A linguagem da escultura
A linguagem da escultura
William Tucker
Cosac Naify, São Paulo; 1ª edição, 1999
edition: português
paperback
174 p
17 x 24 x 1 cm
450 g
illustrated
photos
ISBN
85-86374-27-x
(fundamentos e crítica das artes, escultura)
about the book
Este livro reúne uma série de conferências proferidas na Universidade de Leeds em 1969, além de artigos publicados na revista Studio Internacional entre 1970 e 1972. Na época, esse conjunto de ensaios sugeria um livro que abordasse um período que, apesar de pouco estudado, parecia ter importância decisiva na compreensão da escultura do final dos anos 60.
Escrito sob a ótica de um artista, mais do que de um crítico ou historiador, surpreendo-me ao constatar que permaneceu em circulação. Tal como a discussão sobre a escultura, minha própria prática artística mudou radicalmente nos últimos trinta anos. Hoje faria um livro bastante diferente: abrangeria períodos muito mais extensos do que a Paris do final do século XIX e início do XX; levaria em conta Michelangelo, Donatello e os princípios da tradição ocidental na Grécia, bem como outras grandes tradições fora da Europa, notadamente Índia e África.
Hoje, ao reler A linguagem da escultura, o livro me parece ter certa qualidade que talvez explique o interesse que desperta. O grupo de jovens escultores dos anos 60, ao qual eu estava associado, sentia que estávamos na aurora de uma nova era. A vitalidade, escala e ambição da pintura expressionista abstrata da época inspiravam-nos a acreditar que uma revolução similar era possível na escultura. Pensávamos então que os trabalhos mais célebres de nossos predecessores imediatos ensaiavam uma retórica estereotipada do desespero do pós-guerra. Isso explica certos aspectos do livro, tais como o descarte petulante de Giacometti e a absoluta falta de referência a Henry Moore.
Creio que a coerência desses textos reside na convicção de que estávamos tentando agarrar a oportunidade que os primeiros anos do século abriram para a escultura: a crença na abstração, na ruptura com a referência externa, e numa nova relação entre objeto e espectador. Isso fica evidente na escolha dos artistas e nos aspectos de seus trabalhos privilegiados, muito embora todos eles, à exceção daqueles presentes no capítulo "O objeto’, sejam figurativos.
Da perspectiva de 1998, a insistência na articulação dos materiais e na percepção da gravidade no trabalho de Rodin, Degas e seus sucessores, era reflexo de nossas preocupações, mas também uma interpretação legítima das intenções de Brancusi e Picasso. Entretanto, enquanto escrevia o livro – e à medida que os limites da escultura se expandiam para incluir a paisagem, a fotografia e a performance – o ideal do objeto autônomo parecia ter sido uma fase momentânea. Talvez não haja sentido em encerrar a escultura num conjunto de regras a respeito de sua dimensão física, permanência e material; é preciso reconhecer que a evocação do humano é, afinal, a razão fundamental da escultura, que o ideal de objeto do modernismo era, paradoxalmente, uma maneira de restabelecer secretamente esse fundamento, alijando ao mesmo tempo os clichês da representação naturalista.
O livro trata de uma série de relatos de minha experiência com esculturas que me afetavam profundamente. Se permanece legível, deve-se à descrição honesta e cuidadosa daquilo que se vê e que se experiencia com o próprio corpo diante de esculturas como Jean d’Aire de Rodin ou a Coluna infinita de Brancusi, o que já é em si desafio bastante.
about the author
William Tucker