O sul do Brasil é um lugar particularmente incrível em vários aspectos: a viagem a Santa Catarina, a hospitalidade das pessoas, o ambiente em si... A ansiedade já se apresenta no aeroporto, com os pés tremulantes inquietos, um bom sinal que há outras emoções envolvidas: não gosto de voar.
A cidade escolhida para estadia e ponto de partida para os demais destinos foi o Balneário Camboriú. Durante o traslado – e chamo a atenção para informar o nome correto desta função, visto que a maioria das pessoas diz “translado”, e este “n” faz toda a diferença, pois traslado é para pessoas vivas e translado é o ato de transportar pessoas mortas –, o guia explicava aspectos importantes da história da cidade. Mas o que me surpreendeu foram os aspectos econômicos: a cidade mantém seu foco no turismo e na construção civil.
Atualmente Balneário Camboriú recebe pouco mais que o dobro de visitantes que a capital Florianópolis e, devido a este fato, a infraestrutura turística – que envolve redes hoteleiras, bares e restaurantes, opções de lazer etc. – foram fortemente desenvolvidas pelo setor imobiliário. A cidade dispõe de inúmeros arranha-céus, alguns acima de vinte andares, na orla da praia. Como arquiteturismólogo pergunto ao guia sobre a construção e ele informa que para se erguer edifícios tão altos, utiliza-se areia do próprio local e de mesma gramatura no cimento. Técnica semelhante foi utilizada em uma residência na Califórnia para resistir às ações do tempo e aos terremotos.
A cidade de Balneário Camboriú possui alguns atrativos turísticos de lazer, como os barcos temáticos, que lembram navios piratas. A equipe de recreação faz um trabalho muito bom, desde a caracterização dos piratas, lutas a bordo e interatividade com o público. O transporte público da cidade que liga a Barra Norte à Barra Sul é feita pelo Bondindinho, carinhosamente chamada pelos habitantes locais de “dindinho”. Ele passa pelas avenidas Brasil e Atlântica, onde o ponto final é o quebra-mar conhecido como Molhe da Barra Sul e o Parque Unipraias. O complexo Unipraias dispõe de 47 bondinhos, transporte aéreo por cabos, considerado o sistema mais avançado existente atualmente.
De bondinho, chegamos à primeira parada no Parque de Aventuras, onde passei uma tarde agradável. Para quem curte um turismo de aventura, deve ir ao maior trenó da América do Sul, o Yahoo, brinquedo que lembra um carrinho de montanha russa, com a diferença de ser possível controlar a velocidade. Há também o Parque Ambiental, com suas “trilhas” – percursos calçados com blocos de paralelepípedos que nos levam até mirantes, onde é possível observar o “molhe”, um quebra onda que fica além da orla da praia. Para finalizar, há também o percurso de arvorismo, com doze obstáculos, e que leva aproximadamente trinta minutos para ser percorrido. Tanto o bondinho quanto as embarcações piratas levam ao mesmo destino – a praia de Laranjeiras. Esta praia, além de ser a mais bonita, é apropriada ao banho de mar. Advirto que não vi ninguém se banhar na praia de Balneário Camboriú, a praia Central, ao menos não os moradores, pois – apesar das placas afirmarem o contrário – não é adequada devido ao esgoto.
Nesse mesmo dia, com transporte oferecido pela cidade, fomos visitar o Cristo Luz, que mede cerca de 33 metros e fica situado na montanha mais alta da cidade. Cada dia da semana ele, é iluminado por uma cor diferente, com significado particular.
O dia foi marcado pelo maior parque temático da América Latina, o Beto Carrero World. O parque é dividido por áreas temáticas, como a Ilha dos Piratas, Faroeste, Ilha da Fantasia, dos Gigantes, entre outros. Além de shows temáticos durante o dia, sempre gostei de clássicos medievais e não podia deixar de comparecer ao Excalibur, onde cavalheiros estão numa arena combatendo entre si em cima de cavalos; a trama é muito bem elaborada. Em relação aos brinquedos, há duas atrações imperdíveis para quem gosta de uma adrenalina, como a Big Tower, de 100m de altura despencados em 4 segundos, e a montanha russa Firewhip, seu design faz menção à tradução literal de seu nome “chicote de fogo”, a mais nova montanha russa e a primeira do Brasil a ser invertida. O Beto Carrero comprou muitas áreas verdes que fazem parte do terreno do parque, mas que são apenas isso, intocadas para não serem destruídas.
Desde a época que estudava oceanografia, tinha vontade de observar baleias. Nos meses de setembro e outubro acontece a visita das baleias francas ao sul catarinense, especialmente em Imbituba. Peguei o ônibus de viagem na rodoviária e fui. A cidade é tida como berçário destes cetáceos. Com o objetivo de proteger os animais, foi criada em 2002 a APA – Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, como informa as placas espalhadas em diversos pontos da cidade. O passeio ocorre logo pela manhã por volta das oito horas, sendo necessária estadia anterior ao passeio. É importante lembrar e seguir as recomendações dos guias, como não jogar alimentos, afinal elas não são carpas! Nos avisam que o barco ficaria a pelo menos cem metros de distância das baleias, mas a maré e o próprio nado do animal garantem fotos mais próximas. Era um desejo antigo, realizado após anos.
No trajeto de volta a Balneário Camboriú, não há um ponto de ônibus fixo – espera-se em ponto incerto na estrada – e, após perder dois ônibus e fazer inúmeras reclamações, a companhia nos enviou um ônibus de resgate, que nos levou para a capital Florianópolis e de lá para Balneário Camboriú. Se fosse meu passeio de último dia certamente teria perdido o vôo.
Minha viagem aconteceu no último final de semana do mês de outubro e, para fechar com chave de ouro, fomos a um evento de turismo. A cidade de Blumenau abriga um dos eventos mais conhecido por todos os brasileiros – a Oktoberfest, festa tipicamente alemã na nomenclatura, no ambiente com estilo germânico, na arquitetura, mesmo que só por fachada. O estilo enxaimel ou germânico, não é mais aplicado nas construções dos tempos atuais, visto que envolviam grandes toras de madeira e placas apoiadas para o fechamento estrutural. Hoje em dia o tijolo assim como a estrutura metálica substitui a madeira para este fim. Conversando com os moradores de Blumenau, fiquei surpreso ao saber que a festa tem muito mais participação do turista que dos moradores. Para elitizar a festa, os preços foram elevados, o que afastou o morador com menor poder aquisitivo.
O ônibus turístico tem seu ponto de parada na Prefeitura de Blumenau – em estilo germânico, com quatro fachadas iguais e uma réplica da Macuca, trem que circulava pela cidade, na frente da fachada principal – e, enquanto ele taxiava, era possível ver o rio que transbordou no ano de 2008 devido às fortes chuvas. Questionei um senhor de meia idade que ali passava sobre as enchentes e ele comentou que a mídia não divulgou o período pós-enchente, que afetou muito o fluxo turístico até recentemente, pelo menos dois anos após o ocorrido. Por ser uma das maiores colônias alemãs no Brasil, Blumenau recebeu recursos significativos de Berlim, afirmou o alemão, que acena após finalizar a frase, seguindo em direção às pessoas trajando roupas típicas.
Na avenida principal – a Quinze de Novembro, com suas diversas atrações turísticas, como o Castelinho, em estilo enxaimel, o Mausoléu do Sr. Blumenau, a Fundação Cultural, o Memorial dos 100 anos de imigração, o Museu da Cerveja, além de uma igreja – acontece o desfile, que começa pontualmente no horário marcado. São distribuídos doces para as crianças e cerveja para os adultos; os carros alegóricos são bem mais simples do que os de carnaval, mas a população se diverte na mesma medida. É interessante assistir os descendentes se caracterizando para manter a cultura dos antepassados; não imaginava que fosse desta forma, com a participação de idosos, jovens e crianças. Terminada a festa, a equipe de limpeza inicia o serviço e em pouco tempo a cidade está limpa, praticamente sem registro do desfile que ocorreu momentos antes.
O último ponto a ser visitado no percurso desta viagem é a Capital Florianópolis. Quando o ônibus ainda trafegava pela estrada e se aproximava do centro, presenciamos algumas favelas, mas que não são parecidas com as de São Paulo e Rio de Janeiro, pois se assemelhavam a casas populares. O pequeno centro histórico e o mercado não são as principais atrações do dia, mas, como bom turismólogo, tudo tem que ser conferido e registrado: o museu da cidade ainda mantém fachada no estilo historicista e abriga obras do autor negro Cruz e Souza; a igreja Nossa Senhora do Desterro – situada no ponto mais alto da cidade, núcleo do qual cidade começa a se desenvolver para seu entorno – abriga a padroeira da cidade, com mesmo nome da igreja. Ao reembarcar seguimos em direção à Praia da Joaquina, com direito a uma parada no mirante para avistar a Lagoa da Conceição. Eu não sabia disso, mas não é só no Nordeste que temos dunas; no Sul também tem! A vista é muito bonita, o sol é muito forte, mas os ventos gélidos confundem os sentidos.
sobre os autores
Sérgio Antonio dos Santos Jr é bacharel em turismo e graduando em arquitetura e urbanismo. Desenvolveu trabalhos acadêmicos referentes ao planejamento organizacional do turismo nos estados do sul do Brasil. Atualmente dedica-se ao "Arquiteturismo", elaborando pesquisas científicas conceituais, envolvendo aspectos da interação entre arquitetura e turismo.
Vanessa Sanches é bacharel em turismo, atua como atendente de viagens nacionais e internacionais, desenvolve projetos experimentais turísticos para estados do sul do Brasil.