Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architectourism ISSN 1982-9930


abstracts


how to quote

SPOLON, Ana Paula. Olhando os espaços entre os prédios. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 010.07, Vitruvius, dez. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.010/1389>.


Um amigo passou por Munique em novembro último e, perambulando pelas livrarias da cidade (mais um desses que viaja para, entre outras coisas, ver e comprar livros e então voltar para casa com a mochila pesada, lamentando não ter optado pela tal mala de rodinhas...), encontrou este The spaces between buildings (Os espaços por entre os prédios, ou algo assim), do qual me falou entusiasmado. Bastou. Peguei emprestado. E gostei. Prometi a mim mesma que na próxima viagem, além de fotografar prédios, vou olhar mais atentamente para o que há entre eles.

Busquei descobrir mais sobre o autor e suas outras obras e deparei-me com uma série de reviews, todas elogiosas e destacando a escrita fácil, poetizada e leve, além de uma notável capacidade de explorar cidades a partir de abordagens pouco usuais. Geógrafo pela Ohio State University (onde também cursou seu mestrado), com doutorado pela University of Oregon, o Prof. Dr. Larry Ford tem uma enorme lista de livros e artigos publicados, além de considerável experiência como conferencista e professor, hoje com vínculo com a San Diego State University, nos Estados Unidos.

Sua trajetória de pesquisa nas áreas de arquitetura e geografia urbana é consistente, merecendo a sua obra ser ao menos parcialmente traduzida para a língua portuguesa. Esperamos a boa vontade dos editores. Enquanto isso não acontece, o original em inglês de The spaces between buildings, bem tratado e apresentado pela The Johns Hopkings University Press (cuja tradição editorial é reconhecida e respeitada), apresenta um conjunto de interessantes argumentos que mostram o adiantado pela epígrafe – que os espaços por entre as edificações podem efetivamente ser tão importantes para a vida do homem urbano quanto as próprias edificações.

O autor explica o escopo do livro como uma tentativa pessoal de responder a uma pergunta que os familiares e amigos vêm há algum tempo lhe fazendo, durante caminhadas pela cidade: – “Mas, como é que pode? Para onde é que você está olhando agora?” Pelo jeito, menos para as edificações e mais para os detalhes vários que estão em volta delas – nas paredes, nas ruas, nas calçadas, nos gramados, nos parques, nos estacionamentos. No vazio em geral.

Logo no primeiro bloco do livro, Dr. Ford nos dá uma gostosa oportunidade de voltar à infância, à época em que (todos nós), mesmo não dispondo de qualquer noção de construções ou arquitetura, sabemos quais os melhores cantos para nos escondermos, ou para esconder objetos, as melhores árvores nas quais subir ou o melhor ponto para ver os desfiles de rua. Lugares mágicos que parecem, ao menos para nós, incrivelmente integrados à cidade e totalmente conectados.

Depois crescemos e a atenção se volta para as construções lineares, para os caminhos definidos e delimitados, para as estruturas racionais e padronizadas. Os outros elementos, que ficam enfurnados nas passagens irregulares, atrás das escadas, no fundo dos prédios, debaixo das pontes ou perdidos no horizonte, estes deixam de ser interessantes e não são mais vistos, ou analisados, menos ainda no ambiente acadêmico.

Nas palavras do autor, as edificações e elementos estruturais, quando divorciados do espaço (seja ele nobre ou pobre), não são, entretanto, capazes de contar a história completa de uma cidade. E isto é especialmente verdadeiro no caso das áreas mais antigas das grandes cidades, nas quais vêm se concentrando os programas contemporâneos de requalificação, revitalização e renovação urbanas.

É destes espaços que o Dr. Ford fala. Trata-se efetivamente de um livro sobre detalhes e seus significados na vida diária, principalmente na das pessoas que trafegam por estes espaços intermediários e despercebidos, deixando neles as suas marcas e sendo também marcadas por eles, mesmo que inadvertida e imperceptivelmente.

Em turismo, e de forma concentrada na vertente do turismo em espaços urbanos, discutimos, entre outros assuntos, questões de acessibilidade, categoria comumente impactada pela forma e pelo desenho das cidades, uma vez que, nos núcleos urbanos, existem em geral elementos limitadores (ou facilitadores) geográficos do deslocamento.

Esta situação interfere no nível de acesso do pedestre ou motorista (residente, visitante ou turista) a um equipamento de lazer ou a um atrativo turístico.

Na rua, há espaços de passagem e de paragem. Muitas vezes, a definição destes espaços e a aceitação das regras que definem seu uso acontecem informalmente, como resultado mais de uma prática social do que de uma determinação legal. Eduardo Yázigi discute parcialmente esta questão em seu O mundo das calçadas (São Paulo: Humanitas/FFLCH –USP, 2000), ao abordar as relações de integração social orientadas no universo do passeio público.

Dr. Ford vai além, pois olha para cima, para os lados, para os signos e códigos, para o espaço público que concentra a atividade cívica, para o espaço preenchido e para o vazio entre as edificações. Olha para todas as direções, inclusive – e talvez especialmente – para o chão.

E seu olhar se orienta por quatro estudos de caso, a saber: a medina islâmica, a cidade renascentista espanhola, a cidade norte-americana do século XIX e a cidade norte-americana contemporânea, na visão do autor recortes que podem estender-se a uma série de outros casos espalhados pelo mundo.

Não é vazio ou cheio de valores menores o espaço explorado pelo Dr. Ford. Nas palavras dele, “os espaços, mesmo os não construídos, nem de longe podem ser considerados vazios”. Dito de outra forma: as pessoas sempre dizem que um copo está meio cheio ou meio vazio – e esta postura é o que diferencia os otimistas dos pessimistas. Talvez seja assim também com o espaço. Ele está sempre meio vazio ou meio cheio. Depende de quem olha. E da maneira como o faz.

FORD, Larry R. The spaces between buildings. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 2000, 240 p. ISBN 10: 0801863317. ISBN 13: 978 –0801863318

sobre o autor

Ana Paula Garcia Spolon é consultora hoteleira, tradutora e professora universitária. Formada em Hotelaria pelo SENAC, é doutoranda e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, onde desenvolve pesquisas sobre turismo, estética arquitetônica e valorização imobiliária. Atua na área de planejamento e desenvolvimento de projetos turísticos e hoteleiros há 15 anos.

comments

010.07 Biblioteca
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

010

010.01 Fotografia

Gente e paisagem brasileiras

Tuca Reinés

010.02 Arquiteturismo em questão

Campos de golfe na terra do futebol

Affonso Orciuoli

010.03 Entrevista

Viagens de um turista aprendiz

Victor Hugo Mori

010.04 Viagem de formação

Petrarca é o culpado

Vladimir Bartalini

010.05 Arquitetura turística

Hotéis prêt à Porter

Fredy Massad and Alicia Guerrero Yeste

010.06 Paisagem urbana

Andando pela calzada de los muertos

Gabriela Celani

010.08 Editorial

Os colaboradores arquiteturistas

Abilio Guerra and Michel Gorski

010.09 Ministério do Arquiteturismo

Ministério do Arquiteturismo adverte

Regiane Trevisan Pupo

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided