A arquitetura sai dos livros e permeia a vida. Foi o que experienciamos em nossa viagem no último inverno em terras francesas. A ideia era percorrer a França em busca de obras que o mestre Le Corbusier fez em seu país de origem.
Para facilitar e ficarmos mais livres em relação a horários e trajetos, decidimos alugar um carro, o que se mostrou muito útil, mas ao mesmo tempo uma dificuldade por não estarmos acostumadas com o inverno europeu.
Estávamos em quatro – três estudantes de arquitetura – e queríamos percorrer os ícones arquitetônicos, como a Unité d’Habitation de Marseille, Firminy, Ronchamp, Villa Savoye, Villa La Roche, entre outros, a fim de transcender o que fotos e desenhos nos velhos livros e revistas de arquitetura já havia nos ensinado serem especiais. Apesar da prévia organização e definição de trajeto, por sorte um dos passeios que não havíamos planejado acabou caindo em nosso roteiro.
La Tourette foi uma surpresa para nós, um projeto de Le Corbusier que não conhecíamos, e que por insistência de um amigo acabamos por incluir em nosso roteiro. Talvez a experiência mais impactante da viagem em busca de obras que nos tocasse e nos fizesse refletir foi chegar a este projeto localizado nos arredores de Lyon.
A chegada ao convento foi um tanto turbulenta, devido à dificuldade de acesso e a neve na estrada. Passamos por estradas ínfimas nas quais nos perdíamos e nos achávamos a cada quinze minutos. Por fim, nos deparamos com o grande bloco de concreto situado nos arredores de Eveux-sur-Arbresle.
A princípio não iríamos passar a noite, mas quando nos deparamos com a possibilidade de dormir em uma das células projetadas por Le Corbusier, não hesitamos em adiar todas as nossas reservas dos próximos destinos. Uma arquitetura pode ser analisada à distância, mas apenas a presença exprime as sensações necessárias para uma verdadeira vivência.
Já no interior, os caminhos que percorremos para as habitações são pautados pelas relações com a luz, que entram pelas janelas emolduradas pelo arquiteto e se desenham sobre o concreto. Não há espaços sem luz. É um templo de recolhimento e introspecção. Afastado da cidade, é uma celebração à meditação, onde impera na atmosfera o rito do silencio.
A experiência de vivenciar concretamente a arquitetura, suas espacialidades e impactos sensoriais, é o que dá vida ao projeto. A força de um bom projeto encontra-se em nós, na maneira como nos apropriamos dele e como o percebemos. La Tourette é a criação que tocou o nosso ser mais íntimo.
sobre as autoras
Marina Ferreira Leite estudou arquitetura e urbanismo na Escola da Cidade, foi estagiária no Vitruvius em 2012 e hoje estuda administração de empresas na EAESP da Fundação Getúlio Vargas.
Paula Ferreira Leite é estudante de arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade.