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Álvaro Siza 1954-1976

Álvaro Siza 1954-1976

Luiz Trigueiros (Org.)
 

Blau Monographs

Blau, Lisboa; 1ª edição, 1997
Textos de Paulo Martins Barata

edition: português
paperback
216 p
29 x 29 x 2 cm
1400 g
illustrated
fullcolor
photos
drawings
ISBN 972-8311-11-7

(projeto de arquitetura, arquiteto e obra)

Álvaro Siza 1954-1976

about the book

"Nada por aqui, nada por allá: un edificio, o una cuerda se convierte en un paraquas", assim escreveu o arquiteto catalão Pepe Linás a propósito do mestre madrileno Alejandro de la Sota, e o mesmo poderia ter dito da delicada presença tectônica na arquitetura de Siza. Esta oscilação é evidente no Museu de Santiago de Compostela, onde o revestimento de pedra é aplicado sobre uma sub-estrutura mista de aço e betão, de forma a simular uma alvenaria portante. No entanto, os requintados pormenores revelam aquilo que o revestimento de pedra, de uma forma ostensiva, quer esconder: a aparente simulação de alvenaria maciça. Nesta obra o arquiteto é obrigado a utilizar segmentos de pedra em U e L, com uma espessura de cinquenta milímetros, para sugerir a impressão de que estamos perante uma parece maciça. Martins Barata cita neste contexto a evocação de Machu Picchu por Siza; a sua homenagem à pedra que "vive na memória da história". No entanto, por muito que este ato de memória possa ser desejado, não pode ser intencionalmente realizado como efeito cenográfico. Daí que Siza entre no jogo Semperiano de revelar/ocultar; só através deste estratagema alternativo, pode o estereotómico ser eticamente revelado. Isto explica a paradoxal realidade e retórica da estrutura metálica de suporte do revestimento; por um lado, a realidade oculta da estrutura, partir da qual a pedra se suspende, por outro, a retórica revelada dos lintéis de aço, que na verdade, não servem a estrutura. Esta expressividade do fictício é evidente na longa fachada da rua, em que um lintel metálico ridiculamente fino, cobre um extenso vão e supostamente vence a carga da alvenaria de pedra; uma ficção que é imediatamente negada pela parece branca e rebocada, que se situa reentrante na retaguarda da fachada de pedra.

Este contraponto tectônico entre aço e pedra é ainda mais sutilmente articulado na fachada de topo, onde a carga da espessa parede suspensa é (simuladamente) conduzida ao pavimento através de uma viga metálica composta, soldada e montada em dois pilares metálicos, assentes num podium de pedra. A veracidade desta parede é desafiada pela marcada redução da espessura no exato ponto em que a força de compressão atinge o auge. O fato de a parte inferior da parede parecer ter sido comprimida, quase como uma substância plástica, entre os dois perfis U, sugere desde logo a insubstancialidade "cenográfica" da parede em toda a sua altura. Não podemos, no entanto, inscrevê-la como arquitetura de cartão; nada poderia estar mais longe da "decorated shed". A pedra e o metal estão lá, em toda a sua materialidade, e a sua conjugação tectnônica é convincentemente tratada em termos de substância construída. O que não é (deliberadamente) convincente é a forma como interagem estaticamente, e isto para os que saibam ver, nega a proposição estrutural. Daí que sejamos envoltos num círculo de perplexão, entre coisas que são, e coisas que não são, o que parecem ser. Desta forma, o jogo lúdico permite que tanta a ética, como a estética da situação, coexistam; uma "brecha" kraussiana na qual se pode dizer que a cultura atinge autonomia.

(trecho do artigo "Nada numa mão, nada na outra", que abre o livro)

about the author

Luiz Trigueiros
Arquitecto pela E.S.B.A.L desde 1980 e foi director da revista Architécti desde o seu início até o número 15/16 de 1992.

how to quote

TRIGUEIROS, Luiz (Org.). Álvaro Siza 1954-1976. Blau Monographs, Lisboa, Blau, 1997.

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