Envolvidos pelo calor escaldante do Marrocos, tivemos o prazer de conhecer esse vilarejo tranquilo e ameno chamado Chefchouen, que fica ao norte do país. Essa pequena cidade foi construída em 1471 pelos mouros exilados da Espanha, originalmente como uma fortaleza para conter as invasões portuguesas do norte do Marrocos.
Depois de experimentar o vigésimo e delicioso tagine com couscouz marroquino da nossa viagem, saímos para caminhar interessados em descobrir com pés, mãos e olhos as singularidades deste lugar que, do chão ao céu, é absolutamente azul.
Era uma sexta-feira. Fato que, aparentemente irrelevante, acabou dando contornos especialíssimos ao nosso passeio. Pois, às sextas-feiras, a população se recolhe em virtude das rezas muçulmanas e, assim, as portas das lojas, casas de serviço – e também das residências – estavam fechadas, oferecendo um cenário pacato e algo misterioso à nossa caminhada.
Passeamos silenciosamente pelas ruelas labirínticas e azuis que guardavam casas azuis, de paredes azuis, de portas azuis, de chão e sombras azuis, embaixo de um lindo e vasto céu azul daquele dia.
As portas, em especial, nos chamaram a atenção. Eram portas íntegras, descascadas, escondidas, exibidas, de madeira maciça, de ferro amassado, com olhos desenhados, com cadeados pendurados, de fechaduras douradas, de gatos caídos às soleiras, de batentes falecidos, ranhuras cromáticas, portas com detalhes intrometidos e outros muito tímidos, portas que lembravam a da nossa casa e, algumas, que nos faziam sentir a distância de casa.
Fotografamos.
Com o interesse não só pelo que elas exibiam, mas com uma inquieta tentativa de adivinhação pelo que elas guardavam.
Uma realidade tão mais instigante por ser inacessível.
sobre os autores
Felipe Arruda é formado em comunicação social pela ESPM. É gestor cultural e escritor. Dirige a Faina Moz,atendendo empresas, instituições, produtores e artistas na concepção, planejamento, e gestão de empreendimentos culturais. Como escritor, tem contos publicados em antologias e revistas, entre eles dois premiados: pela CEPE – Companhia Editora de Pernambuco e pela revista Piauí Participa do selo literário Edith e escreve no blog http://felipearruda.blogspot.com/.
Laura Gorski é artista plástica, ilustradora e educadora. Como artista, participou de diversas exposições coletivas e ilustrou os livros Histórias de (in)tolerância, de Guila Azevedo e A noiva do condutor, opereta de Noel Rosa. Como educadora, trabalha há nove anos na ONG Comunidade Educativa Cedac. Foi assistente de coordenação da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake, onde ministra aulas no Núcleo de Formação para Professores. Em 2010 trabalhou na coordenação dos ateliês do Projeto Educativo da 29ª Bienal de São Paulo. http://lauragorski.blogspot.com/