantes neste século: a variante 1 apresenta frontão curvado e janelas com verga em arco abatido, sendo a variante 2 caracterizada, além dos elementos anteriores, pela presença de entablamento encurvado, o qual, quando desenha a curva para cima é denominado entablamento sírio, pois derivou de influências orientais na época helenística.

Deste modo, o ensaio de Alberto Sousa apresenta como virtudes a fluidez do texto, e a citação profícua de fontes, sem pedantismo, estilo próprio a um estudioso de longo caminho acadêmico, e acostumado a descobertas polêmicas como a do classicismo à brasileira, termo com que denominou a versão do classicismo imperial brasileiro adotado em Portugal na segunda metade do século 19. Este tema foi por nós adotado e aprofundado na pesquisa “Classicismo nos hospitais da Misericórdia e da Beneficência na 2ª metade do século 19: trânsito entre Brasil e Portugal” (2) e nos estudos de pós-doutoramento junto ao Artis da Universidade de Lisboa, acerca das Arquiteturas da saúde na 2ª metade do século 19 e as repercussões do classicismo no Norte do Brasil e de Portugal (3).

Ademais, para melhor compreensão das análises, a ampla amostra de frontarias selecionadas pelo autor – que este acompanha por descrições sucintas – se beneficiaria de esquemas gráficos que identificassem os elementos-chave do modelo tomarense, bem como suas variações (como a inserção da terceira janela), além de um quadro comparativo entre as variantes classificadas pelo autor.

Ao final do volume, as considerações finais registram que o autor não identificou edifícios religiosos que pudessem se filiar ao modelo tomarense nos estados do Amazonas, Pará e Rio Grande do Sul, pelo menos no recorte temporal em questão. Tal observação nos serve de alerta para a lacuna existente no estudo mais acurado da arquitetura religiosa em território paraense. Partindo de uma análise preliminar dos templos de Belém, erigidos no período colonial, nota-se a composição de fachadas que adotam modelos e esquemas bastante complexos, com divisões em panos, presença de elementos eruditos do repertório clássico, torres de formatos diversos, e múltiplas aberturas, ritmadas.

Ademais, urge avançar para o reconhecimento da vasta produção de arquiteturas espalhadas pelas regiões do Estado – Salgado, Baixo Tocantins, Marajó, Tapajós, dentre outras, que expressam os ideais e preceitos das várias ordens e irmandades religiosas que contribuíram para nossa formação, bem como identificar quais as estruturas formais adotadas, e resinificadas pelas populações locais, numa mistura profusa e rica que propicia a compreensão de nossa identidade cultural. O livro de Alberto Sousa surge como uma inspiração para estas e outras investigações no âmbito da História da Arquitetura brasileira.

notas

1
SERRÃO, Vítor. A cripto-história da arte – análise de obras de arte inexistentes. Lisboa, Livros Horizonte, 2001.

2
MIRANDA, Cybelle Salvador; GRILO, Fernando Jorge Artur; PINHO, Joana Balsa de. Classicismo nos hospitais da misericórdia e da beneficência na segunda metade do século XIX: trânsito entre Brasil e Portugal. Artis On, v. 1, 2015, p. 231-237.

3
MIRANDA, Cybelle Salvador; GRILO, Fernando Jorge Artur. Arquiteturas da saúde na segunda metade do século XIX e os modelos de ensino nas academias portuguesas. Anais do Museu Paulista, v. 24, 2016, p. 77-113.

sobre a autora

Cybelle S. Miranda é arquiteta e urbanista pela UFPA (1997), doutora em Antropologia pela UFPA (2006) com pós-doutorado em História da Arte Universidade de Lisboa (2015). Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPA, onde coordena o Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO).

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resenha do livro

A progênie brasileira de uma fachada da Renascença

A progênie brasileira de uma fachada da Renascença

Alberto Souza

2017

194.04 livro
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194

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