Foram apenas algumas horas em Oslo, a partir de Gotemburgo, na Suécia, em novembro último. Próxima à estação de ônibus, à beira do fiorde que banha a capital da Noruega, uma construção moderna, de linhas retas brilhando ao sol, chama a atenção. É o Opera House, causando impacto na paisagem da capital da Noruega. Logo nos envolvemos na atmosfera, na arquitetura e na arte desse surpreendente edifício – quase um intruso entre o cais e a cidade – projetado pelos arquitetos noruegueses do escritório Snohetta e premiado pela Fundação Mies van der Rohe em 2009.
A visita à simpática cidade, seus calçadões e exuberantes jardins de cores outonais foi muito rápida; o Museu Nacional onde estão expostas obras de Edvard Munch, acabou ficando para uma próxima vez, já que a Ópera também fascinou os companheiros de viagem, jovens médicos a caminho de um congresso na Suécia.
Subindo a plataforma branca que emerge do mar, fomos conduzidos por passarelas de granito branco à cobertura, de onde se tem uma visão ampla da cidade. Edifícios modernos se agrupam de um dos lados da Ópera, contrastando com pequenos prédios de arquitetura estilosa que bordejam o mar.
Com mármore branco de Carrara, vidro, aço e madeira, em planos horizontais, o escritório compôs o conjunto como um apelo à convivência projetando amplas e convidativas áreas externas. E inúmeras salas internas de acesso livre e permanente, na realidade um foyer por onde se dá a entrada principal e se distribuem, à disposição do público, espaçosos café e restaurante, bilheteria, loja, poltronas e uma área escura com os banheiros contrastando com a luminosidade do foyer. O conteúdo dessa caixa de vidro surpreende. Vigas esbeltas de concreto que sustentam a cobertura – assim como as rampas, quem sabe uma alusão ao Alvorada de Niemeyer... – antecedem o bloco circular de madeira que abriga os espaços do teatro.
O trabalho na madeira também é surpreendente. São longos corredores, com pisos e paredes nesse material, contornando a sala principal, totalmente revestida de carvalho escurecido para oferecer sensação de calor e aconchego. Nela, tudo foi pensado em função da acústica; o revestimento frontal dos balcões foi desenhado de maneira a dispersar o som, assim como todos os demais detalhes, como os assentos que o absorvem, estejam ou não ocupados e as pesadas cortinas que recobrem as paredes no fundo quando há grande volume de som em apresentações de músicas pop ou rock.
A luminária central também tem um papel importante como refletor acústico; como as outras superfícies ela assegura que o som do palco e da orquestra seja bem distribuído; medindo sete metros de diâmetro, ela procura insinuar a luz do dia através de mais de oito mil lâmpadas diodes. Outro objeto-surpresa é a boca de cena, cortina do palco criada pelo artista norteamericano Pae White em tecido metálico, com detalhes em alta tecnologia. À distância, parece uma superfície metálica em três dimensões.
Três auditórios completam o programa do Opera House. Um deles, de expressão mais moderna, em cores vermelha, branca e prata e 400 assentos, foi projetado para produções experimentais; sua flexibilidade permite adaptação para diferentes apresentações musicais. Esses volumes, revestidos por peças de cristal , criadas pelo artista Olafur Eliasson que se inspirou no movimento das geleiras, são iluminados por luzes verdes.
Voltando à área externa, as rampas em peças de mármore bruto (36 mil ao todo) compõem um desenho geométrico, elaborado pelos arquitetos em conjunto com artistas locais. Estreitas faixas de mármore polido alternam-se entre peças de mármore rústico de diferentes tamanhos. No topo do caminho, o bloco retangular revestido de alumínio desenhado por artistas têxteis, projeta a luz do sol durante todo o ano, em suas diferentes nuances.
Esse complexo foi inaugurado em abril de 2008. São do mesmo escritório a Biblioteca de Alexandria, no Egito, projeto vencedor de concurso internacional e, mais recentemente, a embaixada da Noruega, em Berlim entre inúmeras obras espalhadas pelo mundo.
sobre a autora
Haifa Yazigi Sabbag é jornalista formada pela ECA/USP, ex-editora da revista AU - Arquitetura e Urbanismo e da seção AC – Arquitetura e Crítica, do Portal Vitruvius. Autora de “JKMF - Julio Kassoy e Mario Franco”, e “Rocco Associados - Residências Unifamiliares”, ambas da editora C4.