Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architectourism ISSN 1982-9930

Vista panorâmica do Bacino di San Marco, com a ilha da Giudecca ao fundo. Foto Abilio Guerra

abstracts


how to quote

RETTO JR., Adalberto. O Palácio Enciclopédico. 55ª edição da Bienal de Veneza. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 076.01, Vitruvius, jun. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.076/4782>.


A Breath do escultor Marc Quinn atualmente instalada na ilha de San Giorgio, compõe o ponto distal do cenário da Praça de San Marco da República Sereníssima e presentifica outro tempo na composição lagunar. Ao afirmar a axialidade da Torre do Relógio, propicia uma dilatação do ponto de fuga a partir do olhar em diagonal à esquerda, ao mesmo tempo em que aponta na direção dos Giardini, palco central da 55ª Bienal de Arte.

Apresentada pela primeira vez na abertura dos Jogos Paraolímpicos, em Londres, e inspirada na história real de Alison Lapper, que apesar de suas condições físicas, levou adiante sua gravidez dando à luz um filho sadio, anuncia uma experiência estética inquietante, quase repulsiva quando comparada às pinturas da Veneza de Canalletto ou na cena Palladiana.

Il Bacino di San Marco de Antonio Canaletto, c. 1733
Reprodução

Afinal, como frisa Manfredo Tafuri, a área marciana não se limita ao perímetro da Piazza di San Marco. Ela se alarga a todo o perímetro “del bacino di San Marco”, cuore pulsante do porto de Veneza. É por isso, que em torno ao baricentro do Molo com as duas colunas constitui-se em algumas décadas um fundo arquitetônico com a realização de três obras realizadas por Andrea Palladio: San Giorgio Maggiore (1565-1610), ao lado do qual a escultura Breath está localizada, Zitelle, Basilica del Santissimo Redentore e, sucessivamente a construção da Basílica di Santa Maria de la  Salute e a Dogana: todos foram concebidos como fragmentos de uma cena que tem como ponto de vista o Molo entre as duas colunas.

A Biennale di Venezia possui um calendário amplo que, resgata em certa medida, o clima da cidade dos mercadores, navegadores e exploradores do Ocidente e do Oriente, decantado por Shakespeare na célebre obra Il Mercante di Venezia: de 01 de junho a 24 de novembro – Bienal de Arte; de 28 a 30 de junho – Bienal de Dança; de 01 a 11 de agosto – Bienal do Teatro; de 28 de agosto a 07 de setembro – Bienal do Cinema; e de 04 a 14 de outubro – Bienal de Música.

Mapa de Veneza
Google Maps

Apesar das duas mostras principais da Bienal de Arte de 2013 se localizarem nos Giardini e Arsenale/Corderie, outras mostras reconfiguram espaços sacros, públicos e privados da cidade, reafirmando sua real dimensão, como uma obra de arte viva – a venere strappata al mare.

Logo da 55ª Bienal de Arte: Il Palazzo Enciclopedico
Bienal de Veneza

A 55ª edição tem por tema Il Palazzo Enciclopedico, curada por Massimiliano Gioni: uma “mostra-pesquisa”, nas palavras do curador. A proposta da curadoria, como evocado no título, inspira-se na obra de Marino Auriti, que, em 1955, propôs o projeto de um Palácio Enciclopédico: um museu que não foi construído, mas que deveria conter todos os saberes da humanidade, com 136 andares e 700 metros de altura, ocupando uma área de aproximadamente 16 quadras da cidade de Washington.

A maquete do Palazzo Enciclopedico na 55ª Bienal de Arte de Veneza 2013
Bienal de Veneza

O Livro Vermelho de Carl Gustav Jung
Foto Adalberto Retto Jr

A maquete do museu abre a Mostra Internacional do Arsenale, e na entrada principal, pelo Giardini dela Biennale, o curador apresenta o livro vermelho de Carl Gustav Jung: um manuscrito ilustrado, no qual, o célebre psicólogo trabalhou por 16 anos. As duas entradas – Um livro e um Desenho – neste ensaio se configuram em dois percursos complementares e sem hierarquias: percurso 01 Giardini e percurso 02 Arsenale, e transformam-se em motes para discussão da condição da arte contemporânea: de um lado, a necessidade de sistematização e catalogação enciclopédica do conhecimento humano, a partir de um museu; e do outro, as portas do imaginário interior e do sonho, protagonizados pelo livro de Jung, apresentado pela primeira vez na Itália.

Percurso 01: Planta dos Giardini dela Biennale Veneza
Desenho Taís Schiavon

Embora o desenho de Auriti remontar formalmente os arquitetos revolucionários da Académie Royale d’Architecture, nos anos de 1780, onde o museu foi pensado pela primeira vez como projeto, na perspectiva utilitarista das Luzes, o clima do pós-guerra, no qual o museu foi concebido, torna-se uma chave interpretativa relevante para a problemática colocada pela curadoria: nos anos de 1950, tempos de reconstrução após a guerra, é também, o momento da redefinição do papel dos museus, da restauração e reestruturação de coleções e obras, entre outros.

Percurso 02: Planta do Arsenale-Corderie Veneza
Desenho Taís Schiavon

Como também, são os anos que paulatinamente firmou-se uma ruptura conceitual no campo museológico com a criação dos primeiros de arte moderna, através dos arquitetos da vanguarda (Museu para uma pequena cidade 1942-1943 do arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, Museu Guggenheim de New York 1943-1959 do arquiteto Frank Lloyd, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro 1953-1958 e 1967-1968 do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo Assis Chateaubriand 1956-1968 da arquiteta Lina Bo Bardi) que definitivamente rechaçaram a ideia do museu historicista, propondo uma profunda modificação em sua fisionomia e função. Além de seu Mundaneum de 1929, Le Corbusier desenvolveu entre 1930 e 1939 o projeto de uma machine à exposer: le musée à croissance illimitée.

Sala de entrada do Percurso 01 – Giardini dela Biennale
Foto Adalberto Retto Jr

O Livro e a Maquete do Projeto de Auriti, quando cruzados com as outras obras do ambiente geometricamente estruturado por meio de círculos das duas entradas, seja pelas páginas soltas, expostas em um ambiente sombrio envolvendo o livro de Jung, ou através das fotos dos penteados de negras africanas, no caso do segundo percurso, conduzem-nos a um ambiente conflituoso que, com exercício de imaginação, faz emergir a figura do Labirinto acionando historicamente o mundo arcaico, o clássico, e a condição da arte contemporânea, na tentativa de construir “a imagem de um mundo, quando ele mesmo é feito de imagens”.

Sala de entrada do Percurso 02 – Arsenale e Corderie
Foto Adalberto Retto Jr

Afinal, desde os primórdios, o Labirinto foi um dispositivo construído para confundir, colocar à prova, produzir o desaparecimento e o encantamento. Todavia, reduzindo-o ao desenho geométrico, que carrega intrinsecamente a ideia de um espiral, como também a representação do espaço no plano, ele expressa o nascimento da planta como descrição e representação do mundo.

O Labirinto é a primeira arquitetura complexa que organiza um lugar circunscrito, separando-o intencionalmente da referência com o espaço circundante. O edifício construído por Minosse, para esconder o Minotauro, é um grande interior fragmentado por corredores e percursos, que rejeita o olhar do todo, e constantemente reporta a atenção sobre o lugar em que se está.

Minotauro no labirinto, pintura da Catedral de Chartres, século XV
Reprodução

Mas, se as tramas construídas pela curadoria, em um primeiro momento, nos remete à figura do Labirinto, a verticalidade de Babel explicitada na obra de Auriti, que se contrapõe à extrema horizontalidade do Labirinto, permite a amplificação da tensão das duas primeiras salas das entradas,  intensificando o diálogo entre constructo mental e individualidade extrema na construção dos penteados das negras; entre natureza e artifício; entre a força da razão das instituições e aquelas obscuras e irracionais do mundo subterrâneo, retratado nas páginas de Jung.

Afinal, o fio de Ariadne reúne cruzamentos explorados e conhecidos; torna-se uma conexão de pontos nodais, como um traçado que visualiza o percurso, mas que também, assegura um retorno. Na sua desordem, nos perdemos como em uma floresta, e sua travessia, torna-se um desafio, um rito misterioso e uma experiência iniciática.

Torre de Babel, pintura de pintor holandês anônimo, século XVI
Reprodução

Vale ressaltar também que, o Labirinto não é resultado do caos, nem sinônimo de desordem, mas sim, de uma ordem superior, de um sistema complexo cujas regras subliminares, escapam do desvelamento do todo. O ciclo irrestringível da vida e a sua estabilidade eram regidas sobre essas duas realidades, sobre a sua indivisível unidade.

Assim, perder-se na desordem, aceitá-la passivamente ou procurar na confusão um sentido, uma estrutura submersa em grau de orientar a arte, eis o papel assumido por Ariadne, e talvez, seja esse o mote para pensarmos, a partir dessa bienal, o papel da arte contemporânea.

sobre o autor

Adalberto da Silva Retto Júnior é professor de Desenho Urbano e História do Urbanismo na Universidade Estadual Paulista – Unesp Bauru e Visting Schoolar do Programa Erasmus Mundus Sorbonne I (Paris, Evora, Pádua). Doutor pela USP/IUAV de Veneza e Pós Doutorado no Doutorado de Excelência do IUAV de Veneza.

comments

076.01 bienal de veneza
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

076

076.02 intercâmbio

Bogotá, uma cidade para se viver

Jéssica Rossone

076.03 visita guiada

Em Toronto com Jane Jacobs

Denise Fernandes Geribello

076.04 exposición

Difundir para valorar

Eric Valdez Olmedo

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided